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Com quase 25 anos de operação, a GGV Capital foi um dos fundos mais conceituados do mundo quando o assunto é investimento no mercado chinês. O “foi” é proposital, já que a gestora anunciou nesta segunda (1º) que está encerrando suas atividades. Na verdade, agora a gestora dá origem a duas companhias, cada uma controlada por um dos ex-sócios da GGV.

Segundo destacou a empresa em seu site, o fundo que foi um expoente na conexão entre investidores ianques e startups asiáticas vai separar suas operações. Uma delas, controlada pelos investidores Jenny Lee e Jixun Foo, ficará em Singapura, com o nome Granite Asia. A outra se chamará Notable Capital, com sede na Bay Area e controlada pelo cofundador da GGV Hans Tung.

De acordo com um post de Hans Tung no seu perfil do X no fim de semana, a cisão na GGV Capital se deu em meio às complicações vividas pelo mercado em função das tensões geopolíticas entre os Estados Unidos e China. Segundo uma fonte ligada à GGV, terminar com a tradicional marca foi um movimento natural, já que ambas as equipes estavam operando separadamente, e sentiram que seria melhor desenvolver novas marcas para trabalhar daqui pra frente.

Há cerca de dois anos, a GGV Capital anunciou uma captação de US$ 2,5 bilhões para novos fundos, um recorde para a gestora. Desde então, os investidores dividiram esses ativos sob gestão, juntamente com o capital levantado anteriormente, de modo que a Granite Asia agora administra um total de US$ 5 bilhões, enquanto a Notable Capital detém cerca de US$ 4,2 bilhões sob gestão.

A Granite Asia deverá focar em startups de mercados como China, Japão, sul da Ásia e Australia. A lista de exits da gestora de Jixun Foo e Jenny Lee (figura constante na lista de Midas da Forbes) não é pouca coisa: foram nove IPOs nos últimos cinco anos, incluindo a fabricante de eletrônicos Xiaomi, a fabricante de carros elétricos Xpeng e a gigante de apps de carona Didi – que contra a 99 aqui no Brasil.

Já a Notable Capital deverá seguir com a tese de investimentos no mercado norte-americano e latino americano. Hans Tung, por sua vez, também tem um track record de sucesso, com aportes em nomes como Airbnb e Slack. Outros sócio que ficará na Notable é Jeff Richards, que investiu na Coinbase.

Na América Latina, um dos investimentos recentes da GGV foi na fintech mexicana Clara. Em abril do ano passado, a fintech de gestão de despesas corporativas expandiu a sua série B com um cheque de US$ 60 milhões, totalizando uma rodada de US$ 150 milhões. Na época, em entrevista ao Startups, o CEO Gerry Giacomán Colyer, afirmou que a injeção de capital tinha o objetivo de reforçar os planos de consolidação da companhia no cenário latino-americano, em especial o Brasil.

Reflexos geopolíticos

A decisão dos agora ex-GGV lembra o movimento feito pela Sequoia no ano passado, quando desvinculou seu braço de investimentos no mercado chinês para a criação de uma marca separada. O nome Sequoia ficou apenas para sua operação nos Estados Unidos, enquanto as divisões Sudeste da Ásia e Índia foram renomeadas como Peak XV Partners, e o time China passou a se chamar HongShan – mandarim para Sequoia (espertinhos).

O fato é que tensões na China estão repercutindo de forma contundente no mercado de investimentos. À medida que o cenário regulatório fica cada vez mais apertado, e questões geopolíticas também colocam mais lenha na fogueira, investidores e fundos norte-americanos estão em uma corrida para mitigar riscos e tirar seu dinheiro de startups chinesas.

Segundo apurou o Financial Times no mês passado, junto a quatro fundos de pensão nos EUA – que tem um total de US$ 4 bilhões alocados em startups chinesas – eles estão avaliando a necessidade de adiar os resgates de investimentos em fundos que tem seus prazos de 10 anos prestes a expirar.

De 2018 a 2020, fundos norte-americanos injetaram mais de US$ 33 bilhões em investimentos privados no mercado chinês, em 2022, o número caiu 60% em relação ao ano anterior, conforme informações do Crunchbase.

Para completar, recentemente o governo chinês divulgou que será mais rígido na aprovação de novas ofertas públicas em suas bolsas de Xangai e de Shenzhen, que até agora este ano levantaram US$ 3 bilhões. No ano passado, o valor foi de quase US$ 50 bilhões.

No lado dos fundos, especialmente os criados para aproveitar o crescimento do mercado chinês, o golpe também foi sentido fortemente. A taxa interna líquida de retorno do fundo Warburg Pincus China, de US$ 2,2 bilhões, que começou a operar em 2016, caiu para 7,9% em setembro do ano passado, ante 25,5% em 2021, segundo apontam documentos públicos.

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