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A “Era dos Unicórnios” completou uma década de existência. Foi em 2013 que o TechCrunch lançou o hoje lendário artigo “Welcome to the Unicorn Club” e o termo caiu na boca do povo, passando a ser um dos símbolos da busca das startups por crescimento. Entretanto, segundo um novo levantamento da Cowboy Ventures, o cenário hoje é bem diferente, e é hora de rever este “clube”.

De acordo com o estudo, a turma original do Unicorn Club foi composta de apenas 39 startups, misturando nomes que hoje são gigantes (Facebook, LinkedIn, Workday) com outros que mal são lembrados – alguém recorda da Fab ou Zuily? De lá pra cá, contudo, a escalada foi vertiginosa.

De 2013 a 2023, o levantamento da Cowboy mostra que a inflação dos investimentos e dos valuations aumentou agressivamente, multiplicando o número de unicórnios nos EUA de 39 para 532, compondo um valor de mercado de mais de US$ 1,5 trilhão. O valor assusta, mas comparado com o cenário geral de startups criadas e investidas nesse período, isso não tornou os unicórnios menos raros – o número corresponde a menos de 1% dos negócios de VC na década.

Entretanto, o estudo evidencia que, em um momento destes 10 anos, a fome pela criação de novos unicórnios se intensificou – e neste caso foi durante a pandemia. “2020 e 2021 aceleraram a ‘coroação’ de empresas de todas as idades e fases. Os unicórnios de hoje têm em média sete anos”, destaca Aileen Lee, fundadora da Cowboy Ventures e autora do artigo original de 2013. Todavia, essa última leva viu alguns unicórnios caindo rápido – alguns exemplos são Hopin e Bird, que viraram unicórnio em menos de um ano e implodiram pouco tempo depois.

Unicórnio B2C é coisa do passado

Outro ponto levantado pelo estudo é que o pêndulo dos valuations virou forte para o lado do B2B, o completo oposto do cenário que víamos em 2013. Da turma original do Unicorn Club, 38% eram negócios voltados ao mercado enterprise, com um valor de mercado de US$ 55 bilhões. Agora, dos 532 unicórnios ativos, 416 são B2B, o que equivale a 78% da lista e US$ 1,2 trilhão em valor de mercado.

De acordo com o levantamento, hoje as startups voltadas ao consumidor final correspondem a apenas 20% do valor geral dos unicórnios no mercado. Em 2013, elas correspondiam a 80%, impulsionadas pelo boom das startups “SoMoCo”, com gigantes de social (Facebook, Twitter, Pinterest), mobilidade e pagamentos (Uber e Square), e e-commerce (Groupon, Gilt, Fab). Desde então, muitas dessas acabaram caindo ou foram adquiridas.

A líder da Cowboy Ventures dá alguns motivos para explicar como tanto capital migrou para o B2B na última década. Segundo ela, a maior eficiência de custos, o crescimento na adoção e previsibilidade de modelos de negócio SaaS (elevada margem bruta e retenção de clientes) e um número crescente de potenciais compradores destes negócios foram um grande atrativo para os investidores.

“A adoção global da nuvem tornou mais fácil para os clientes a adoção de novos softwares e abriu uma grande janela para a construção de um novo ecossistema de camadas de aplicativos, infraestrutura, dados e análises e empresas de segurança”, destaca Aileen.

Unicórnios só no papel

Outro dado importante apontado pelo levantamento sobre os unicórnios atuais, é que 93% deles são os chamados “papercorns”, aqueles negócios que têm sua valorização apenas no papel, que não tiveram um exit ou não têm liquidez. Segundo a Cowboy, este é um dos números mais importantes do estudo, já que em 2013 os tais unicórnios no papel eram apenas 36% da turma inicial.

Para completar, 60% da atual turma de unicórnios receberam seu valuation entre janeiro de 2020 e março de 2022, quando as taxas de juros estavam no chão e os múltiplos estavam em alta. Segundo Aileen, quando o dinheiro estava jorrando, não era nada difícil para negócios não lucrativos captar altas quantias para bancar 2 ou mais anos de operação, mas agora as rodadas estão mais baixas e os runways cada vez mais curtos.

“Muitos estão trabalhando para obter lucro com o caixa existente, o que é um desafio dada a economia atual – e ainda mais difícil quando se inicia um negócio com baixa margem bruta. Dado o atual ambiente frio de fusões e aquisições, a resistência dos fundadores a downrounds e o medo dos investidores de entrar em maus negócios, esperamos mais fechamentos (de unicórnios) em 2024”, destacou a investidora.

No mercado norte-americano, a lista de unicórnios caídos já é grande, e em 2024 já está anotando mais nomes, tais como Convoy, Olive Health, Zume e InVision, que deverá encerrar operações até o fim do ano.

Quem vai manter o chifre?

Apesar do tom realista, o estudo da Cowboy Ventures mantém o otimismo para boa parte de quem está no clube. Segundo os analistas da gestora, cerca de 350 negócios na lista tem capacidade de se dar bem no mercado, embora nem todos vão manter o status bilionário.

“Aproximadamente 40% estão negociando abaixo de uma avaliação de US$ 1 bilhão nos mercados secundários”, aponta o estudo, prevendo que mais sejam negociados abaixo dessa marca em um futuro não muito distante. Ou seja, muitos negócios perderam sua carteirinha do clube dos unicórnios, mas isso pode não ser tão ruim assim.

Segundo Aileen, muitos destes negócios ainda estão capitalizados e estão de movimentando para se adequar ao novo clima econômico, e com isso poderemos até voltar ao status da primeira leva, responsável por criar alguns dos “superunicórnios” (com valuations acima dos US$ 100 bilhões, como Amazon, Tesla e Meta) que resistem até hoje, mas talvez não tanto no mercado privado e dos VCs.

“Muitos papercorns levantaram capital suficiente e estão navegando no novo clima para crescer além de sua última avaliação. Muitas serão empresas públicas nos próximos anos com finanças sólidas, testadas pela recessão. E algumas destas futuras empresas públicas crescerão e serão superunicórnios”, finaliza a fundadora da Cowboy Ventures.

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