Todo mundo gosta de uma história de volta por cima, especialmente no Vale do Silício, e Ryan Breslow está se preparando para contar a sua. Depois de passar os últimos dois anos envolvido com uma série de escândalos à frente da Bolt, fintech de pagamentos que ele fundou, ele está preparando a companhia para uma nova rodada – uma série F de US$ 450 milhões, a um valuation de US$ 14 bilhões.
Segundo reportou o The Information, Ryan afirmou a investidores que o negócio está próximo de ser finalizado junto a investidores privados do Reino Unido e Arábia Saudita, e ele marca o retorno do fundador à cadeira de CEO, que ele tinha abandonado em meados do ano passado.
Entretanto, como Ryan não é bobo nem nada, a nova rodada tem alguns detalhes interessantes. Para quem já é investidor da Bolt, a nova rodada exige que eles aumentem sua participação no negócio, a fim de manter sua preferência na hora de liquidá-las.
Tudo isso soa como uma grande reviravolta para a Bolt e Ryan, especialmente observando como estava a companhia no ano passado. Acionistas da companhia processaram o ex-CEO por drenar milhões de dólares da conta da fintech após não cumprir empréstimos pessoais que ele tomou.
De acordo com o processo, em vez de liquidar suas ações para cobrir a dívida, Breslow permitiu que US$ 30 milhões fossem retirados da conta bancária da Bolt.
Nos últimos dois anos, Breslow tentou repetidamente usar sua participação na Bolt para obter grandes empréstimos, chegando a incluir contas de viagem na conta da empresa mesmo depois de deixar o cargo de CEO, conforme reportou a Forbes no ano passado.
No início de 2022, quando Ryan fez os empréstimos, parecia que nada daria errado. Na ocasião, gigantes de Wall Street como BlackRock e H.I.G. Growth entraram em uma série E de US$ 355 milhões, avaliando a Bolt em US$ 11 bilhões e a participação pessoal de Breslow em mais de US$ 2 bilhões, tudo isso aos 29 anos.
Entretando, em vez de catapultar a Bolt para novas alturas, o acordo de 2022 marcou o início de dores de cabeça para o CEO, marcado por acirradas disputas judiciais e um confronto ferrenho com um dos primeiros apoiadores da Bolt, o fundo de capital de risco de Connecticut Activant.
Aliás, ainda em 2022, um um relatório do New York Times afirmou que Breslow havia inflado a captação de recursos da Bolt e sua avaliação de US$ 11 bilhões com métricas infladas, e pouco depois a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos investigou as declarações de Ryan acerca da Série E. No fim das contas, entretanto, a comissão decidiu não tomar medidas de fiscalização.
Ainda assim, o incidente e a trajetória geral de Breslow ao longo dos últimos dois anos desapontaram alguns investidores e colegas que anteriormente o haviam defendido. “Ele se tornou o palhaço do Vale”, disse um deles para a Forbes.
Ah, e eu nem contei o melhor da história. Em meio a todos os imbróglios, no começo do ano a Bolt fez uma investida agressiva de buyback de ações. Segundo uma matéria do The Information publicada em fevereiro, a Tribe Capital informou a LPs que estava vendendo sua participação na Bolt de volta para a fintech a um valuation de irrisórios US$ 300 milhões.
Em meio a tantas reviravoltas, agora resta saber se a nova cartada de Ryan Breslow de fato representará uma virada para Bolt, que era vista como uma desafiante real para gigantes como a Stripe (que recentemente aumentou seu valuation também), ou será apenas uma nova cortina de fumaça em uma trajetória conturbada. Aguardemos.