A Inventivos, plataforma exclusiva e completa de formação de novos empreendedores, criou uma rede formada por investidores-anjos experientes buscando negócios plurais no Brasil para investir capital financeiro, social e intelectual.
O braço de investimento já estava no radar da companhia desde a sua fundação, em 2020. No entanto, o projeto estava previsto para entre 2026 e 2030. “Seria algo mais para frente, quando tivéssemos estrutura suficiente e questões de burocracias de investimentos”, explica Monique Evelle, investidora-anjo e fundadora da Inventivos, em entrevista ao Startups.
“Já estávamos formando empreendedores de negócios incríveis, a ponto de conseguirem investimentos. A Inventivos conecta essas pessoas com outros empreendedores e o mercado, mas não fazíamos o trabalho 360º de formar, conectar e investir”, diz a empreendedora. Ela e o sócio-fundador, Lucas Santana, decidiram adiantar os planos, e anunciaram o lançamento da Inventivos Angels em abril deste ano.
A rede realiza investimentos em startups em estágio pré-seed e seed com cheques de até R$ 500 mil por empresa. A startup deve ter clientes, já faturar e apresentar margem de lucro positiva (ainda que dê prejuízo). Pelo menos 30% do time C-Level ou de fundadores deve ser formado por pessoas de grupos sub-representados. Além disso, o negócio deve ter um captable acima de 80% entre os fundadores e atuar dentro das regulamentações estatais.
Com preferência para modelos de negócio B2B e B2B2C mid-market, o foco da Inventivos Angels está em negócios que operem e atendam no Brasil. A rede já tem cerca de R$ 2 milhões em capital comprometido e deve fazer cerca de 10 investimentos em 2023. O primeiro aporte já foi realizado, mas ainda é mantido em segredo, e a rede está avançando em outras negociações.
Além de investir diretamente com os anjos da rede, a Inventivos fechou uma parceria com 3C Invest, para que captações também possam ser feitas pela plataforma de equity crowdfunding
Criando a rede
A Inventivos está em busca de investidores que entendam a importância de apoiar startups lideradas por pessoas de grupos sub-representados. “Queremos investidores que acreditam na tese e querem apoiar empreendedores plurais. Temos um grande foco no Norte e Nordeste, e buscamos pessoas que também acreditem na tese de descentralizar o dinheiro, já que a maior parte do fluxo de investimento vai para o eixo Rio-São Paulo”, explica Lucas.
Além disso, a Inventivos Angels busca investidores com expertises estratégicas no B2B e B2B2C para mentorar e acompanhar as startups com suas experiências em vendas, escala de produto, mídia e marketing enterprise, entre outros aspectos. Além de capital financeiro, a rede busca oferecer às investidas insights sobre o modelo de negócio, conexão com potenciais clientes, parceiros e novos investidores e, ainda, apoio na estruturação de novas rodadas de investimento.
“Nascemos como plataforma de formação, então estamos pautados na educação e vamos seguir acompanhando os empreendedores no processo go-to-market e product-market-fit. Mas também queremos ir além, sendo o principal canal de originação de oportunidades em diversidade para fundos de VCs. Vamos conectar as startups com grandes fundos para outras rodadas”, pontua Lucas.
O maior desafio, destacam os sócios, é convencer o mercado do potencial gerado por negócios plurais. “Não é porque olhamos para grupos sub-representados que não vai gerar retorno. Estamos falando de dinheiro. As periferias brasileiras têm um potencial enorme de consumo, a comunidade LGBTQIA+ movimenta bilhões por ano, e a população negra tem um potencial de quase R$ 2 trilhões. Estamos empoderando o ecossistema de startups plurais, mas também garantindo o retorno para os investidores e para as startups”, pontua Monique.
Mudando a realidade
Quando questionada se o inverno do venture capital está sendo ainda mais agressivo para os grupos sub-representados, Monique cita um verso da canção “Passarinhos”, de Emicida e Vanessa Da Mata: “Água em escassez, bem na nossa vez”. “Empreendedores negros no universo de startups estão se estruturando cada vez mais, e estão sim prontos para fazer uma rodada e conseguir investimento. Mas logo agora que estamos ampliando as possibilidades, o dinheiro congelou”, explica Monique.
Ela traz uma reflexão e, para isso, cita dois casos famosos no mercado. Primeiro, o da JP Morgan, que pouco depois de pagar US$ 175 milhões pela aquisição da fintech Frank, decidiu processar a fundadora da startup, alegando que ela mentiu sobre o sucesso e a escala da companhia durante a due diligence. E o da Theranos, startup fundada por Elizabeth Holmes que dizia ter desenvolvido uma tecnologia revolucionária para fazer a análise de exames de sangue. Em menos de 10 anos, a startup estava avaliada em cerca de US$ 10 bilhões, mas depois descobriu-se que a solução não passava de uma falácia.
“Essas pessoas que deram golpes no universo de startups têm pontos em comum: receberam investimentos, tinham uma rede de acesso e contatos, e contaram com o apoio da mídia para ganhar credibilidade. Já os grupos sub-representados não têm a rede ou apoio da mídia e não costumam receber o investimento. Então sim, o inverno está impactando pessoas de grupos sub-representados e os investidores estão com receio de alocar dinheiro nesse momento. Mas a questão não deveria ser o medo de não ter retorno, e sim o medo de continuar insistindo em algo que não deu certo antes. Eles concentraram o dinheiro em apenas um perfil de empreendedor, e se não potencializarmos grupos sub-representados e aumentarmos o retorno sobre o investimento, não vai ter resultado”, analisa.
Inicialmente, a Inventivos Angels estará focada em negócios e startups com atuação nacional. No entanto, já tem no radar a possibilidade de, no futuro, negociar com fundos estrangeiros, principalmente dos Estados Unidos, que querem aportar dinheiro na América Latina e em países lusófonos (que têm o português como língua oficial ou dominante).