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Venâncio Aires é uma pequena cidade a cerca de 130 quilômetros de Porto Alegre, mais conhecida regionalmente por ser a “Terra do Chimarrão” – tanto que até tem uma festa anual dedicada à tradicional bebida gaúcha. Entretanto, nos últimos dois anos, esta pacata cidade de pouco mais de 70 mil habitantes entrou no radar de investidores internacionais, e uma startup de lá começou a fazer barulho, inclusive rivalizando com unicórnios do mercado nacional.

A CAF nasceu como Combate à Fraude e, apesar de já ter escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro e executivos nos Estados Unidos, seu quartel-general e boa parte de sua força de trabalho estão em Venâncio Aires.

Entretanto, apesar da vibe longe das metrópoles, o que essa idtech vem fazendo que a colocou na linha de frente em um ramo altamente tecnológico no país – o de identidade digital, inclusive atraindo clientes como Magalu, Vivo, Localiza, KTO, entre outros? Segundo Leonardo Rebitte, cofundador da empresa, a estratégia vencedora reside em um conceito bem comum às cidades interioranas: o de comunidade.

“Sabemos que nossa tecnologia é boa, mas algo que tem sido um diferencial tem a ver com a cultura que trazemos conosco, de estar próximo dos clientes e de colocar as pessoas como principal ativo”, explica Leonardo, em entrevista ao Startups. Segundo ele, isso foi o que fez a empresa chamar a atenção de grandes clientes ainda em seus primeiros dias de operação, comendo pelas beiradas em um mercado onde outras startups como a unicórnio unico e a “quase-unicórnio” idwall estavam conquistando mercado e fazendo mais barulho.

Antes da CAF, o carioca Leonardo já tinha uma reputação no ecossistema no centro do país. Ele foi um dos fundadores da Mutual, empresa da qual ele saiu em 2019 para se dedicar à CAF. Aliás, a CAF nasceu como uma subsidiária da Mutual, fruto de uma parceria entre Leonardo e o outro cofundador, o venâncio-airense Rafael Viana, que já tinha montado um time de tecnologia em sua cidade natal, e viu na união de forças com Leonardo a oportunidade de montar um negócio promissor.

“Nos conhecemos pela internet, eu já tinha tinha um time de desenvolvimento desde o tempo da faculdade e assim começamos – construindo um time, e a partir disso se fez a empresa. Daí começamos a expansão por aqui mesmo, com mão de obra qualificada, a valores mais acessíveis do que em grandes centros, sem tanta concorrência por talentos como é por lá”, avalia Rafael.

Para quem não sabe, Venâncio Aires está situada em um polo educacional no interior gaúcho, próximo a Santa Cruz do Sul, uma cidade com universidades e institutos federais de educação, uma fonte qualificada de mão de obra para a idtech. Por exemplo, a maioria do time de produto da CAF é baseado no Rio Grande do Sul.

“Hoje temos mais de 260 funcionários, em diversas partes do mundo, mas um dos motivos que encontramos para manter a companhia em Venâncio tem a ver com ajudar também a cidade. Tem universidades e institutos na região. A ideia não foi manter só porque Rafael vive lá, mas também para contribuir com a comunidade. Hoje somos a maior startup na região e nos orgulhamos de fazer a diferença para muitas pessoas”, pontua Leonardo.

“Para vagas mais júnior, aproveitamos para buscar [pessoas] em Venâncio Aires, formando talentos. Já profissionais mais sênior, olhamos para mercados como São Paulo e Rio. É uma combinação que dá certo”, completa Rafael.

Os gringos estão chegando

Apesar da CAF já ter conquistado algum espaço em seu começo de operação enquanto Combate à Fraude, a partir de suas soluções de validação de identidade e onboarding digital, foi com a chegada de investidores internacionais que ela se tornou CAF e começou a chamar mais atenção no cenário nacional das idtechs.

