Logística

Para logtechs, crescimento do setor está só começando

Entre rodadas em startups e grandes empresas investindo pesado, aquecimento na logística já rendeu mais de R$ 1,3 bilhão em aportes

Logistica (Foto: Canva)
Logistica (Foto: Canva)

Enquanto muitos falam de SaaS ou de fintechs como exemplos da ebulição do cenário startupeiro no país nos últimos anos, são poucos os que pensam nas logtechs como outro caso de sucesso. Entretanto, na visão dos próprios fundadores das startups de logística, o crescimento está longe de bater no teto.

“Por ser um setor que está presente em todos os tipos de empresas e cada mais vez visto como estratégico, o transporte tem crescido pelo menos dois dígitos nos últimos anos. Minha percepção é que esse crescimento não diminuirá, dada a demanda dos consumidores e expansão do mercado”, pontua Pedro Prado, cofundador e CEO da LogShare, de soluções de frete de retorno, que é membro do Cubo.

Os dados corroboram a visão de Pedro. Segundo o Distrito LogTech Report, levantamento feito pela Distrito em parceria com a KPMG, Volvo e VLi, as startups do setor de logística, conhecidas como logtechs, estão em crescimento no Brasil, somando um total de 283 empresas. Destas, 46% atuam no ramo de transporte de cargas e mais da metade surgiu entre 2015 e 2020.

Pedro Prado, cofundador e CEO da LogShare (Foto: divulgação)
Pedro Prado, cofundador e CEO da LogShare (Foto: Divulgação)

Em termos de investimento, desde 2011 foram destinados US$ 1,3 bilhão nesse mercado, divididos em aproximadamente 100 rodadas de investimento. “Muito disto se deve ao boom do comércio eletrônico, que foi ainda mais acelerado pela pandemia de Covid-19”, explica o CEO da LogShare.

Desafios tecnológicos

Segundo dados da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL), o setor logístico corresponde a 12% do PIB nacional, bem acima dos 7% registrados no mercado norte-americano, por exemplo.

Entretanto, essa representatividade do setor esbarra em um gargalo: pouca tecnologia para otimização. Só para ter um exemplo, segundo dados da McKinsey, 80% das empresas no Brasil fazem gestão da logística em planilhas de excel.

“A falta de tecnologia é um fator crucial que impacta negativamente a produtividade do transporte”, dispara Victor Cavalcanti, fundador e CEO da InFleet, startup de gestão de frotas, que também faz parte do Cubo. “Entretanto, a inovação contínua, aliada à crescente demanda por serviços logísticos mais sofisticados, tem criado um ambiente propício para o desenvolvimento e expansão das logtechs no país”, avalia o executivo.

Victor Cavalcanti, cofundador e CEO da InFleet (Foto: divulgação)
Victor Cavalcanti, cofundador e CEO da InFleet (Foto: Divulgação)

“Temos acompanhado uma revolução no segmento logístico no Brasil que otimiza cada vez mais a gestão de transporte, traça rotas mais eficientes, aponta previsões precisas de demanda e proporciona, sobretudo, maior visibilidade das operações. A digitalização logística é capaz de impactar positivamente e de forma sustentável a sociedade como um todo”, completa o Country Manager da Drivin Brasil, Álvaro Loyola.

Atraindo investimentos

O otimismo das logtechs quanto ao aquecimento do setor logístico no Brasil encontra respaldo nos investimentos realizados no setor. Por exemplo, só no último ano, tanto a LogShare quanto a InFleet levantaram rodadas seed para impulsionar suas estratégias de crescimento.

A LogShare, por exemplo, fez duas rodadas de captação em menos de 18 meses, sendo a mais recente um aporte de R$ 1,5 milhão depois de uma aceleração na primeira turma do Oxygea Labs. Antes disso, no meio do ano passado, ela levantou R$ 5,5 milhões em rodada liderada pela Niu Ventures.

Já a InFleet captou R$ 10 milhões este ano em uma rodada liderada pela Indicator Capital, por meio de seu Fundo 2, com um cheque de R$ 5 milhões. Na rodada, a Indicator foi acompanhada pelos investidores atuais, DOMO.VC, com R$ 2 milhões, e CV Idexo, CVC da TOTVS, com R$ 3 milhões.

Mas não pense que são apenas startups que estão focadas em inovar no setor logístico. Grandes players estão apostando pesado no setor, como é o caso da Nstech, que nasceu de um investimento de R$ 500 milhões da Tarpon para construir um megaecossistema de soluções logísticas, que fechou 2023 com uma receita de R$ 800 milhões.

O plano da Nstech é de se tornar um grande nome a nível global. “Temos a pretensão de ser uma empresa top 3 global do ramo nos próximos anos”, afirmou o CEO Vasco Oliveira, em entrevista ao Startups no fim do ano passado.

“Esse cenário tem atraído investimentos significativos, que estão retornando de forma positiva, refletindo a confiança dos investidores no crescimento sustentável e na maturidade das logtechs brasileiras. O setor está claramente aquecido e os investimentos estão demonstrando um retorno promissor”, avalia Victor.

Mesmo com todos os investimentos, especialistas estão convictos que este é apenas o começo. De acordo com dados do relatório “The State of AI in Logistics 2023”, da McKinsey, o volume de investimentos em soluções de IA na logística do Brasil atingirá US$ 5,5 bilhões até 2027, representando, assim, um crescimento anual de 37,3%.

“Tudo indica que o Brasil se tornará uma potência de logtechs, afinal, somente o transporte rodoviário brasileiro movimenta mais de R$ 500 bilhões. Inclusive, há quem diga que assim como as fintechs, as startups de logística se tornaram a nova sensação do mercado”, finaliza Álvaro Loyola.