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Quando conversou com o Finsiders no ano passado, o cofundador e CEO da Agrolend, André Glezer, contou como a evolução de Sociedade de Crédito Direto (SCD) para financeira mudaria a fintech de patamar e seria um passo importante no plano de construir o banco digital do agro. Agora, esse movimento começa a ganhar mais corpo.

Nesta quarta-feira (26), a companhia recebeu autorização do Banco Central (BC) para se tornar uma financeira — ou Sociedade de Crédito Financiamento e Investimento (SCFI), seu nome técnico. Assim, poderá levantar recursos via emissão de depósitos a prazo, incluindo captação de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), instrumentos garantidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) e isentos de imposto de renda para o investidor pessoa física.

Com a transformação em financeira, e os atuais R$ 220 milhões de capital, a Agrolend pretende emitir R$ 1 bilhão de LCAs no curto prazo, e superar também esta marca em carteira de crédito. A expectativa é que os depósitos a prazo, especialmente as LCAs, sejam distribuídas para os investidores por meio de plataformas digitais de investimento, como XP Investimentos e Itaú Unibanco, informou a fintech em nota à imprensa.

Conforme explica o cofumador e CFO da fintech, Alan Glezer, por meio de emissão de LCAs, o custo de captação cairá em aproximadamente 5 pontos percentuais ao ano, comparado ao custo de captação atual — via emissão de cotas seniores em fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs). Isso permitirá, segundo ele, atingir um retorno sobre patrimônio líquido (ROE) ao redor de 25% ao ano, mantendo-se num nível de Basileia próximo a 18% — o mínimo exigido pelo BC é 11%.

Criada em dezembro de 2020 pelos irmãos Glezer e seus sócios Valéria Bonadio, Leopoldo Vettor e Carlos Fagundes, a Agrolend atua com crédito para pequenos e médios produtores rurais, em mais de 14 Estados brasileiros. Para chegar até eles, a fintech tem acordos com agroindústrias e revendas de insumos, equipamentos e implementos agrícolas. Ao todo, são mais de 100 parceiros.

O objetivo da Agrolend é chegar uma carteira de crédito de R$ 2 bilhões na safra 2023/2024, atendendo 10 mil produtores rurais de pequeno e médio porte em todo o Brasil. No ano passado, a empresa atingiu um portfólio de aproximadamente R$ 200 milhões, um pouco abaixo da expectativa anterior de R$ 250 milhões. “Seguramos um pouco por conta do aumento do CDI”, diz André, ao Finsiders.

O “sonho grande” da agfintech é ser o primeiro banco digital do agro, com foco em pequenos e médios produtores. “Nossa cabeça é em cinco anos chegar a 100 mil clientes e cerca de R$ 10 bilhões em carteira, e se transformar numa instituição financeira multiprodutos, com crédito de longo prazo, seguros, conta corrente, cartão de crédito”, afirmou André, em entrevista ao Finsiders em 2022.

Capitalização

Dinheiro para financiar o crescimento não é um problema para a Agrolend. Em novembro do ano passado, a empresa captou R$ 145 milhões (equivalente a US$ 27 milhões, no câmbio da época) em uma rodada liderada pela Lightrock, gestora global de private equity com foco em impacto — que já investiu em fintechs como Creditas e Dock. O aporte ocorreu cerca de 11 meses depois do cheque anterior.

No captable, a fintech conta ainda com investidores como Yara Growth Ventures (o VC da Yara, empresa de nutrição vegetal), Valor CapitalContinental Grain CompanySP VenturesProvence Capital, entre outros nomes.

Mercado

Se o agro é tech e pop, naturalmente o apetite de fintechs pelo setor vem crescendo. A relação de players que oferecem serviços financeiros, especialmente crédito, para produtores rurais inclui nomes como TraiveTerraMagnaA de AgroBart DigitalNagro, entre outras.

Segundo dados do Ministério da Agricultura, tem crescido a demanda por recursos não controlados para as operações de crédito rural. O destaque são justamente as LCAs, que equivalem a 24% de todos os financiamentos. Entre fevereiro do ano passado e fevereiro de 2023, o estoque desses papéis aumentou 80%, chegando a R$ 362,76 bilhões, de acordo com dados da B3.

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