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Eduardo Henrique é um nome bastante conhecido no ecossistema de inovação. Cofundador e ex-CEO da Movile, dona de grandes empresas como iFood, Sympla e Zoop, o executivo teve papel fundamental nas iniciativas de expansão da companhia, liderando a operação da holding nos Estados Unidos e comandando os negócios da startup Wavy até a venda para a companhia sueca Sinch. Mas além dos unicórnios, exits e cases de sucesso, o que Eduardo quer agora é criar uma “máquina de fazer o bem”.

Nascido em Campinas, no interior paulista, ele viu desde pequeno a importância de ajudar o próximo e gerar um impacto positivo na vida das pessoas. Filho de uma mãe professora e um pai médico, estudou em um colégio católico da região até ingressar na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) para o curso de Ciência da Computação, em 1995. Inclusive, foi na graduação que conheceu Fabrício Bloisi, CEO do iFood. “Venho de família católica, classe média alta privilegiada, e sempre tivemos valores mais solidários. Fazia algumas ações como visitar orfanatos, distribuir cestas básicas e doar brinquedos – mas hoje vejo que eram coisas mais superficiais”, conta Eduardo, em conversa com o Startups.

No fim de 2022, decidiu tirar um período sabático para repensar a vida e recuperar as energias após mais de duas décadas trabalhando em empresas de tecnologia. Foi quando liberou a agenda de reuniões e viagens corporativas e pôde treinar para uma maratona, fazer aulas de saxofone e percorrer o Caminho de Santiago de Compostela – um percurso a pé de mais de 700 km ao longo de 28 dias que se tornou, segundo Eduardo, uma grande jornada de autodescoberta. “Foi duro, mas maravilhoso”, relembra. “Voltei para casa com duas certezas: queria fazer o give-back para empreendedores e um outro para uma causa social”.

Definidos os próximos passos, não demorou muito para que ele colocasse um novo projeto em prática. Em meados de 2023, Eduardo lançou a Empower Business School, iniciativa de cursos e mentorias para profissionais que buscam crescimento na carreira e querem chegar a uma posição de liderança em um mercado cada vez mais global e competitivo. Criada em parceria com Marcela Martins (Movile, Sinch e Ambev) e Calex Guimarães (WeTrek, 1992 Design & Co. e OneBlinc, a proposta é oferecer um novo formato de escola, liderado por profissionais de sucesso que aprenderam na prática as nuances do mercado e podem compartilhar vivências e conhecimentos. Dito e feito, o give-back para empreendedores.

Empower Business School
Calex Guimarães, Marcela Martins e Eduardo Henrique, sócios da Empower Business School
(Foto: Divulgação)

O diferencial da Empower é a mentoria individualizada. Os empreendedores têm acesso direto a ele e outros executivos experientes, que compartilham seus aprendizados para auxiliá-los a expandir os negócios. “A ideia é que eu, com cuidado e um nível altíssimo de qualidade, agregue na vida do empresário que quer crescer o projeto, aumentar o faturamento e elevar o valor da empresa”, pontua. A Empower está prestes a iniciar a terceira turma de mentorados, que participarão de 12 aulas sobre assuntos-chave como branding, planejamento estratégico, inovação, cultura ambidestra, liderança, times de alta performance, negociação, como montar uma vida balanceada e a importância de férias, exercícios e bem-estar. 

O mais interessante dessa história é o que está por trás do negócio em si. “O objetivo não é fazer um IPO ou expandir desenfreadamente. Decidi criar uma máquina de fazer o bem e, quanto mais a Empower crescer, mais conseguirei ajudar as pessoas”, afirma Eduardo. O sucesso da companhia é o pontapé para que ele apoie não só outros empreendedores, mas também causas sociais e humanitárias a nível global. 

“Vou doar metade de tudo o que ganhar com a Empower para a Fundação Karimu“, revela. Criada em 2008 com a missão de combater a pobreza no mundo, a organização sem fins lucrativos desenvolve soluções em comunidade para solucionar os problemas das pessoas mais pobres, com o apoio de voluntários – educadores, empresários, profissionais liberais, entre outros – dedicados a criar oportunidades que ajudem grupos em situação de vulnerabilidade social a terem uma vida melhor.

Rumo à Tanzânia

Em suaíli, uma das línguas oficiais da Tanzânia, a palavra “karimu” significa “generoso” e “acolhedor” – um adjetivo que descreve bem o povo das vilas Ayalagaya e Arri. “Foi lá que entendi pela primeira vez na vida o que significa gratidão e a esperança de uma vida melhor. Fui à Tanzânia para ajudar a comunidade local, mas foi ela que me ajudou. Me apaixonei pela metodologia da Karimu e voltei para o Brasil completamente encantado, pois o que ela faz não é caridade, é uma parceria com a região, entendendo o que ela precisa e engajando a comunidade para participar dessa mudança”, conta Eduardo.

