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Segundo maior banco digital do planeta – ou o 1º se você considerar que o Nubank já é um banco por estar listado na bolsa – o inglês Revolut iniciou oficialmente sua operação no Brasil.

A estreia acontece um pouco depois do planejado inicialmente. Em março do ano passado, Glauber Mota, ex-BTG que foi escalado para montar e tocar a operação no Brasil, tinha dito ao Startups que o lançamento aconteceria no 2º semestre. “A gente começou a fazer os testes em beta em dezembro, na Copa do Mundo, e até adiou um pouquinho o lançamento porque era um ótimo momento para ter o Web Summit e ter nossos fundadores se juntando a nós”, disse ele em entrevista ontem (2), durante o Web Summit Rio.

Segundo Glauber, não há pressa em escalar a operação porque a ideia é trabalhar com o efeito de rede para conquistar novos clientes. “Eu prefiro adiar um pouquinho e ter um negócio com qualidade, o cliente satisfeito para que ele próprio seja nosso embaixador. As máquinas de venda da Revolut são o próprio cliente e o produto. A gente investe pouco em mídia paga”, completou.

Perguntado sobre expectativa de número clientes que pretende atingir, o executivo disse que não pode abrir essa informação, e que foi autorizado apenas a dizer que estão liberando o acesso de “muitas milhares de pessoas por semana” que estavam na lista de espera desde o ano passado. “E vamos demorar a colocar todo mundo para dentro”, disse. Segundo Glauber, a lista continua aberta para cadastro.

Mar azul?

Posicionada como um superapp de serviços financeiros, a Revolut decidiu chegar no Brasil com um arsenal mais restrito e não entrar no “mar vermelho” da disputa com outros bancos digitais já estabelecidos, oferecendo serviços como conta corrente, Pix, crédito etc – sim Nubank, estou olhando pra você. A opção foi por escolher duas ofertas que têm demanda no mercado local e que, ao mesmo tempo, estão no repertório global da instituição: a conta internacional e transações com 90 criptomoedas.

Com se esses já não fossem também mercados com alguma disputa. O Itaú nem comprou a Avenue. O C6 nem tem um produto de conta global. E o Inter nem comprou um banco nos EUA e oferece opção de conta global para empresas. Em cripto, o Nubank nem lançou sua cripto própria, a NuCoin, e nem a ex-casa de Glauber, o BTG, tem sua exchange própria, a Mynt.

Segundo ele, isso tudo é verdade, mas o ponto é que as pessoas acabam tendo que usar diferentes aplicativos para fazer cada uma dessas coisas. Já a Revolut concentra tudo em um lugar só. Glauber conta que a Revolut já aplicou junto ao Banco Central para uma licença de Sociedade de Crédito Direto (SCD) e a expectativa é que ela seja concedida em breve, o que vai permitir a ampliação de seu portfólio mais adiante.  

Outra questão é o fato de os dois mercados escolhidos serem nichos, ou seja, terem potencial de crescimento mais limitado. Glauber concorda com esse ponto, mas diz que são mercados maiores do que se imagina. “Tem gente das classes C, D e E que acaba não viajando porque não consegue ter acesso a câmbio”, disse. Sobre cripto, ele destacou que o número de CPFs que declaram operar no mercado chega a 10 milhões, o dobro de pessoas que opera na B3, e uma quantidade que, provavelmente é maior, já que pode haver subnotificação.  

Operação local e resultados globais

A operação da Revolut no Brasil hoje conta com 50 pessoas, sendo 20 da área de tecnologia. Esses profissionais, aliás, fazem parte de um hub de serviços que vai atender não só as demandas locais, mas também globais da fintech. “Eles se destacaram tanto no processo de desenvolvimento da operação no Brasil que acabamos criando essa estrutura”, conta Glauber. Segundo ele, a expectativa é que a equipe cresça nos próximos meses, mas em um ritmo mais lento do que foi registrado até agora. “O crescimento tem que ser feito de forma saudável. Qualquer coisa que a gente faça tem que ter viabilidade financeira”, reforçou.

Globalmente o Revolut divulga ter 29 milhões de correntistas. Mas Glauber disse que o número já é maior que esse. O neobanco é avaliado em US$ 33 bilhões. O número é referente à última rodada captada pela companhia, em meados de 2021, o que tem levado muita gente a questionar se, frente ao “inverno de VC”, ele não poderia ser bem menor.

No começo de março, o neobanco publicou, depois de muita promessa e adiamentos, o seu balanço de 2021. Os números foram bastante positivos: receita de US$ 766,9 milhões, 3 vezes mais que o registrado no ano anterior, com lucro de US$ 31 milhões, revertendo um prejuízo de US$ 270 milhões um ano antes. Mas um comentário da firma de auditoria BDO chamou a atenção. A mensagem era que não era possível verificar cerca de três quartos da receita reportada. De acordo com Glauber, o que aconteceu foi uma questão de contabilidade, de classificação de receitas, e que tudo isso já está sendo tratado. “A receita que está ali é essa mesmo”, argumentou.

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