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O Brasil atualmente recicla pouco mais de 3% de seus resíduos eletrônicos – e é de olho neste potencial não aproveitado que a Recicli quer crescer. Com tecnologias proprietárias para o reaproveitamento destes materiais, a empresa tem metas ambiciosas de crescimento, mirando em um futuro não muito distante um potencial de receita de R$ 750 milhões por ano.

Fundada em 2017, a empresa nasceu da vontade de seu CEO e cofundador, Flávio Pietrobon, em colocar em prática algumas de suas patentes desenvolvidas no âmbito acadêmico. Pesquisador de longa data, Flávio já tinha desenvolvido diversos projetos na área de reciclagem, mas viu que na academia seria difícil escalar suas ideias.

“Montar a Recicli foi a saída para fazer essas patentes saírem da prateleira, para se tornarem soluções efetivas a serviço da sociedade”, pontua Flávio, em conversa com o Startups.

Baseada em patentes próprias, a empresa utiliza processos como o de biolixeviação, trabalhando com microorganismos da natureza para processar metais nobres (ouro, prata, níquel, paládio, manganês, cobalto, ferro, magnésio e lítio) dos resíduos industriais, para na sequência, vendê-los para que sejam reutilizados no início da cadeia produtiva.

O processo produtivo da startup inclui a separação e o refino de metais nobres com um alto grau de pureza. De uma tonelada de equipamentos eletrônicos a empresa quer recuperar cerca de 50 quilos de metais nobres, o que gera um valor total superior a R$ 116 mil por tonelada.

Para o futuro, a meta da empresa é ambiciosa, dobrando a sua capacidade produtiva a cada dois anos, com o objetivo final de chegar a 4,5 mil toneladas processadas por ano, um potencial de faturamento de R$ 750 milhões anuais.

“Crescemos 273% no ano passado, e para 2024 nossa expectativa é de crescer 254%, batendo R$ 1 milhão em receita. Até 2031, estimamos uma receita potencial acima dos R$ 2 bilhões”, pontua Flávio.

Segundo Paulo Pietrobon, diretor de projetos na Recicli, a meta é totalmente factível, dada a deficiência atual do mercado em reutilizar essa matéria prima. “Em uma única planta de uma de nossos clientes, existem 10 milhões de toneladas de resíduo siderúrgico a ser tratado, algo que pode render cerca de R$ 6 bilhões. Esse cliente tem 34 plantas em todo o mundo”, dispara.

Hora de captar

A Recicli operou bootstrapped até o ano passado, quando fez a sua primeira captação, um investimento-anjo de valor não revelado. Entretanto, segundo ele, o aporte decisivo para o crescimento da companhia está em andamento. A companhia abriu uma captação via crowfunding na Captable, com um alvo de R$ 1,25 milhão.

Segundo Flávio, o aporte mais modesto é um passo inicial para credibilizar mais a Recicli no mercado e abrir o caminho para negociar rodadas mais parrudas no futuro. Aliás, a companhia já abriu conversas com fundos para uma potencial série A em 2025. “Estamos em negociação com quatro VCs interessados, todos eles com investimentos na casa dos R$ 25 milhões”, revela o CEO.

Flávio Pietrobon, fundador e CEO da Recicli (Foto: divulgação)
Flávio Pietrobon, fundador e CEO da Recicli (Foto: Divulgação)

Segundo o executivo, estes aportes serão fundamentais para a expansão operacional do negócio. A empresa quer abrir inicialmente três centrais de pré-processamento nas cidades de Belo Horizonte, Salvador e Aracaju.

“Agora, estamos em uma fase de implantação de novas tecnologias e processos para aumentar a produtividade da operação em uma nova linha de produção, além do aumento do espaço de armazenamento para dar conta de grandes volumes de carga. O objetivo é que a nova estrutura esteja pronta em dois meses”, destaca Flávio.

Com a capacidade produtiva ampliada, a empresa espera construir em cima dos projetos já conduzidos com grandes empresas nacionais e internacionais, de setores como o siderúrgico, de energia e automobilístico. Um dos nomes divulgados pela Recicli é o da Stellantis, com a qual a startup iniciou um projeto de reaproveitamento de baterias para carros elétricos. Com a inovação, a empresa chegou a receber no ano passado o Stellantis Venture Awards, premiação global da montadora.

“Temos tecnologias que competem com players de nível global. Agora estamos em um momento para investir e dar sustentação às nosas equipes, gerando mais capacidade operacional interna, o que nos habilita a negociar contratos de tickets até 20 vezes maiores”, explica Paulo Pietrobon.

Cada solução, uma startup

Apesar de já ter uma solução potencialmente rentável a partir da reciclagem e manufatura reversa de metais, a Recicli não pretende parar por aí. Aproveitando o portfólio de patentes desenvolvido pelos fundadores ao longo de seus anos na academia, a empresa tem outros planos.

Para cuidar da parte da logística reversa, a empresa criou uma nova startup, a REEETurn, para centralizar essa operação. Com o objetivo de localizar e coletar os resíduos eletrônicos em grandes quantidades, a startup desenvolveu uma plataforma digital para facilitar a identificação, a coleta e a logística desses resíduos.

“A REEEturn nasceu para estruturar a cadeia de suprimento desses resíduos eletrônicos, que a gente estava tendo dificuldade de fazer chegar em nossa operação. Com essa plataforma digital de logística reversa, pessoas físicas e jurídicas poderão se conectar e destinar resíduos eletrônicos a um dos centros de pré-processamento que também integram a operação da nova startup”, afirma Flávio.

Segundo o CEO, a REEturn já está liberando a primeira versão para o mercado, para iOS e Android, e vai liberar a plataforma na modalidade SaaS, o que se mostrou a versão mais comercialmente viável para a companhia.

Outras duas startups – a Decarb, de soluções de descarbonização de emissões para indústrias e a Muvi, de geração de energia limpa a partir de correntes naturais de água, também são outras startups que a Recicli está tirando do papel.

“São soluções que ainda estão em um nível anterior de maturidade em relação à Recicli, mas por exemplo, a Muvi já tem parceria com a Ocyan (ex-Odebrecht) para ser uma opção de geração de energia renovável para plataformas no oceano. Estamos tocando um plano com um cliente internacional para a Decarb, e o ticket base é R$ 3 milhões”, pontua Paulo.

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