A proposta da instituição envolve um contrato de tripartite entre a Karimu, a comunidade e o governo local. “Uma das coisas que precisa ser feita é, por exemplo, reformar os banheiros. A Karimu fornece os materiais e os engenheiros, mas a comunidade ajuda no trabalho e precisa fazer a manutenção, e o governo tem que fornecer professores para as escolas. Ou seja, a Karimu tem um papel relevante, porém todos precisam estar comprometidos com a sua parte – e ninguém abre mão, pois o benefício é enorme para todos os envolvidos”, explica.

A aproximação de Eduardo com a Karimu foi intermediada por Nelson Mattos, ex-executivo do Google, da Unico e IBM, e atual diretor de operações da Fundação Karimu, cargo que ocupa de forma pro bono desde 2017. “Nelson virou meu mentor desde que nos conhecemos no Vale do Silício. Ele me contou sobre a Karimu e passei a doar para a organização até que fui para a África ajudar na prática no trabalho que está sendo feito”. Eduardo visitou a Tanzânia pela primeira vez em julho do ano passado, em uma missão humanitária de três semanas na vila de Ayalagaya, com cerca de 15 mil habitantes. 

“Muitas instituições fazem serviços de caridade como oferecer uma cesta básica, um prato de comida ou cobertores no inverno. E isso é extremamente importante. No entanto, não tira a pessoa da situação de vulnerabilidade, apenas ameniza o problema. A metodologia da Karimu chamou a minha atenção por endereçar a raiz do problema a partir do trabalho em comunidade”, avalia o empreendedor. “Meu papel é ajudar a escalar a Karimu, aumentar o awareness e a presença da ONG nas redes sociais, além de atrair mais doações e voluntários para aumentar o impacto da organização.”

Às vésperas dessa entrevista, Eduardo já estava com as malas prontas para retornar à Tanzânia e participar de sua segunda missão humanitária, agora para passar duas semanas na vila de Arri, de 25 mil habitantes. O desafio inicial foi solucionar a questão da distribuição de água e, a partir disso, criou-se um efeito cascata, desencadeando em uma série de transformações para os moradores locais.

“A região já tinha água nas montanhas, mas sem distribuição. As crianças precisavam caminhar seis horas por dia com um balde para buscar água limpa. Levamos os canos e, com a ajuda da comunidade, montamos 200 pontos pela vila, deixando um ponto de água limpa a apenas 500 metros das casas. As crianças, que antes não conseguiam estudar pois passavam o dia em busca da água, passaram a ter tempo para ir à escola, e houve uma diminuição de doenças pelo maior acesso à água potável. Arrumamos os banheiros e a cozinha do colégio e, assim, a escola tornou-se o ponto de esperança daquela comunidade”, pontua Eduardo.

Impacto no Brasil

As missões humanitárias na Tanzânia são o início de um trabalho de longa data que Eduardo assumiu para expandir o impacto para outras regiões do mundo – inclusive o Brasil. Para isso, ele coloca em prática uma estratégia adquirida ao longo dos anos que passou liderando empresas de tecnologia. 

“Quando estava na Movile, fui para o Vale do Silício aprender com os melhores do mundo e criamos a Playkids a partir disso. Depois, fomos para a China aprender com os melhores do fundo no mercado food delivery, e fizemos do iFood o líder do setor na América Latina. Agora, minha ideia é aprender com os melhores do mundo a como gerar impacto social, participando das missões da Karimu na Tanzânia com o Nelson [Mattos] por mais alguns anos, aprendendo com eles para depois fazer coisas ainda maiores”, pontua.

Por enquanto, a Karimu está focada em ampliar os projetos na Tanzânia, embora já atue em outros países africanos como a Uganda, onde estabeleceu um programa de empreendedorismo e um projeto de acesso a serviços financeiros, com a criação de grupos locais para a comunidade poupar dinheiro e realizar microempréstimos entre si. No futuro, Eduardo espera levar a metodologia da Karimu para o Brasil, já citando o Vale do Jequitinhonha (Minas Gerais), além de seguir a expansão pela África e América Central.

“Quero atuar onde há muita pobreza, mudando a infraestrutura local para gerar um grande impacto. E quero fazer isso com a metodologia da Karimu, pois ela engaja a comunidade e faz com que as pessoas valorizem ainda mais o que está sendo feito”, afirma. Parte disso será possível com o crescimento da Empower Business School, que deve chegar a R$ 5 milhões de faturamento em 2025, acompanhado do aumento das doações para a Karimu com a influência e o trabalho de Nelson, Eduardo e outros executivos que já se uniram à causa.

“Meu objetivo é mostrar que propósito não é só uma onda bonita. Mostrar que repriorizar o seu tempo e tomar ações concretas pode mudar o rumo da sua vida e a de muitas outras pessoas. Desejo que essa minha aventura se torne inspiração, porque ao fazer o give-back você recebe muito mais do que está dando. O aprendizado e a gratidão que vem ao mudar a trajetória dessas comunidades é algo impagável”, finaliza Eduardo.

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