
A Brex voltou a se associar a um antigo concorrente como parte de sua estratégia de crescimento e expansão. Depois de unir forças com a Navan no lançamento do BrexPay for Navan, que combina seu cartão corporativo com o sistema de gestão de viagens da parceira, a fintech norte-americana agora firmou uma nova parceria com a Zip, empresa de serviços financeiros digitais que oferece soluções integradas para simplificar a forma como as pessoas pagam.
Juntas, as companhias lançam o Brex for Zip, nova oferta que integra os cartões virtuais da Brex diretamente à plataforma da Zip. Segundo as empresas, a iniciativa busca otimizar os fluxos de compras e pagamentos, evitar gastos não autorizados antes que ocorram e simplificar operações globais por meio de um programa unificado de cartão corporativo.
Em entrevista ao TechCrunch, Pedro Franceschi, CEO da Brex, e Rujul Zaparde, CEO da Zip, explicaram que a parceria faz sentido porque as duas empresas somam mais de 30 mil clientes, com alguma sobreposição entre eles, o que abre espaço para sinergias e uma integração mais eficiente das soluções.
Entre os clientes que fazem parte da base das duas empresas estão nomes como Anthropic, eToro, Coinbase, BetterUp, Carta, Gong, Zapier, Wiz e NeuroLink. Com foco no fortalecimento de suas operações junto ao público corporativo, Brex e Zip apostam que a oferta conjunta pode ampliar sua presença e competitividade nesse mercado.
A Brex reconheceu que a solução desenvolvida pela Zip para o processo de aquisição estava mais madura do que aquilo que ela mesma poderia oferecer ao tentar vender diretamente para a empresa. “Quando você é uma startup, mas não tem um fluxo de trabalho de compras realmente complexo, normalmente um cartão corporativo funciona. Mas quando você entra em uma empresa mais sofisticada, algo como o Zip realmente ganha vida de uma forma diferenciada, porque você tem um processo de compras complexo”, disse o CEO da Brex.
Enquanto a Zip afirma nunca ter perdido um cliente empresarial, a autocrítica da Brex também chama atenção: a própria startup reconheceu que tentou fazer demais em pouco tempo, o que acabou gerando obstáculos em sua trajetória de crescimento. Em um painel no TechCrunch Disrupt de 2022, o cofundador Henrique Dubugras admitiu que a empresa precisava direcionar seus esforços de forma mais estratégica para atender melhor sua base de clientes.
Preparando o terreno para o IPO
Embora esteja se aliando a antigos concorrentes, a Brex parece estar no controle da nova fase do negócio. As parcerias com Zip e Navan sinalizam uma mudança de estratégia: em vez de desenvolver tudo internamente, a fintech tem apostado em integrações para reduzir custos e otimizar operações.
Esse movimento está alinhado ao esforço para conter a queima de caixa, um tema que ganhou força na empresa. Em janeiro de 2024, a Brex anunciou a demissão de 282 funcionários, cerca de 20% da equipe, como parte de uma reestruturação. A medida veio após a divulgação de que a empresa havia queimado US$ 17 milhões por mês no quarto trimestre de 2023 e buscava preservar sua margem de lucro.
Segundo Pedro Franceschi, os esforços da Brex para conter a queima de caixa já começam a mostrar resultados. No primeiro trimestre de 2024, a empresa conseguiu reduzir esse índice em cerca de 90% em comparação com o mesmo período do ano anterior. A fintech ainda não é lucrativa, mas Franceschi acredita que isso deve mudar até o fim do ano.
A abertura de capital continua nos planos da Brex, ainda que sem pressa. “Queremos ser uma empresa de capital aberto, mas vamos fazer isso quando estivermos prontos”, disse o CEO da Brex. Segundo Franceschi, além da estrutura de governança, fatores como o perfil financeiro da empresa e as condições do mercado também pesam na decisão. “Estamos mais próximos do IPO, mas ainda há outros pontos a considerar”, afirmou.
Desde sua fundação em 2017, a Brex levantou mais de US$ 1,5 bilhão em rodadas primárias e secundárias de investimento. Em seu ponto mais alto, em 2022, a empresa atingiu um valor de mercado superior a US$ 12,3 bilhões. Em fevereiro, a startup projetava alcançar uma receita líquida anual de US$ 500 milhões em 2024. Já em abril, a companhia registrou um crescimento de mais de 154% na receita realizada.
Enquanto o IPO não chega, a Brex tem apostado em parcerias estratégicas com outras empresas. Sobre a colaboração com a Navan no setor de viagens, Franceschi afirmou que a Brex percebeu que conseguia atender bem seus clientes menores, mas que precisava de apoio para melhor servir sua base corporativa. “Continuamos ouvindo a mesma coisa dos clientes: sistemas desconectados estavam deixando-os lentos”, disse ele.
Para a Brex e a Zip, a decisão de formar uma parceria resumiu-se, no fim das contas, a ouvir seus clientes. “Nos perguntamos: ‘como podemos criar uma integração tão profunda entre produtos que um mais um resulte em cinco?’ É isso que estamos trazendo ao mercado agora”, finalizou Franceschi.