“Tinha muita fintech que valia bilhões faturando R$ 2 mil. Isso acabou. Agora, precisa dar lucro”. A declaração é do CEO e cofundador da Trademaster, Francisco Pereira (foto), que antes de montar a fintech de crédito B2B foi executivo de grandes indústrias. Para ele, houve um “boom” de fintechs sem ‘unit economics’ e apenas de olho nos múltiplos de receita. “Agora voltamos ao mundo real”, diz ele, em entrevista recente ao site Finsiders.
A própria Trademaster embarcou no “mundo real” recentemente. De acordo com o executivo, a fintech começou a dar lucro neste segundo semestre. “Passamos da etapa de ‘cash burn’, conforme planejado”. Com mais de R$ 25 bilhões em volume de transações desde o início do negócio, em 2015, a empresa espera encerrar 2023 com cerca de R$ 10 bilhões transacionados, aumento de 15% em relação a 2022. Para o ano que vem, a intenção é crescer 45%, projeta o CEO.
A expectativa se baseia, principalmente, na entrada dos novos contratos fechados pela empresa neste segundo semestre e que estão em fase de integração e ‘rollout’. “É um plano ousado, mas factível. Nada do que já não tenhamos feito antes”, afirma. Ao longo de 2023, a Trademaster passou a se posicionar como uma plataforma white-label de soluções financeiras para as indústrias.
Próximos passos
O executivo conta, ainda, que a fintech está ganhando espaço nos pequenos varejos pelo Brasil. “São comércios que dependem do prazo da indústria e não têm acesso a crédito em banco”, explica Francisco. Além dos estabelecimentos de bens de consumo massivo que já atendia, por exemplo, varejo alimentar e material de construção, a Trademaster tem avançado em novos segmentos, como autopeças e óleo e gás.
Atualmente, a plataforma soma mais de 1 milhão de varejistas cadastrados. Há cerca de três anos, esse número não chegava a 300 mil. Por sua vez, hoje a carteira passa de 130 clientes conveniados, o que inclui grandes indústrias e distribuidores — três anos atrás, eram mais de 60. “Fazemos cerca de 270 mil operações mensais na plataforma”, conta o CEO.
A evolução da Trademaster passa por montar um ‘Lego’ de soluções para as indústrias, com produtos e serviços cada vez mais embutidos na plataforma que essas empresas utilizam para se relacionar com seus clientes varejistas. Assim, a ideia é firmar acordos de parceria para agregar novas soluções, sem necessariamente ter de desenvolver tudo dentro de casa. “Por exemplo, quem tem o melhor produto de financiamento com lastro imobiliário que possamos plugar em nossa plataforma”, cita Francisco.
Sobre planos de internacionalização, o CEO diz que a fintech tem demanda dos clientes para levar a solução para outros países. Porém, esse projeto deve ficar para 2025 e será realizado por meio de parcerias. “Ainda tem muita coisa para fazer no Brasil. Não devemos fazer nada de internacionalização no ano que vem”, crava o executivo.
Ventos a favor
Depois de um ano de inflação e juros altos, combinado com uma boa dose de incertezas e mau humor do mercado de crédito privado após o caso Americanas, o CEO da Trademaster está otimista para 2024. “Vejo um cenário mais positivo para o ano que vem, principalmente a partir do segundo semestre”, diz o executivo.
Além do quadro macroeconômico possivelmente mais benigno no ano que vem, as novas regulações de FIDCs pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e de duplicatas escriturais pelo Banco Central (BC) também estão no radar da fintech. No primeiro caso, Francisco enxerga um caminho para “novas captações”, acessando investidores pessoas físicas, que antes não podiam investir em FIDCs. “Estamos estudando esse tipo de captação”, revela.
Já em relação às duplicatas, o executivo vê como oportunidade de alavancar ainda mais o seu negócio. “Estamos falando de um mercado de trilhões de contas a receber que não passa pelos bancos. Com mais informações que estarão disponíveis e usando nossa tecnologia, dá para turbinar os prazos e limites de crédito”, diz.
Com os bancos Sofisa e BV como acionistas, a Trademaster fez sua última captação de equity em fevereiro de 2021, quando levantou R$ 100 milhões com o BV, cedendo uma participação minoritária à instituição. O CEO da fintech garante que a empresa está capitalizada e não precisa de recursos. “Não estou preocupado com captação”, diz ele.
Do ponto de vista de funding para as operações de crédito, a Trademaster conta com um FIDC estruturado pelo BV e, no ano passado, recebeu um investimento de R$ 250 milhões do IFC, braço financeiro do Banco Mundial, para o seu FIDC Tradepay, gerido pela Solis Investimentos. “Os dois fundos estão super bem, com apetite para captar mais”, afirma o CEO.