Nascida em 2020 para a operação de centros de dados de olho no mercado de nuvem, a Scala IT está se preparando para passos mais ambiciosos, agora turbinados pelo boom da inteligência artificial. Para isso, a companhia acabou de levantar US$ 500 milhões (cerca de R$ 3 bilhões) para expandir sua infraestrutura e tocar seu plano de dominação do mercado de infraestrutura de data centers no Brasil.
O investimento é resultado de uma operação de financiamento de US$ 500 milhões com a Coatue e com o IMCO, fundo de pensão canadense e um dos maiores investidores institucionais do país. Segundo dados divulgados pelos fundos, a operação consiste em US$ 250 milhões da Coatue e US$ 250 milhões do IMCO, no modelo de preferred equity, em que as empresas passam a receber dividendos e têm preferência no equity em uma rodada futura feita pela companhia.
“Estamos entusiasmados em receber a Coatue e a IMCO e honrados pela escolha da Scala”, disse o CEO e cofundador Marcos Peigo, em comunicado. “O apoio deles é poderoso à nossa visão e à dedicação incansável da nossa equipe. Este investimento e parceria permitirão que a Scala acelere ainda mais o desenvolvimento de infraestrutura de próxima geração para apoiar a adoção contínua de tecnologias de nuvem e IA na região”, frisa.
Campeã gaúcha da IA
A operação vem no rastro de um anúncio feito pela Scala com o governo gaúcho há duas semanas. No começo de setembro, a companhia assinou um protocolo de intenções para viabilizar a construção de um ambicioso empreendimento de infraestrutura digital da América do Sul, a Scala AI City. A companhia desembarcou no Rio Grande do Sul em 2023 com um investimento de R$ 250 milhões para um data center em Porto Alegre
A tal cidade compreende um investimento inicial de cerca de R$ 3 bilhões (US$ 500 milhões) apenas na 1ª fase e, segundo a empresa, tem o propósito de posicionar o Brasil como um polo central de inteligência artificial (IA) e na transformação do Rio Grande do Sul por meio do potencial econômico da infraestrutura digital.
“Essa é a nossa resposta para a demanda de inteligência artificial. O que a IA está trazendo é maior do que uma oportunidade para a empresa, é uma oportunidade para o país. Quando olhamos para todos os aspectos em que a América Latina ficou para trás em termos de latência, falta de maturidade das aplicações, receio dos clientes de evoluir por conta do dólar e a falta de regulação, isso mudou”, afirma Marcos Peigo.
Apesar do investimento inicial já ser alto, o potencial do projeto no Rio Grande do Sul pode chegar a um total de R$ 500 bilhões quando concretizado, ocupando uma área estratégica já selecionada em Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre.
Quando finalizada, a infraestrutura será interligada ao data center já construído pela Scala em Porto Alegre. Além disso, está previsto nos planos conectar toda essa infraestrutura ao cabo submarino Malbec, que conecta São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires, abrindo oportunidades internacionais para a companhia.
“A demanda por data centers está crescendo de sete a dez vezes com o surgimento da inteligência artificial, posicionando-nos não apenas para atender o mercado local, mas também para exportar soluções de data centers, ajudando a resolver desafios globais, especialmente na América do Norte”, completou Marcos, em comunicado.
Apesar de não divulgar dados sobre seus contratos e clientes, a Scala se posiciona como um “data center dos data centers”, fornecendo o espaço e capacidade de operação para os players que oferecem serviços de cloud – e segundo afirmou Peigo no passado, são players de nível “triple A”.
Olhando para o mercado, não é difícil supor quem sejam estes players, ainda mais no limitado cenário dos hyperscalers para IA: nomes como AWS, Google, Oracle e Microsoft lideram nessa corrida por infraestrutura, justamente o tipo de empresa que pode ser (ou já é) cliente da Scala.
Fundos animados
Do ponto de vista dos fundos, o investimento na Scala destaca o potencial da infraestrutura para impulsionar a inovação impulsionada pela IA na região. “O investimento reflete nossa crença na capacidade da Scala de capturar a oportunidade de IA e impulsionar ainda mais a digitalização na região. Estamos entusiasmados em apoiar a missão da Scala de fornecer soluções de data center sustentáveis e de ponta”, disse Robert Yin, partner na Coatue.
“Aproveitando a abundante energia hidrelétrica no Brasil, a Scala se posiciona como líder da indústria em sustentabilidade no setor de datacenter. Esperamos que esse diferencial impulsione seu sucesso contínuo com hiperscaladores na região”, completou Fred Robert, managing director na IMCO.
Além dos planos voltados ao Rio Grande do Sul, a Scala também planeja expandir sua infraestrutura em São Paulo. Até 2025, ela quer investir R$ 6,2 bilhões para começar a segunda fase de expansão para seu campus Tamboré, construindo seis novos edifícios, com uma capacidade de consumo energético de 158 megawatts.
Ainda há previsão de uma terceira etapa de construção, e uma subestação de energia de 560MW já em produção para sustentá-la. Ao término de uma quarta e última fase, o Campus Tamboré deve ter 17 data centers, se tornando o maior da América Latina, com cerca de 450 MW.
Ainda falando de grana, vale lembrar que a Scala é controlada pelo fundo norte-americano DigitalBrige, uma gigante com mais de US$ 45 bilhões em ativos sob gestão e com 45 empresas de infraestrutura digital em todo o mundo.