Agora sim. Em janeiro, a QI Tech já tinha obtido a autorização do Banco Central para operar como Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM), mas agora chegou a hora de “colocar o bloco na rua”. Com a “bênção” da CVM e da Ambima, a fintech está habilitada a administrar fundos de investimento.
Segundo a fintech, o plano é focar na infraestrutura, administrando e fazendo a custódia de fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), algo que muda o jogo para a empresa. Desde 2018, a QI Tech atende empresas e fintechs com serviços financeiros de crédito. Na sua criação, a companhia foi a primeira a ser licenciada pelo BC como Sociedade de Crédito Direto. Agora, ela é a primeira SCD que também é DTVM.
Assim como desenvolveu uma plataforma para serviços de crédito direto, a QI Tech investiu em uma tecnologia própria para operar as complexas transações que existem entre uma emissão de crédito e a compra de valores em um FIDC. Segundo Marcelo Bentivoglio, cofundador e CFO da QI, a empresa está pronta para quebrar paradigmas.
“As DVTM tradicionais ainda são dos anos 90, e pouco atualizaram as tecnologias desde então. Existe um gap que não suporta a escalabilidade e liquidez que os novos meios de crédito exigem”, explica Marcelo, em entrevista ao Startups. Segundo o executivo, a operação de DVTM da QI é automatizada, utilizando robôs no backoffice (análises, conciliações) e capaz de operar 24/7, algo que outros concorrentes, como a Vórtx, não oferecem, segundo pontua o COO.
“Hoje nós podemos ir desde o onboarding, motor de regras e antifraude até a venda do título de crédito para o FIDC, passando pela emissão da CCB ou nota comercial e pelo banking. Com mais essa etapa, conseguimos automatizar toda a operação e gerar eficiência para a cadeia”, afirma Pedro MacDowell, fundador e CEO da QI Tech, em nota.
Com a nova operação, o plano da QI Tech é chegar a cerca de R$ 10 bilhões em valores sob gestão até o fim do ano, representando um incremento substancial nos números da companhia, que como SCD movimenta cerca de R$ 600 milhões mensalmente. A empresa encerrou o ano passado com um balanço de R$ 5,8 bilhões em operações de crédito emitidas.
Alta frequência
Atualmente, a QI Tech atende cerca de 300 clientes, contando com grandes nomes como Vivo, Unidas, 99 e QuintoAndar. Segundo Marcelo, o plano com o novo produto é atender esses grandes clientes, especialmente os que exigem velocidade e prontidão para suas operações de crédito. A meta é fechar com cerca de 30 empresas utilizando os serviços da DTVM.
“Para dar um exemplo, caso um site que ofereça um produto de Buy Now Pay Later (BNPL) tenha um alto volume de transações, como 10 mil pagamentos em segundos, os sistemas atuais de DVTM não suportam. Atualmente não exstem no país fundos de alta frequência, que consigam fazer isso com escala e 24/7”, explica Marcelo.
“Hoje nós podemos ir desde o onboarding, motor de regras e antifraude até a venda do título de crédito para o FIDC, passando pela emissão da CCB ou nota comercial e pelo banking. O objetivo é que o fundo consiga funcionar 24 horas por dia, 7 dias por semana e com operações instantâneas, com todos os processos e back-office integrados e automatizados”, completa Mac Dowell.
Com a licença de DTVM, a fintech não pretende parar por aí. A companhia tem planos de oferecer a parte de infraestrutura de investimento como serviço, abrindo para escritórios de assessoria de investimentos ou fintechs lançarem produtos financeiros emitidos pela QI no formato white label. Outro plano é o de oferecer mesa-de-câmbio como serviço, atendendo fintechs, corretoras e outras empresas que desejem oferecer serviços financeiros cross-border utilizando a infra da QI Tech.
One-stop-shop
O termo já anda um tanto batido, mas acaba sendo o mais adequado para falar sobre este mais recente movimento da QI Tech. Ao se tornar uma distribuidora, a companhia praticamente completa “o cartão de bingo” quando se trata de portfólio de produtos financeiros.
Além de atuar como SCD, a fintech também oferece seus produtos de banking-as-a-service, competindo com nomes como Celcoin e Dock. Inclusive, este ano a QI fez sua segunda aquisição pensando nesta frente. Ela comprou, por um valor não divulgado, a Builders Bank, startup de desenvolvimento de aplicativos bancários.
A primeira compra da QI foi no fim de 2021, quando desembolsou um valor também não divulgado pela Zaig, startup que atua na prevenção de fraudes, onboarding e esteira cadastral. A grana para investir em M&As foi produto de uma rodada levantada pela fintech em 2021, quando recebeu R$ 270 milhões do Fundo Soberano de Cingapura (GIC).
Apesar dos gastos, Marcelo assegura que sua empresa não precisa de mais captações para continuar expandindo, mas está sempre conversando com possíveis investidores. “Havendo alguma oportunidade mais estratégica, poderia surgir uma captação”. Perguntado sobre o que seria a tal “oportunidade estratégia”, Marcelo foi categórico: “A compra da Zaig foi uma oportunidade estratégica”, finalizou.