Darren Parslow, Global Head, Visa Commercial Solutions (à esq.), e Mark Nelsen, Global Head of Product for Visa CMS, durante o Web Summit Lisboa 2025
Darren Parslow, Global Head, Visa Commercial Solutions (à esq.), e Mark Nelsen, Global Head of Product for Visa CMS, durante o Web Summit Lisboa 2025 (Foto: Divulgação)

Não é de hoje que a Visa dá seus passos para atuar – e ser vista pelo mercado – como uma empresa de tecnologia de serviços financeiros, e não apenas como uma bandeira de cartão de crédito. E durante o Web Summit Lisboa, a companhia anunciou dois movimentos que reforçam ainda mais esse movimento: um agente de inteligência artificial para ajudar criadores de conteúdo a gerenciarem suas finanças, e o uso de stablecoins em transferências entre empresas.

As duas iniciativas ainda estão em fase piloto, vale ressaltar. Mas a julgar pelo histórico recente da companhia, dá para acreditar que ela pode avançar.

Creators

Ano passado, aqui mesmo no Web Summit, a Visa anunciou com pompa e circunstância no palco central, que passaria a enxergar criadores de conteúdo como pequenas empresas. O movimento parece irrisório, mas no fundo, deu a ela acesso a 200 milhões de possíveis novos clientes que movimentam US$ 500 bilhões por ano. “E vai ter mais. Não se trata mais de um hobby. É um trabalho de verdade. E é o momento de olhar para os criadores”, disse Mark Nelsen, head de Commercial Money Movement Solutions da Visa, em conversa com o Startups.

Entendimento a realidade desse público – ou negócios – a Visa fechou uma parceria com a fintech americana Karat para ajudá-los em aspectos como receber e fazer pagamentos e também gerenciar contratos.

A Karat nasceu há 2014 com a proposta de ajudar criadores de conteúdo com susas necessidades financeiras. Com uma abordagem de nicho, suas análises de crédito não levam em consideração critérios tradicionais do mercado como histórico de receita. Ao invés disso, ela avalia aspectos como tamanho e engajamento da audiência.

Aproveitando esse relacionamento e o hype da IA generativa, a Vida desenvolveu um agente para dar contas das tarefas financeiras do dia a dia. “Parece um lugar óbvio para começar. Colocar um agente para fazer atividades de gestão de fluxo de caixa, pagamentos, recebimentos”, disse Mark.

De acordo com o executivo, esse foi o primeiro projeto escolhido por conta da natureza da atividade dos criadores, que costuma ser marcada por picos de receita quando chega um contrato com uma marca. Enquanto eles exploram alternativas para ter mais previsibilidade, explorando formatos como assinaturas, o agente pareceu uma boa forma de começar a ajudar.

Isso envolveu o desenvolvimento de ferramentas que garantem a seguranças das transações e não deixem os criadores intimidados de passar dados como número de cartão de crédito ou acesso à suas contas bancárias para um robô.

O piloto com a Karat ficará restrito aos EUA, onde a fintech atua. A Visa não informou um prazo para sua conclusão, mas, segundo Mark, ele pode levar à criação de um novo produto, ou não. Ele disse acreditar, no entanto, no potencial de escalar a oferta globalmente por meio de outras companhias parecidas com a Karat.

Stablecoins

A stablecoins têm começado a chamar a atenção do mercado financeiro como alternativa para movimentação de dinheiro globalmente com maior agilidade e custos menores. O que poderia parecer uma ameaça para a Visa, já que seria uma forma de encurtar caminhos e tirar o seu papel de intermediária das transações, parece não estar sendo visto como um tabu.

Tanto que a companhia decidiu iniciar um teste com a tecnologia. A ideia é que clientes que usam seu serviço Visa Direct, como o Uber, possam fazer transferências diretamente para carteiras digitais. Os repasses poderão ser feitos a partir de moeda fiduciária, enquanto os destinatários poderão receber os recursos em stablecoins lastreadas em dólares, como a USDC.   

Segundo Mark, o movimento é resultado das novas leis criadas para regular esse mercado. “As stablecoins existem há algum tempo. Mas só vinham sendo usadas, basicamente pelo Bitcoin. Mas agora, com mais clareza regulatória, podemos enxergar mais casos em que o uso das stablecoins faz muito sentido”, afirmou. Segundo ele, um desses casos é exatamente o dos criadores de conteúdo, que querem ser pagos em tempo real.

Para Mark, a adoção em massa dessa opção vai levar anos para acontecer. Mas com a regulação disponibilizada, fica mais fácil trilhar esse caminho.

Sobre os tipos de stablecoions que serão suportadas, o executivo afirmou que a Visa irá caminhar para onde o mercado pedir. “Se tivermos um cliente como a Moneygram ou a Western Union que queiram que a gente suporte algum tipo de stablecoin e haja demanda para isso, então nós vamos adotar. Vamos seguir para onde os clientes estiverem indo e fazer nossas próprias diligências para dizer, sim, faz sentido. Se eles cumprem as demandas regulatórias, se têm os controles necessários”, explicou.

Segundo ele, essa posição de rigor da Visa tem atraído a atenção dos bancos, que tradicionalmente têm evitado o assunto mas, começam a procurá-la como um avaliador de confiança desse mercado.