Inteligência artificial, yoga, agronegócio e povos indígenas podem ter mais em comum do que você imagina. O conceito de inovação holística e “à brasileira” é o que esteve por trás da programação do Hacktown, evento realizado na cidade de Santa Rita do Sapucaí, no interior de Minas Gerais, e que encerrou neste domingo a sua oitava edição.
Com ares de South by Southwest (SXSW), o Hacktown mistura tecnologia, cultura e conversas sobre o futuro em espaços espalhados por toda a cidade de pouco mais de 43 mil habitantes. Durante os quatro dias de evento, que teve mais de 15 mil inscritos, Santa Rita ganha movimento nas ruas, além de feiras gastronômicas e shows.
A atmosfera lembra a de Austin, e a cidade possui até mesmo um bar em estilo texano, mas para João Rubens, Head de Parcerias e co-fundador do festival, a ideia não é ser uma versão tupiniquim do evento gringo.
“A galera faz muito essa comparação com o SXSW, e eu acho que a gente tem mesmo essa inspiração. Mas o interessante é que nós somos três sócios, e dos três apenas um já foi ao SXSW. Temos nossa própria maneira de construir as coisas. Nossas inspirações são eventos, mas também viagens, conversas, tudo. É muito legal importar as coisas dos Estados Unidos e Europa, mas se a gente não traz isso para a realidade brasileira, não faz sentido”, explica.
Ao observar a programação, chama a atenção a diversidade dos temas, que vão desde “O Papel dos Fandoms na Popularização do K-pop no Brasil”, até “Criptografia Pós-Quântica”, passando por marketing, branding, segurança cibernética, indústria do café, inovação aberta, robótica, startups.
Em um primeiro momento, parece disperso demais. Até que você anda pelos corredores e observa os diálogos que resultam de discussões como essas. Inclusive, um dos diferenciais do Hacktown é que, ao invés de palcos, os painéis e palestras são realizados, em sua maioria, em salas de aula.
Os dois principais espaços do evento são os prédios da Escola Técnica de Eletrônica (ETE) e do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), responsáveis por transformar a cidade em um polo tecnológico. Mas também houve escolhas menos óbvias para palestras, como o Bar e Restaurante do Dimas II e o Bar do Tio João.
“Em um palco, você tem monólogos. Esses outros espaços abrem para discussões muito mais participativas e poderosas. E quando juntamos esses elementos com uma curadoria transversal, você cria uma discussão muito mais forte. Porque você fala de IA numa perspectiva da ciência, do antropólogo, da tecnologia, e o debate fica muito mais saudável para o futuro. Isso resulta numa inovação mais holística, à brasileira mesmo”, diz João.
Criado em 2016, o Hacktown tem crescido a cada ano e atraído marcas parceiras, como 3M, Banco do Brasil, BEES, Cemig, Claro, Garagem, Unilever, Globo, Nestlé e Zé Delivery. Para João, porém, a atração de empresas é muitas vezes um desafio e faz parte do objetivo de também levar mais visibilidade para o desenvolvimento tecnológico que existe em Santa Rita.
“O Hacktown é uma construção. É um evento que fica fora do eixo. Muitas marcas estão acostumadas a fazer algo mais padrão, dentro de um universo mais conhecido. E convidá-las a fazer uma ativação em Santa Rita do Sapucaí é sempre um desafio, porque não está em uma área de conforto para elas. Santa Rita é muito tecnológica, mas acaba não sendo muito publicitária”, afirma.
Para o próximo ano, além de mais marcas, os organizadores também querem atrair mais investidores, o que foi uma demanda das startups participantes. Mais do que viabilizar negócios, a ideia do evento é antecipar tendências por meio da integração de participantes com perfil trendsetter, diz o co-fundador.
“As marcas perceberam que estar presente aqui é onde elas conseguem mostrar a liderança que têm em certos aspectos, em certas tendências. Em geral, ligadas à inovação, posicionamento de futuro, ESG, tecnologia. O Hacktown está sendo um grande parceiros das marcas para contar essas histórias novas de inovação que estão surgindo, e das preocupações novas que as empresas têm”, diz.