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Durante a cobertura do Startup20, em Macapá, ao conversar com diversos empresários do ecossistema local, foi possível ver como é desafiador criar tecnologia em uma região com menor visibilidade do que centros mais conhecidos e desenvolvidos do país. Entretanto, para a Tributei, atrair investimentos e se tornar uma companhia de calibre nacional foram apenas uma parte do desafio.

Nascida da necessidade de um seus fundadores, o CEO Waldir Souza Júnior, a empresa começou com uma planilha que calculava de forma automatizada tributos como ICMS em cada transação comercial – um desafio que Waldir enfrentava quando era contador em uma empresa em Macapá. Entretanto, ao conhecer seus outros sócios – o COO Jefferson Pinto, o CTO Wanderson Elias, mais o desenvolvedor Fábio Junior – a planilha se tornou algo mais, e hoje a Tributei é uma plataforma onde empresas e contadores podem fazer a jornada completa do tributo, do cálculo ao recolhimento e pagamento.

Entretanto, como já falamos no começo, desenvolver uma tecnologia capaz de atender as dores tributárias do clientes foi apenas o começo do desafio da Tributei. Além da dificuldade geográfica em acessar outros mercados, a empresa enfrentou limitações tecnológicas que muitas startups de outras regiões não enfrentam.

De acordo com o COO Jefferson Pinto, em seu início, a empresa fez o possível para compensar as limitações de infraestrutura – tais como falhas de abastecimento elétrico e instabilidade de internet. Waldir, o CEO, chegou a se mudar para São Paulo com o objetivo de ganhar visibilidade e melhorar o relacionamento da empresa com clientes e investidores em potencial.

Inclusive, um momento que colocou a resiliência da empresa a teste foi o grande apagão que o Amapá sofreu em novembro de 2020 e deixou o estado no escuro por cerca de três semanas. O blecaute atingiu a Tributei bem no momento em que tinha recebido o seu primeiro aporte privado, após ser selecionada pela Ventiur – foi o primeiro aporte da aceleradora gaúcha em uma startup das regiões Norte/Nordeste.

“A gente veio de um mês onde a gente tinha batido recorde de vendas. A gente falou ‘agora em novembro a gente vai bombar’, e aí veio o apagão”, relembra Jefferson, em papo com o Startups.

Para encarar esse desafio, os sócios da empresa tiveram que recorrer à criatividade. “A gente ficou sem telefone, sem telefonia, a gente ficou na idade da pedra mesmo, sem se comunicar. Aí ouvimos um rumor que tinha internet em um município vizinho, e aí eu fui pra lá. Peguei a mochila, peguei o busão e fui vender”, relata Jefferson.

Jefferson Pinto, COO da Tributei (Crédito: divulgação)
Jefferson Pinto, COO da Tributei (Foto: Divulgação)

Segundo o executivo, para sobreviver ao mês do apagão, o time da Tributei virou uma equipe itinerante, migrando de bairro em bairro de Macapá para trabalhar acompanhando o racionamento de energia e internet, enquanto a situação não era normalizada. “Hoje a gente tem uma internet muito melhor e uma energia elétrica razoável, mas batalhamos muito depois disso (do apagão) para ter uma infraestrutura boa, porque senão ficaria muito difícil empreender aqui”, avalia Jefferson.

Destravando o crescimento

Transpostas as barreiras técnicas, a Tributei conquistou em 2022 uma nova rodada para escalar seu crescimento – R$ 1 milhão em um pré-seed liderado pela Bossanova, complementado pela FINEP. A partir desta injeção de capital, a companhia colocou de vez em ação sua máquina de vendas, batendo a marca do milhão em 2023 e fechando o ano com receita de R$ 1,3 milhão, um crescimento de 340% sobre o ano anterior.

Para 2024, o plano é continuar no mesmo ritmo de crescimento, com a meta de ultrapassar a marca dos R$ 3 milhões em receita, mantendo o percentual de expansão na casa dos 300%. Para isso, a empresa quer ir além dos escritórios de contabilidade e financeiros das empresas.

Com cerca de 15 milhões de cenários tributários catalogados, com diferentes produtos e alíquotas, hoje a base da Tributei é formada principalmente por negócios de pequeno e médio porte, que pagam mensalmente valores na média de R$ 400. Segundo Jefferson, o próximo passo é atender as necessidades tributárias de players menores de e-commerce, que precisam calcular os impostos de suas vendas para diferentes estados.

“Estes vendedores precisam tributar da forma certa em todos os estados, e essa é uma dor muito grande hoje do empreendedor que está vendendo online. Nossa solução “pluga” no ERP dele e na hora que ele for emitir a nota, eu já emito com o valor correto do imposto, gera a guia de recolhimento e ela é paga de forma automatizada”, explica o executivo.

Segundo o COO, as últimas vendas que a empresa fez para clientes de e-commerce já trouxeram impactos positivos, com uma média de ticket três vezes maior, o que promete ser um impulso e tanto para os ganhos da companhia, que pretende chegar ao breakeven em 2024.

Outra avenida de crescimento a empresa quer explorar muito em breve virá com a aguardada reforma tributária. “Teremos quatro, cinco anos rodando o sistema tributário atual com o novo. Imagina a dor de cabeça que vai ser para muita empresa se adaptar. Queremos ser a solução para este problema nas empresas”, pondera.

Google e give back

Mesmo sendo uma startup de software contábil, a Tributei também resolveu colocar seu lado “amazônico” no código. No ano passado, a companhia foi a primeira startup das regiões Norte e Nordeste a ser selecionada para o Google Founders Fund, fundo da gigante gringa para fomentar negócios fundados ou liderados por pessoas negras, sem contrapartida ou participação societária.

Jefferson Pinto, Waldir Junior, Fábio Junior e Wanderson Elias, sócios da Tributei. Crédito: divulgação
Jefferson Pinto, Waldir Junior, Fábio Junior e Wanderson Elias, sócios da Tributei (Foto: Divulgação)

Ao falar sobre o investimento do Google, cujo valor não é aberto, Jefferson apontou que o apoio tecnológico da multinacional também aflorou o lado de “tecnologia verde” na Tributei. Segundo o COO, a empresa começou a buscar formas de incluir aspectos do ESG em sua operação, em alinhamento com seu posicionamento como uma empresa amazônica. “A gente não queria ser só verde na camisa da empresa”, disparou o CTO Wanderson Elias.

Com isso em mente, o CTO pensou em como a Tributei poderia desenvolver seu software de forma sustentável e limpa. Eis que então entrou o Google com suas metodologias com baixa pegada de carbono. “Com o apoio do Google, a gente viu que pode desenvolver um software bom, eficiente, mas também com um impacto ambiental zero”, completa Jefferson.

Apesar de ter clientes em todo o Brasil e sua força de vendas em São Paulo, a Tributei faz questão de exaltar a sua terra natal, tanto que mantém 100% de seu time de tecnologia em Macapá. “O talento que desenvolve é macapaense. O time de crescimento está lá (em São Paulo), mas o time de produto está aqui. A gente decidiu ficar aqui justamente para também fomentar a comunidade de startups.

O “também” na fala de Jefferson faz referência a empreendedores como Lindomar Góes, um dos fundadores da Proesc, uma das mais antigas startups do estado, e membro fundador do Tucuju Valley, grupo que reúne e mobiliza startups da cena local. “Eles foram os mais incentivadores do meu sonho. E a gente decidiu ficar aqui justamente para inspirar outras pessoas a também montar negócios”, finaliza Jefferson, com um sorriso no rosto.

*Leandro Miguel Souza viajou a Macapá para o Startup20 a convite da Abstartups.

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