A chegada dos “gringos” ocorreu em 2022, quando a CAF recebeu um investimento de R$ 80 milhões assinado pelos canadenses Darryl Green, André Edelbrock e Trevor Clarke, que cofundaram em 2005 a Ethoca, empresa que depois foi comprada pela Mastercard. Pelo aporte e a expertise dos executivos, Leonardo convidou Darryl para assumir a presidência da idtech.

“O produto que Leo e Rafa criaram, já chegou ao mercado resolvendo uma necessidade de muitos clientes, de empresas grandes, e rapidamente atraiu empresas de renome, e Daryl rapidamente viu que não se tratava de uma empresa de apelo regional”, explica Jason Howard, atual CEO da companhia.

O canadense ficou na liderança da empresa até meados do ano passado, quando o norte-americano Jason, também ex-Ethoca, foi promovido de CRO à liderança do negócio. Nesse meio tempo, porém, a companhia investiu pesado na construção de um quadro de executivos com gabarito internacional.

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Jason Howard, CEO da CAF (Foto: Divulgação)

Os nomes são vários: a ex-Visa Vanita Pandey ocupa a cadeira de CMO; Emma Lindley (também ex-Visa) entrou para impulsionar a expansão internacional; Vinay Chandran foi contratado como CFO no ano passado, trazendo sua experiência em marcas como Movile e Monashees. O brasileiro José Oliveira, ex Nubank, também se juntou ao time em 2023 para desempenhar a função de CTO.

Segundo Leonardo, a injeção de capital externo e a entrada de executivos tarimbados foi um impulso e tanto para virar olhares para o trabalho que a CAF vinha fazendo, o que foi intensificado com o foco da companhia em construir comunidade. Em março passado, a companhia promoveu em São Paulo um evento sobre identidade digital para apresentar a marca a diversos players do mercado, e a resposta foi mais do que positiva.

“Em março, fizemos um evento chamado Identity Day, que não era somente sobre a CAF, mas sobre desafios do mercado como um todo sobre identidade digital. Tivemos desde representantes de setores financeiros, varejo, companhias aéreas, até clubes de futebol participando e trocando informações. Foi a primeira vez que vi uma comunidade tão grande se reunindo em torno deste assunto, e nos ajudou a ver como isso faz a diferença. Não foi um evento de ‘vamos vender a CAF‘ e sim, vamos construir comunidade”, afirma Jason.

Segundo ele, a estratégia tem funcionado muito bem. Apesar de não abrir números, a empresa afirma que aumentou sua receita e base de clientes em 220% em 2023, e quer manter um ritmo de crescimento de 80% em 2024, com alguns novos planos na manga.

O que vem por aí?

Para o ano novo, Jason afirma que o plano da CAF é continuar com o dedo no pulso no mercado brasileiro, de olho em rivais como idwall e unico, que também estão movimentando suas estratégias para subir a competitividade. “A competição está muito mais acirrada, nossos concorrentes estão bem capitalizados, mas nós também estamos bem preparados”, afirma Leonardo.

Contudo, os olhos da CAF também estão no mercado internacional, e a companhia quer lançar ainda este ano suas primeiras ofertas em mercados estratégicos como os Estados Unidos e alguns países da União Europeia. Segundo Jason, estar bem posicionado no Brasil é uma vantagem nesta investida.

“O Brasil é um dos mercado mais dinâmicos quando se trata de prevenção de fraudes. Quando combinamos esse cenário favorável e pessoas motivadas a trabalhar em um contexto global, temos uma mistura vencedora, e é isso que vemos na CAF“, destaca.

Quanto a potenciais avenidas de crescimento no exterior, Jason afirma que muitas companhias globais de e-commerce e outros setores de varejo estão de olho no Brasil, e o plano é se posicionar para atender estes potenciais clientes quando eles resolverem de fato entrar. “Um exemplo são os de grandes sites norte-americanos e europeus de apostas esportivas, que estão mirando o Brasil com uma possível regulamentação por aqui.

Perguntado sobre a possibilidade de novas rodadas, Jason afirma que a CAF está bem capitalizada no momento, em uma posição privilegiada para impulsionar os planos de crescimento previstos para 2024. “Mas vamos ver onde o futuro nos leva”, finaliza.

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