A startup Guia da Alma vive um momento chave para tornar-se referência no mercado de benefícios corporativos de saúde mental. Depois de alcançar mais de 200 companhias e 25 mil pessoas com sua plataforma, a empresa planeja atingir o breakeven em 2024, com a meta de dobrar o faturamento e fechar uma rodada seed no próximo semestre.
Criada em 2016 inicialmente como um blog sobre terapia holística, a healthtech funciona hoje como um benefício corporativo para ajudar pessoas e empresas a cuidar da saúde mental a partir de terapias e conteúdos explicativos. Com concorrentes como Vittude, Zenklub e Starbem, a Guia da Alma encontrou algumas formas de se destacar no mercado – a começar pelo estilo de vida dos fundadores.
O casal de empreendedores Rodrigo Roncaglio e Liana Chiaradia trabalha no modelo remoto desde 2018, quando decidiram focar 100% em fazer a Guia da Alma crescer. Desde 2023, eles vivem como nômades digitais, passando por mais de 30 cidades do Brasil – por enquanto. Essa entrevista foi feita no Rio de Janeiro, pouco depois do Web Summit.
Mas trabalhar de forma remota não quer dizer estar isolada. “Temos um time remoto e uma forte comunicação online entre a equipe para que essa dinâmica funcione. E quando fazemos algo presencialmente é sempre com intencionalidade para que as coisas fluam”, explica Liana. Os empreendedores têm uma forte participação em eventos de tecnologia e inovação para se aproximar de potenciais parceiros, clientes e investidores, aproveitando as viagens para não só ter o estilo de vida pessoal que desejam, mas também para estar em contato próximo com os diferentes ecossistemas espalhados por todo o Brasil.
“O nomadismo nos permite ter um estilo de vida bem legal. No trabalho, o nosso dia a dia não muda muito. Seguimos fazendo as reuniões e tocando a empresa remotamente. Mas faz muita diferença na nossa flexibilidade de acessar os ecossistemas. Recentemente, ficamos seis meses no interior de São Paulo, indo para a capital para participar dos eventos e depois conhecendo os ecossistemas ao redor, passando pelas cidades vizinhas, fazendo trilha e ecoturismo. É um ótimo equilíbrio”, avalia Rodrigo.
De startup, para startup
Em termos de modelo de negócio, um importante diferencial da Guia da Alma é o olhar direcionado para startups e empresas menores, como agências. “Muitas vezes, os benefícios de saúde mental disponíveis no mercado são voltados para enterprise, pouco acessíveis para startups. Nós criamos uma plataforma pensando nisso e nos posicionamos como uma startup para startup”, destaca Liana. Entre os clientes, estão a 49 educação, Biud Tech e Motiva Benefícios, além das agências Orbit e Conexorama.
E o ecossistema como um todo precisa disso, incluindo as equipes e a própria liderança. A pesquisa “Saúde e Performance de Pessoas Empreendedoras”, realizada pela Endeavor, BID Lab, ANDE e Flourish Ventures, revela que 94,1% dos empreendedores brasileiros já viveram pelo menos uma condição adversa com sua saúde mental ao longo de suas jornadas, e 91,5% conhecem outro que também enfrentou desafios neste processo.
“Saúde mental é um tema que se abriu bastante nas empresas nos últimos anos, mas ainda há vários estigmas nesse meio, principalmente entre startups. É importante perceber que saúde mental não é simplesmente algo legal; é necessário. É um ambiente muito dinâmico e acelerado, e as pessoas acabam banalizando os efeitos disso. É algo que afeta a produtividade, a motivação, a rotatividade dos times e até a integridade dos profissionais”, alerta Liana.
Nesse contexto, a missão do Guia da Alma é ajudar tanto as pessoas a estarem mais saudáveis quanto as empresas que querem oferecer benefícios acessíveis que contribuam para o bem-estar dos colaboradores. Além da terapia tradicional, a plataforma reúne um conjunto de terapias complementares como yoga, meditação, Reiki e PNL (Programação Neurolinguística). “É um conjunto de terapias complementares que as pessoas não costumam ter acesso em planos de saúde ou outras plataformas – esse sempre foi o nosso diferencial”, diz Rodrigo.
A plataforma utiliza técnicas de gamificação para engajar os colaboradores e incentivá-los a usufruir das terapias oferecidas. Na prática, quanto mais o usuário faz terapia no Guia da Alma, mais ganha pontos para trocar por um número maior de benefícios e sessões gratuitas. “Enquanto muitos benefícios de bem-estar do mercado têm até 20% de adesão, nós registramos entre 60% e 70%. Isso é fundamental, porque o benefício é para ser usado. Não adianta a empresa pagar e ninguém utilizar – tem que fazer a diferença”, defende o empreendedor.
Reunindo investidores
Em 2023, o Guia da Alma cresceu 51% em comparação com o faturamento de 2022. Sem abrir números específicos, os empreendedores afirmam que a meta para 2024 é dobrar o faturamento do último ano. “A prioridade é estruturar a operação, crescer e vender muito. Queremos mostrar que o nosso trabalho é muito bom, com alta adesão e entregas diferenciadas que fazem com que as pessoas estejam bem e, consequentemente, as empresas também”, afirma Rodrigo.
O objetivo é crescer de forma sustentável, alcançando o almejado break even e tornando a empresa rentável até o fim do ano. No segundo semestre, a startup deve abrir uma nova rodada de investimentos, no estágio seed, para acelerar os planos de expansão entre startups de todo o Brasil.
A empresa já captou R$ 1,4 milhão desde a sua fundação, sendo R$ 740 mil recebidos no acumulado de 2023 com investimentos de diferentes atores como o Inova Startups, programa feito em parceria entre Bossa Invest, Sebrae Santa Catarina e Raja Ventures, braço de investimentos do hub de inovação Raja Valley. Depois do programa, investidores-anjo que já tinham investido na Guia da Alma entraram com um follow-on. A startup já tinha sido investida pela Poli Angels e Anjos do Brasil em 2021.