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O sistema financeiro brasileiro passou por diversas disrupções nos últimos anos, impulsionadas em grande parte pelo surgimento das fintechs. Mas o avanço tecnológico nem sempre é acompanhado imediatamente pelas atualizações regulatórias. Para Diego Perez, presidente da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), o excesso de regras no Brasil muitas vezes impede a inovação

Em palestra realizada no Hacktown 2024 – evento que acontece até domingo em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais –, Diego fala sobre o futuro do segmento financeiro no Brasil, com o Open Finance, o Pix e o Drex, e afirma que, apesar dos obstáculos, o cenário é positivo para as fintechs.

“Há diversos projetos que encontram dificuldades para avançar por conta da regulação. O Banco Central e a CVM lançaram sandboxes regulatórios, que permitem que os empreendedores selecionem algumas normas que precisam ser dispensadas. Mas as startups fora desses programas não conseguem desenvolver suas soluções”, explica o presidente da ABFintechs.

Segundo ele, existem formas de solicitar ao BC e à CVM a liberação de normas, e em alguns casos é possível fazer ajustes. No entanto, o processo pode ser longo, podendo levar anos. Para ajudar nesse processo, a associação possui comitês temáticos, que atuam junto aos órgãos regulatórios para fazer a ponte com as empresas.

“Costumamos ter mais vitórias do que derrotas com os reguladores, mas os bancões muitas vezes fazem uma pressão reversa”, lamenta Diego.

Ainda assim, o representante do setor acredita que o Brasil está muito à frente de outros países na modernização do sistema regulatório para fintechs. Ele cita Reino Unido e Singapura como exemplos de países que estão avançados no Open Finance, mas afirma que o Brasil se destaca nos pagamentos instantâneos, por exemplo.

“Os Estados Unidos têm uma complexidade muito grande, principalmente por ter leis específicas para cada estado. Então as fintechs precisam de autorização em cada estado e, se quiserem atuar nacionalmente, o processo é bastante burocrático. Para fazer transferência bancária, levava dias. Eles agora têm um sistema novo, que foi inspirado no Pix. Então o Brasil está na frente dos Estados Unidos em muitas questões”, avalia Diego.

Para o presidente da ABFintechs, o mercado brasileiro está longe da saturação. No início do ano, o Bank of America havia divulgado relatório apontando que os neobancos atendem hoje a aproximadamente 80% da população brasileira, e que a indústria vinha dando sinais de que poderia estar chegando ao seu limite de crescimento.

Contudo, Diego aponta que, apesar de 80% da população usar algum serviço de fintechs, a maior parte dos serviços utilizados ainda é de bancos tradicionais. Ou seja, há espaço para crescer.

“Estamos saindo de um momento de pouco investimento por parte do venture capital, em que muitas fintechs ficaram fragilizadas. Mas o pior já passou e estamos em fase de retomada. Existe um movimento de consolidação natural do mercado, mas os bancos tradicionais ainda oferecem 80% dos serviços. Há oportunidades para novos players e para fintechs que conseguiram passar por esse momento de dificuldades e agora chegam mais fortes”, diz.

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