A Munai, startup brasileira que mistura características de healthtech e deeptech, acabou de conquistar apoiadores de peso para sua mais recente inovação. A empresa foi uma das selecionadas para o programa de aceleração da Fundação Bill & Melinda Gates, entidade dedicada ao fomento de startups de impacto social e científico.
Pela iniciativa da fundação, a healthtech receberá um investimento de US$ 85 mil, que servirá para o desenvolvimento e validação da aplicação, uma assistente virtual que irá automatizar protocolos hospitalares, funcionando como uma ferramenta de suporte à decisão clínica, auxiliando médicos e prescritores no uso racional de antibióticos.
A base para esta ferramenta está na utilização de modelos de linguagem (LLM) como o ChatGPT, tirando a conscientização das melhores práticas dos manuais para uma interface conversacional via bots. “Nosso objetivo é transformar o PDF de protocolo que está numa gaveta, em uma conversa com insights para os profissionais de saúde”, explica Hugo Morales, médico infectologista e fundador da Munai, em entrevista ao Startups.
Segundo o médico, a solução chamou a atenção da Fundação Bill e Melinda Gates justamente por abordar de forma inovadora temas que preocupam a comunidade médica, como a resistência antimicrobiana (AMR), o uso desnecessário de antibióticos e a falta de adesão ao Programa de Gestão de Antimicrobianos (ASPs) devido à complexidade desses protocolos.
No Brasil, a AMR é um problema cada vez mais grave. Em 2020, uma análise realizada pela revista The Lancet mostrou que cerca de 23% das infecções no país são causadas por bactérias resistentes a antibióticos. Além disso, um estudo publicado no Journal of Global Antimicrobial Resistance, em 2021, estimou que infecções multirresistentes a medicamentos causaram cerca de 7,7 mil mortes em hospitais brasileiros no ano de 2017, com um custo estimado de US$ 72 milhões apenas para estadias hospitalares adicionais.
Em sua primeira fase, com o investimento dos Gates, a empresa vai aprimorar sua plataforma utilizando a última versão do ChatGPT, o GPT-4, mas está nos planos da Munai desenvolver futuramente o seu próprio modelo de IA para a solução. “Basicamente o que a gente vai fazer agora é focar a equipe nesta primeira versão, depois a gente tem a oportunidade de seguir para uma segunda fase, com um segundo investimento da fundação para ter uma escala maior, inclusive global”, explica Cristian Rocha, o outro fundador da Munai.
Cruzando dados e linguagem
No mercado desde 2019, antes de criar a solução que chamou a atenção da Fundação Bill & Melinda Gates, a Munai conquistou o seu espaço através de soluções de big data voltadas à identificação de pacientes de alto risco, com foco em conectar pacientes ao atendimento mais adequado.
Com esta solução, a companhia levou no fim de 2020 um aporte seed de R$ 10 milhões com participação do fundo norte-americano IA Capital, e hoje conta com cerca de 40 clientes entre instituições médicas como o Hospital das Clínicas e operadoras de planos de saúde, somando mais de 15 milhões de atendimentos.
“Nos firmamos com uma solução mais preditiva, e agora focamos na outra ponta disso, a comunicação e atendimento humanizado”, afirma Hugo, adiantando que o plano para o futuro é o de unir essas duas soluções, cruzando informações dos pacientes com a prescrição de melhores práticas na hora do tratamento, via modelos de linguagem.
Para impulsionar estes planos, a empresa já está de olho em novas rodadas de investimento, começando com uma extensão do seed de 2020, e mirando uma série A no fim de 2024 ou começo de 2025. “Estamos no caminho para o breakeven nos próximos meses, e estamos preparando o terreno para estar o mais atrativo possível para os fundos quando chegar a hora da captação. Estamos otimistas”, finaliza Cristian.