Lá Fora

Ex-CEO da Theranos tenta se reinventar, mas ninguém está "comprando"

Enquanto luta para adiar o cumprimento de sua prisão, Liz Holmes apareceu no NY Times para tentar "limpar" sua imagem

Liz Holmes
Liz Holmes. Crédito: divulgação

Muitos de vocês já devem ter ouvido falar de Elizabeth Holmes, a fundadora e CEO da Theranos, healthtech que por muitos anos foi vista como uma das mais revolucionárias startups do mercado. E se ouviram, sabem que sua companhia “capotou”, por não passar de uma fraude que durou tempo demais. Depois de ser desmascarada e condenada pelos crimes cometidos à frente da sua empresa, ela quer reinventar a sua imagem. Só tem um probleminha: as pessoas não estão acreditando.

A nova persona de Elizabeth Holmes – ou melhor, Liz Holmes – é bem diferente da executiva séria que vestia principalmente preto, carregava no batom vermelho, gostava de manter o cabelo preso, praticamente não piscava (juro, ela não piscava!), e utilizava um tom de voz grave para falar do Edison, a máquina da Theranos que ia reinventar o modelo de exames laboratoriais.

Segundo um perfil publicado pelo New York Times, Liz Holmes agora soltou seus cabelos, fala com um tom mais realista de voz e posa como uma dedicada esposa e mãe de duas crianças, enquanto batalha na justiça para adiar o cumprimento de sua sentença de 11 anos de prisão. Foi a primeira vez em seis anos que Holmes se pronunciou.

A matéria imediatamente causou ondas nas redes sociais, onde diversas pessoas torceram o nariz para a “nova Elizabeth Holmes”, alegando que ela pode não ser autêntica assim como a persona que ela assumia quando liderava a Theranos.

Jornalistas e escritores proeminentes foram ao Twitter para criticar o Times por criar uma plataforma para a campanha de relações públicas para uma fraudadora condenada. Muitos tweets virais apontaram os crimes mais flagrantes de Holmes, dizendo que a matéria não responsabilizava Liz por seus atos, que incluíam vender exames que ela sabia ser impreciso para testar pacientes com câncer e ter relação com o suicídio do funcionário Ian Gibbons, segundo relatos de sua viúva.

Sentindo o cheiro de relações públicas e equipes jurídicas, leitores mostraram sua indignação na seção de comentários do jornal e se perguntaram por que ela estava vagando livremente: “Como ela pode continuar a abusar de seu privilégio inerente é irritante”, destacou uma leitora. Para completar, muitos leitores criticaram até a escolha de publicar este artigo.

Outros críticos apontaram para uma declaração de Liz no próprio artigo, em que ela admitiu que sua postura enquanto CEO da Theranos era algo calculado, para parecer mais forte frente a investidores. Alguns se perguntaram se a nova Liz não seria outra personalidade calculada para ganhar a simpatia do público.

Roteiro de Hollywood

A história de Elizabeth Holmes e da Theranos já virou uma lenda no cenário de startups e do Vale do Silício, tanto que virou tema de uma série de TV (The Dropout). Fundada em 2003, a Theranos atraiu investidores com a promessa de mudar o cenário de exames laboratoriais, entregando diagnósticos a partir de poucas gotas de sangue, urina ou outros fluidos.

A empresa chegou a ser avaliada em US$ 9 bilhões após receber mais de US$ 700 milhões em investimentos – com direito a investidores de alto calibre como Rupert Murdoch e a família controladora da Walmart – e Holmes se tornou a bilionária mais jovem do mundo, com uma fortuna de US$ 4,5 bilhões, de acordo com a revista Forbes em 2014.

Entretanto, em 2015 a fachada da companhia começou a cair por terra, quando o Wall Street Journal viu falhas graves no Edison, a tal máquina milagrosa capaz de fazer centenas de exames laboratoriais em poucas horas. Em suma: a máquina basicamente não funcionava, e a companhia mascarava esse “desastre” fazendo as análises do mesmo jeito que todos as outras empresas: no laboratório, com mão de obra humana.

Além de diversos outras práticas fradulentas realizadas para manter a boa imagem da companhia – o famoso “fake it until you make it”, até a qualidade dos exames também foi colocada à prova, depois de a startup afirmar ter realizado mais de 3,5 milhões de testes. Segundo relatos, muitos resultados foram imprecisos, dada a decisão da Theranos de sacrificar precisão em favor de rapidez.

Incapaz de se defender frentes às acusações, a Theranos simplesmente derreteu no mercado, com seu valor despencando e culminando na acusação de Holmes e seu namorado na época, o COO Sunny Balwani, em 12 acusações de fraude. Balwani foi condenado em todas e já cumpre sua pena em regime fechado. Já Holmes foi condenada em apenas quatro, pagou fiança e ainda aguarda em liberdade.