A demanda por soluções de deep tech tem crescido, mas para fundadores brasileiros, encontrar investidores no país ainda é um desafio. Durante um painel realizado durante a Gramado Summit, em Punta del Este, empreendedores contam que o capital brasileiro ainda é “impaciente demais” para investimentos de mais longo prazo e com maior risco.
Frederico Andrade, CEO da Índigo Hive, uma startup de inteligência artificial para empresas, afirma que o venture capital brasileiro costuma favorecer as startups de Software as a Service (SaaS), que são uma “receita de bolo” que oferece retornos mais rápidos e facilmente escaláveis.
“Com a deep tech o buraco é mais embaixo. Existe um nível de risco maior e um tempo de maturação que é absurdo. O Brasil não tem um capital tão paciente, são poucos os que estão dispostos a entrar nisso, ainda mais considerando o Risco-Brasil. Os investidores ainda buscam tecnologias um pouco mais vanilla, como fintechs, que inclusive são algo que a gente faz muito bem. Mas pode ser que a IA mude isso, porque ela permite criar produtos num prazo mais curto que podem oferecer retornos mais rapidamente”, explica o fundador.
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Para Renata Lima, CEO na Queen Co., que produz tecidos de cânhamo (uma variação da cannabis), a “pressa do investidor atrapalha projetos de médio e longo prazos”.
Além da falta de investimentos, ela diz encontrar no Brasil obstáculos regulatórios para o seu negócio, já que o cultivo de cânhamo não é regulamentado no país.
“O Uruguai se torna um país onde a legislação já existe há tempos, e onde temos a chance de começar um trabalho com essa planta, fazendo um beneficiamento do tecido até que se tenha uma fibra de qualidade na América do Sul. Não estamos falando de cannabis recreativa e medicinal, mas de agronegócio, de abastecer uma indústria têxtil que é muito forte no Brasil”, ressalta Renata.
Outro entrave para o desenvolvimento de deep tech no Brasil é o abismo entre as universidades e o mercado. Antônio Carlos de Francisco, CEO da Muush e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, diz que embora haja muita pesquisa sendo feita dentro dos Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), boa parte dessa produção não é levada para a sociedade. A Muush produz um material similar ao couro animal, mas feito à base de micélio, a parte vegetativa do fungo.
“Por ter ficado 30 anos numa universidade, e ainda estar, vejo que universidades brasileiras ainda têm alguns ranços, algumas limitações de entender que aquilo que é feito lá tem que ir até o mercado. Senão não é inovação. Não resolve a universidade dizer que fez tantos depósitos de patentes. Quantas licenciou? Quantas chegaram ao mercado? Mas ninguém dá o primeiro passo na direção ao outro”, aponta.