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Napster está de volta, nas mãos de uma startup misteriosa de US$ 18B

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E essa volta do Napster, hein? | Foto: Shutterstock
E essa volta do Napster, hein? | Foto: Shutterstock

O Napster fez história na internet da virada dos anos 2000, e desde então virou uma marca que pulou de mão em mão, sem nunca ter dado certo. Já passou pela mão de marcas como Roxio, Best Buy, e Rhapsody, até chegar nas mãos da Infinite Reality, que agora quer capitalizar em cima do nome lendário, passando a se chamar Napster Corporation.

Segundo reporta a Forbes, a mudança de nome vem no rastro da aquisição do Napster pela Infinite Reality, que pagou US$ 207 milhões em março pela marca, mesmo com o acúmulo de US$ 56 milhões em royalties não pagos e a renúncia de seu CEO anterior, Jonathan Vlassopoulos.

Para deixar as coisas mais confusas, a Infinite Reality não pretende usar a marca Napster como um produto musical. Segundo a companhia sediada na Flórida, a nova Napster se autodeclara agora uma fornecedora de “experiências digitais com inteligência artificial”.

De acordo com o CEO e cofundador da Infinite, John Acunto, o objetivo é transformar a plataforma de música em um espaço de ambientes virtuais que permitam maior interação entre fãs e artistas, criando ambientes virtuais 3D, onde os fãs poderão interagir com os artistas, assistir a shows ao vivo, participar de audições e adquirir produtos físicos e digitais. A plataforma também será integrada a outras aquisições da Infinite Reality.

Mistérios

Entretanto, a manobra da Infinite Reality tem contornos bastante suspeitos. Na mesma chamada com investidores em que anunciou seu rebranding, a “nova Napster” prometeu uma nova rodada de liquidez: acionistas poderiam vender ações a US$ 20 cada, a partir de junho, com apoio de um investidor anônimo representado pela corretora Cova Capital.

Isso implicaria uma avaliação de mercado de US$ 18 bilhões, um valor impresisonante frente ao faturamento da companhia. O valuation corresponde a mais de 240 vezes a receita anual da empresa (US$ 75 milhões em 2024).

E tem mais: essa é a quarta tentativa da empresa de permitir que investidores realizem seus ganhos. As anteriores, incluindo planos de abertura de capital, SPAC e venda secundária pelo mercado secundário da Nasdaq, falharam. A Nasdaq chegou a retirar a página do negócio do ar e depois cancelou formalmente a operação.

Apesar dos sinais suspeitos no track record da Infinite, a empresa anunciou no começo do ano uma impressionante rodada, captando US$ 3 bilhões e passando a valer US$ 12,2 bilhões. Entretanto, a identidade do investidor dos supostos US$ 3 bilhões foi mantida em segredo.

A corretora Cova Capital, representando o misterioso investidor atual, já tinha histórico com a empresa e foi multada por vender ações privadas sem a devida diligência. Em 2021, a Cova tentava vender empréstimos com juros de 33% com direitos de compra de ações da Infinite Reality a uma avaliação “descontada” de US$ 1,25 bilhão.

Documentos indicam que tais empréstimos deveriam ter sido pagos após as rodadas de captação de US$ 350 milhões (em julho) e US$ 3 bilhões (em janeiro), mas investidores afirmam não terem recebido pagamento. Cinco deles processaram a startup por inadimplência.

O CEO da Infinite Reality (agora Napster), John Acunto, afirmou em fevereiro que mais de 600 acionistas haviam se tornado milionários com seus investimentos. No entanto, muitos acionistas demonstram frustração com as promessas não cumpridas de liquidez. Alguns relataram não conseguir vender ações nem por US$ 2 no mercado secundário, muito menos pelos US$ 20 prometidos.