Em fevereiro do ano passado, a empresa de tecnologia financeira Evertec anunciou a compra da fintech brasileira paySmart por R$ 130 milhões. Foi o primeiro sinal do apetite da companhia porto-riquenha pelo mercado brazuca. Cinco meses depois, a empresa listada na Bolsa de Nova York (Nyse) voltou às compras por aqui ao divulgar a aquisição da Sinqia por cerca de R$ 2,5 bilhões — o negócio foi concluído no início de novembro.
Num momento de extrema competição na arena de infraestrutura tecnológica em serviços financeiros na América Latina, a Evertec — que vale hoje US$ 2,6 bilhões — não deve desligar tão cedo a máquina de fusões e aquisições (M&A). “A Sinqia não será a última empresa que a Evertec comprará. Vamos seguir adquirindo negócios que façam sentido para o crescimento da companhia”, afirma Daniel Oliveira, diretor de pagamentos da Evertec Brasil, em entrevista ao Finsiders.
Assim como a Sinqia, que comprou 24 empresas entre 2005 e 2023, a Evertec tem um histórico de crescimento inorgânico desde o IPO, em 2013. Foi por meio dessas aquisições que a companhia expandiu sua presença para além do Caribe. “A empresa se tornou uma multinacional latinoamericana”, diz o executivo. Atualmente, a Evertec opera em 26 países na região, tem escritórios em 10 — dois deles no Brasil — e processa aproximadamente seis bilhões de transações por ano.
Multicanalidade
Com a combinação dos negócios entre Evertec e Sinqia, e as oportunidades de cross-sell (venda cruzada) do portfólio de ambas as companhias, o executivo enxerga uma oferta “poderosa” de produtos e serviços, principalmente no mundo de pagamentos. “Tudo é difícil de ter, mas dá para dizer que temos quase tudo que um banco ou fintech precisa para operar com pagamentos”, avalia Oliveira.
De acordo com ele, a Evertec está neste momento desenvolvendo uma nova vertical de pagamentos, fruto da união entre os portfólios das duas empresas. “A missão é tentar resolver tudo o que um emissor precisa para poder oferecer pagamentos no século 21. E não falo só de cartões, mas também de Pix e Drex [a versão digital do real]”, aponta. “Precisamos oferecer uma espécie de multicanalidade em que o emissor — ou seja, o banco e a fintech — possa disponibilizar diversos meios de pagamento para seus clientes.”
Com soluções de software para instituições financeiras em seis unidades de negócio — bancos, fundos, previdência, consórcios, digital e serviços —, a Sinqia soma mais de 900 clientes. Já a Evertec Brasil atende cerca de 100. “É difícil categorizar um perfil só de cliente. O que temos visto é que conseguimos oferecer pagamento para diferentes empresas, incluindo emissores, adquirentes, bancos, entre outros.”
Pagamentos ‘transparentes’
O executivo lembra que, no Brasil, a companhia também controla a instituição de pagamento (IP) Issuer, autorizada a operar pelo Banco Central (BC) em julho de 2023. “Fazemos o trabalho de tecnologia, plugando-se no Pix, nas bandeiras, mas também cuidamos de todo o processo de KYC [sigla em inglês para conheça seu cliente], PLD/FT [sigla para prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento de terrorismo]. E conseguimos entregar tudo isso como serviço, via APIs.”
Sem revelar novidades sobre os próximos passos da Evertec no Brasil, Oliveira diz que o foco principal é crescimento, aproveitando a combinação de ofertas entre as plataformas, inclusive entre os países. Ou seja, não apenas a companhia poderá trazer suas soluções para o mercado brasileiro, como também há espaço para “exportar” alguns dos produtos locais para outras nações latinas. “Por exemplo, temos uma plataforma de pagamentos para emissores que agora estamos rodando em outros três países além do Brasil.”
Na visão do executivo, a evolução da tecnologia e dos hábitos do consumidor ditam um aumento da conveniência no dia a dia. Nesse sentido, os pagamentos “transparentes” são uma tendência que veio para ficar, diz Oliveira. “O próprio pagamento por aproximação passou por um período de aculturamento, e hoje sabemos quão seguros eles são, com biometria, íris e outros meios de validação da identidade do usuário.”
Competição
Nos mercados de tecnologia financeira e infraestrutura de pagamentos, a Evertec enfrenta um rol amplo de concorrentes. Com mais de 100 clientes em seis mercados na América Latina, a Pomelo, por exemplo, acaba de receber US$ 40 milhões e prevê dobrar o negócio em 2024.
Também em janeiro, a Visa concluiu a compra da brasileira Pismo por US$ 1 bilhão, num negócio que marca uma “nova era para serviços bancários e de pagamentos”, como as próprias empresas definiriam na ocasião.