O que antes eram apostas promissoras para ganhar dinheiro, agora se tornaram dores de cabeça. À medida que o cenário regulatório fica cada vez mais apertado, e tensões geopolíticas também colocam mais lenha na fogueira, investidores e fundos norte-americanos estão em uma corrida para mitigar riscos e tirar seu dinheiro de startups chinesas.
Segundo apurou o Financial Times junto a quatro fundos de pensão nos EUA – que tem um total de US$ 4 bilhões alocados em startups chinesas – eles estão avaliando a necessidade de adiar os resgates de investimentos em fundos que tem seus prazos de 10 anos prestes a expirar.
A hesitação tem a ver com o temor de uma baixa em futuros IPOs de empresas chinesas no mercado norte-americano, limitando a possibilidade de saída dos investidores. Um dos IPOs mais esperados dos últimos tempos é o da ByteDance, dona do Tik Tok, mas as coisas agora estão completamente indefinidas, já que a House of Representatives, aprovou na semana passada o projeto de lei que pode banir o app do país.
Vale lembrar que as tensões entre China e EUA já tiveram repercussões na Bolsa há não muito tempo. Em 2022, o governo de Pequim interferiu na Didi, desenvolvedora de apps de mobilidade e controladora da 99 no Brasil, que tirou sua listagem da bolsa de valores de Nova York.
“A China é um lugar onde é possível alocar capital, mas retirá-lo é mais difícil”, disse ao FT Allen Waldrop, diretor de investimentos de capital privado da Alaska Permanent Fund Corporation, com parte de seus US$ 81 bilhões investidos na China. “Agora é um problema muito mais grave”, completa.
Contudo, se o medo dos investidores chegou a um ponto mais crítico agora, já era algo que vinha se observando nos últimos 18 meses. Se de 2018 a 2020, fundos norte-americanos injetaram mais de US$ 33 bilhões em investimentos privados no mercado chinês, em 2022, o número caiu 60% em relação ao ano anterior, conforme informações do Crunchbase.
Para completar, na última semana o governo Chinês divulgou que será mais rígido na aprovação de novas ofertas públicas em suas bolsas de Xangai e de Shenzhen, que até agora este ano levantaram US$ 3 bilhões. No ano passado, o valor foi de quase US$ 50 bilhões.
No lado dos fundos, especialmente os criados para aproveitar o crescimento do mercado chinês, o golpe também foi sentido fortemente. A taxa interna líquida de retorno do fundo Warburg Pincus China, de US$ 2,2 bilhões, que começou a operar em 2016, caiu para 7,9% em setembro do ano passado, ante 25,5% em 2021, segundo apontam documentos públicos.
Apesar de muitos investidores ainda não precisarem tomar uma decisão urgente quanto ao seu dinheiro, a preocupação sobre um possível gravamento da situação geopolítica nos próximos anos pode ser um problema à medida que as datas de liquidação se aproximem. Entretanto, segundo analistas, não vai ter muita solução a não ser estender a duração dos fundos, na esperança de que a janela de IPOs abra novamente. “Os investidores não terão muita escolha”, disse Niklas Amundsson, sócio do Monument Group com sede em Hong Kong, ao jornal inglês.