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Com aporte do Google, Rockhead quer continuar expansão

Selecionado pelo Indie Games Fund da big tech, estúdio de games gaúcho recebeu investimento de R$ 1 milhão

Rockhead
Rockhead. Foto: divulgação

Para diversos estúdios desenvolvedores de games no Brasil, chamar a atenção dos fundos de venture capital não é um trabalho fácil. Entretanto, algumas iniciativas estão abrindo caminhos para estes produtores. É o caso da portoalegrense Rockhead, que acabou de captar R$ 1 milhão com o Google.

O investimento é parte do Indie Games Fund, iniciativa da big tech para fomentar estúdios na América Latina e promover o seu ecossistema de jogos para Android por meio do serviço de assinatura Google Play Pass. O fundo, que alocou US$ 2 milhões, selecionou 10 startups em toda a América Latina, com cheques de US$ 200 mil (cerca de R$ 1 milhão) para cada.

“É um super modelo de ganha-ganha, em que eles reforçam seu catálogo de games, e nós ganhamos uma maior exposição na plataforma do Google, uma receita recorrente vinda dos downloads e transações dentro do serviço. Tudo isso reverte em investimento para produzirmos mais conteúdo”, pontua Christian Lykawka (na foto, ao centro), fundador e CEO da Rockhead, em conversa com o Startups.

O estúdio já existe desde 2010, resultado da segunda empreitada de Christian no ramo – antes disso ele tinha criado nos anos 90 a Southlogic, estúdio que ao longo de sua existência trabalhou para publishers a nível global e foi comprado pela Ubisoft em 2009.

Nascida e desenvolvida na incubadora tecnológica do Tecnopuc, na capital gaúcha, a Rockhead viveu seus primeiros anos como muitos estúdios de games tem sobrevivido no país, misturando a produção de games sob encomenda para marcas e empresas com sua produção autoral.

A Aquiris, outro estúdio portoalegrense, também atuou assim por diversos anos, até despontar com seu game Horizon Chase até ser comprada pela gigante internacional Epic Games – publisher do fenômeno Fortnite.

Para a Rockhead, entretanto, o divisor de águas para o negócio foi lançamento do game mobile Starlit Adventures em 2015, que ganhou milhares de fãs e virou uma propriedade intelectual (IP) que foi além do jogo original.

A IP se rentabilizou em outros produtos, tanto como outros jogos dentro do mesmo universo (o mais recente foi o game Starlit Kart Racing), lançamentos e outras plataformas e consoles, e até mesmo episódios de animação para TV.

“O valor (investido pelo Google) está sendo direcionado para produzir conteúdo que vai desde melhorias nos games já lançados até a criação do Starlit Adventures 2, que é o sucessor do original, completando um ciclo de 10 anos do início da série”, conta o CEO.

Conquistando investimentos

Apesar de ter passado boa parte de sua trajetória no bootsrapping, o aporte do Google não é o primeiro recebido pela Rockhead. Em 2017 o fundo Primatec comprou uma participação na desenvolvedora gaúcha.

Segundo Christian, o investimento não apenas serviu para impulsionar o desenvolvimento de jogos, mas também contribuiu para amadurecer a estratégia de monetização dos produtos da companhia, levando a IP Starlit Adventures para outros meios.

“Inclusive, essa tesse de diversificação foi o que nos tornou mais atraente para os VCs, já que só ser um desenvolvedor de jogos eletrônicos ainda é visto como um investimento de alto risco para os investidores brasileiros” dispara o CEO.

Inclusive, segundo o executivo, tanto a rodada com o Google quanto o amadurecimento do modelo de negócios da Rockhead estão permitindo ao estúdio olhar para possíveis oportunidades de investimento no exterior, um mercado bem mais maduro quando se fala em venture capital para jogos eletrônicos.

Contudo, olhando para os dados, o caso da Rockhead, ou de outros estúdios como a Aquiris ainda são uma exceções no cenário geral do desenvolvimento de games no Brasil – os chamados estúdios indie. Apesar do país ser Top 5 quando o assunto é mercado consumidor de jogos, na parte de desenvolvimento o dinheiro ainda falta.

Segundo dados da Abragames divulgados no começo do ano, existem 1.042 estúdios de desenvolvimento de games ativos no país, que tiveram um faturamento estimado de US$ 252,6 milhões em 2022. Entretanto, além de desenvolver seus próprios jogos, 51% dos estúdios brasileiros prestam serviços para terceiros para se manter de pé.

Apesar da evolução, a principal fonte de recursos destas empresas vem dos fundadores, família ou amigos, representando uma fatia de 46%. Depois disso, 16% dos investimentos vem de publishers de fora, 8% partem de investidores anjo e apenas 5% são de VCs.