Há cerca de cinco anos, a WeWork era um dos nomes que encabeçava o cenário das startups e do venture capital. O “xodozinho” do SoftBank, com um valuation de US$ 47 bilhões sob o comando de um líder carismático e visionário encarnado no fundador Adam Neumann parecia imparável em seu propósito de elevar a consciência do mundo. O melhor reflexo do que o empreendedorismo pode criar. Um ícone do capitalismo. Esse era o WeWork.
Entretanto, em 2023 a história é totalmente diferente. E chegou a um capítulo inédito. Na verdade é literalmente um capítulo, já que a companhia registrou a sua entrada no Chapter 11, o equivalente americano a um pedido de recuperação judicial aqui no Brasil.
Segundo o documento registrado pela WeWork junto à justiça federal dos EUA – e confirmado pela companhia em nota – o pedido de recuperação se refere às operações da WeWork nos Estados Unidos e Canadá.
Em nota no Instagram, a WeWork LATAM afirmou que a medida não terá impactos sobre as operações da companhia por aqui. Na América Latina, a companhia opera, desde 2021, no formato de joint venture com o SoftBank Latin America Fund, que é sócio majoritário do negócio.
“Esta decisão na afetaria os nosso membros, contratos, serviços ou o acesso aos nossos edifícios na região (LATAM). A WeWork LATAM continua emprenhada em proporcionar uma experiência excepcional, ao mesmo tempo em que continua executando o seu plano para fortalecer o seu negócio na região”, afirmou.
No pedido de recuperação, a empresa listou cerca de US$ 15 bilhões em ativos. Já em dívidas, a estimativa é de algo em torno dos US$ 18 bilhões. Isso sem contar cerca de US$ 100 milhões em contas não pagas de aluguéis de propriedades.
A empresa disse que 92% de seus credores concordaram com um plano de reestruturação que permitiria à WeWork operar durante a reorganização, às custas do fechamento de dezenas de locais na América do Norte. “Como parte do pedido de hoje, a WeWork está solicitando a capacidade de rejeitar os arrendamentos de determinados locais, que são em grande parte não operacionais e todos os membros afetados receberam aviso prévio”, disse o CEO David Tolley, em comunicado.
O Chapter 11 marca um novo ponto baixo para a WeWork, que teve um 2023 difícil. As ações da companhia caíram 99,2% desde o começo do ano, colocando o valuation da startup na casa dos US$ 44 milhões – um longo caminho desde os US$ 47 bilhões em valor de marcado que ela tinha em 2018, quando estava se preparando para seu IPO.
Em 2019, depois que a avaliação da companhia foi reduzida para US$ 7 bilhões, a WeWork demitiu milhares de trabalhadores e Adam Neumann foi removido da operação, encerrando anos de excessos na gestão dos recursos investidos, e em meio à descoberta de problemas de governança durante a sua administração. As excentricidades do fundador chegaram a virar uma série de sucesso, chamada WeCrashed, lançada pelo Apple TV+.
O tão aguradado IPO só veio em 2021, depois de 2 anos de uma reestruturação comandada por Marcelo Claure, e aconteceu por meio de uma fusão com a SPAC BowX, em que a companhia levantou US$ 1,3 bilhão a um valuation de US$ 9 bilhões. Logo em seguida, o experiente empresário do setor imobiliário Sandeep Mathrani assumiu as rédeas do negócio.
Troca de gestão
Sandeep saiu da WeWork no começo de 2023, em uma decisão que pegou muitos de surpresa e irritou os acionistas em um momento crítico para a empresa, dando mais sinais de que as coisas não andavam nada bem no negócio. Com a saída do CEO, David Tolley assumiu o cargo interinamente, até ser efetivado na função no mês passado.
Neste tempo à frente da WeWork, David teve com lidar com a queda contínua do valor da empresa, assim como resultados financeiros nada animadores. Em agosto, a WeWork disse que havia “dúvidas substanciais” sobre sua capacidade de permanecer no mercado devido às crescentes perdas financeiras e à falta de dinheiro.
A companhia se esforçou para renegociar os termos do aluguel com os proprietários, mas enfrentou uma concorrência crescente no mundo dos espaços de escritórios de curto prazo. Além disso, com muitos trabalhadores de escritório optando por trabalhar em casa, a empresa não conseguiu recuperar o equilíbrio.
Em outubro, as ações da WeWork caíram para o nível mais baixo de todos os tempos depois que a empresa admitiu que não tinha dinheiro suficiente em mãos para pagar os juros de sua dívida. Ontem as ações da companhia chegaram a subir com força e tiveram sua negociação suspensa depois que um comunicado foi divulgado informando que um fundo estava comprando a companhia. A informação foi retirada do ar pouco depois.
Entretanto, apesar do momento difícil, David Tolley não perdeu o otimismo, afirmando que o pedido junto ao governo americano pode ser um novo começo para o negócio. “Agora é a hora de impulsionarmos o futuro, abordando agressivamente nossos aluguéis e melhorando drasticamente nosso balanço patrimonial”, disse o CEO. “Definimos uma nova categoria de trabalho e estas medidas nos permitirão continuar a ser líderes globais em trabalho flexível”, finalizou em nota.