Startup antinegacionista abre rodada para bombar vacinação corporativa

Muitas empresas tem como parte de seu programa de RH campanhas de vacinação para a saúde de seus funcionários. Contudo, organizar e monitorar os resultados de tais campanhas nem sempre é um trabalho fácil. É de olho nesse desafio que a Vacinas.net acabou conquistando clientes de peso, e agora abriu uma nova rodada de captação, focada em ampliar sua presença no mercado nacional.

A rodada foi aberta via crowdfunding na plataforma da Captable, e a meta da healthtech é levantar R$ 1 milhão, dinheiro que será investido na continuidade do desenvolvimento de sua plataforma, aprimorar seu time comercial e dar um novo salto de crescimento, conforme destacou em entrevista ao Startups o fundador e CEO da Vacinas.net, Marcos Tendler.

De acordo com página com informações da rodada, 60% do recurso será destinado para tecnologia e operações. O comercial receberá 25% do aporte e o restante irá para ações de marketing.

Segundo o executivo, o objetivo da startup é utilizar tecnologia para eliminar a complexidade na hora que uma companhia quer vacinar seus funcionários. Ele explica que o mercado privado de vacinação no Brasil é muito grande, estimado em R$ 1,8 bilhão, mas ainda é bastante pulverizado, espalhado em milhares de clínicas de vacinação e farmácias, e falta centralizar estes serviços para aprimorar a experiência dentro das corporações.

“Uma empresa que quer vacinar seus colaboradores precisa combinar com clínicas específicas, ou como é mais comum, escolhe um dia para levar um profissional de saúde no local para fazer a vacinação. Não são modelos eficazes de garantir a adesão dos colaboradores e monitorar resultados, e muito menos entregam escala”, explica o CEO.

Marcos conta que, dentro da solução da Vacinas.net, os clientes tem acesso a uma rede de mais de 450 clínicas homologadas, conseguindo organizar e gerenciar campanhas de vacinação de forma descentralizada. Com essa proposta, a empresa chamou a atenção de grandes companhias, como Bayer, Arcos Dorados (controladora do McDonald’s), PicPay e Boticário.

Falando de Boticário, este cliente foi o maior case da Vacinas.net até o momento, aplicando cerca de 4 mil doses contra o HPV, e o projeto será ampliado este ano. “Foi considerado o maior caso de vacinação privada que não é para a gripe”, revela Marcos.

Além disso, a healthtech cuida da conexão dos fabricantes de vacinas com os postos de vacinação envolvidos em cada campanha, atuando também na redução nos custos por dose aplicada. Isso chamou a atenção da Prevent Senior, que começou a usar a plataforma da Vacinas.net para monitorar o andamento de suas campanhas junto a segurados e mensurar resultados.

Cases de sucesso

Lançada em 2019, a healthtech começou a deslanchar em 2022, quando cresceu mais de 10 vezes em relação ao ano anterior, faturando cerca de R$ 7,3 milhões, e aplicando cerca de 27 mil vacinas.

Em 2023, Marcos admite que o crescimento não foi tão acentuado, com o faturamento ficando em R$ 5,7 milhões, mas o ano foi importante para estabelecer projetos de grande porte, como foi o caso do Boticário. Em termos de doses aplicadas, a empresa manteve o crescimento, saltando para 33 mil, e aumentando o número de campanhas corporativas de 71 em 2022 para 96 no ano passado.

Para 2024, a partir da nova captação, a expectativa da Vacinas.net é dar outro salto em seus resultados, passando dos R$ 14 milhões em faturamento, uma meta que, segundo Marcos, não está tão longe de ser batida: a companhia já começou o ano com contratos de peso no pipeline, incluindo um projeto de vacinação contra a Hérpes Zoster a ser conduzida junto a funcionários do Grupo Natura em todo o país.

A empresa não tem pressa de acelerar seu crescimento, mesmo com os bons prospectos e grande potencial no mercado de vacinação privada e corporativa no país. Além da captação aberta na plataforma de crowdfunding, a companhia tem como investidores a Anjos do Brasil, Criabiz e DOMO Invest, e está focada em chegar ao breakeven até o próximo ano, mantendo uma estrutura enxuta para garantir o runway até lá.

“Temos um churn baixo, focamos na satisfação do cliente, e estamos colhendo bons resultados nas campanhas. Com nosso modelo, conseguimos quase que dobrar a adesão nas empresas em relação ao modelo tradicional de campanha vacinal. Teve empresa que saltou de 35% de cobertura para mais de 60%”, revela o CEO.

Antinegacionismo

Apesar de ser uma plataforma de gestão e acompanhamento das campanhas corporativas de vacinação, outro foco bastante importante na solução da Vacinas.net, é o de engajamento. Segundo Marcos, para obter os percentuais de adesão vistos nos clientes, a tecnologia não fica apenas no operacional.

A empresa também possui um CRM dentro de sua plataforma, que integrado às comunicações corporativas das empresas clientes, auxilia na divulgação e esclarecimento dos colaboradores, algo que impacta nos resultados, segundo explica o CEO da healthtech.

“Somos sim uma startup anti-negacionista no sentido que existe um tripé fundamental para a vacinação ocorrer: vacina, serviço e informação de qualidade. Você pode ter o serviço, a informação e não ter vacina, daí se corre atrás de ter o produto. Agora, se você tem o produto disponível, tem o serviço disponível, mas não se tem informação de qualidade a respeito das vacinas, nada acontece. A base do negacionismo antivacina é exatamente a difusão de informação falsa. A gente atua muito forte para disponibilizar aos nossos clientes o serviço, essa informação segura e poder se vacinar”, pondera.

Apesar de ser uma healthtech, não chega a ser uma suposição tão distante pensar que a Vacinas.net também tem um toque de HRTech, já que ela assume um trabalho que muitas empresas atribuem aos seus times de recursos humanos, que é o de comunicar e engajar colaboradores sobre ações de bem-estar, como é o caso da vacinação. “Olha aí, não tinha pensado sobre esse lado de HRTech, vou incluir isso no nosso pitch de vendas”, finaliza Marcos, com bom humor.