Duas semanas depois de anunciar uma portentosa rodada de R$ 1 bilhão, a QI Tech está de volta ao noticiário colocando em prática seu plano de expansão por meio de aquisições. Por um valor não divulgado, a fintech está incorporando a Singulare, uma das principais corretoras de valores mobiliários do país.
Com o negócio – que supera a expectativa do Startups de que a QI Tech iria anunciar uma aquisição rápido – ela adiciona cerca de R$ 97 bilhões em valores sob custódia, divididos entre mais de 960 fundos administrados. “Já estávamos ‘namorando’ a Singulare há algum tempo, negociamos por cerca de ano e meio. O principal foco (com a aquisição) foi o de impulsionar o crescimento de mercado e posicionamento em uma frente que acreditamos muito, que é a de crédito, e tem a Singulare como um de seus principais nomes”, destacou Pedro Mac Dowell, fundador e CEO da QI Tech.
Conforme destacou Pedro, o segmento de DTVM guarda um grande potencial de crescimento para a QI Tech, mas para fazer isso da forma correta era preciso trazer um reforço em termos de experiência. “Além disso, o tamanho da Singulare nos ajudaria a sair com um volume super importante (de fundos) e isso aceleraria o processo de crescimento”, completa o CEO.
2023 tem sido um ano movimentado para a QI Tech: entre anúncios e aquisições, uma das principais guinadas da empresa de infraestrutura para serviços financeiros foi a justamente a autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Ambima para operar como Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM), uma vertical que estava rodando desde o meio do ano.
A compra da Singulare ainda passará por aprovações junto à CVM, porém quando concluído deverá criar uma empresa com mais de 420 funcionários e dobrar a receita da QI Tech. “A companhia passa a valer 2,5 vezes mais com o negócio, e isso nos coloca mais próximos do plano do IPO”, completa, fazendo menção ao plano divulgado quando a rodada do GA foi anunciada, que é o de fazer a oferta pública em até três anos.
Corretora sem corretagem
Álvaro Vidigal, CEO e sócio-fundador da Singulare, reforça o coro puxado por Pedro ao falar sobre como a sua empresa chega para reforçar a necessidade da QI em se tornar uma expert em administração fiduciária, o que será adicionado à expertise em tecnologia da QI, que já desenvolveu uma plataforma dedicada e otimizada para gestão de FDICs.
“Somos a única corretora de valores do Brasil que não faz corretagem”, diz Álvaro. “A venda do controle acionário para a QI Tech tem como objetivo unir forças e manter a empresa preparada para o futuro. As ferramenta da QI, com a experiência da Singulare, vai criar uma empresa ainda mais competitiva para o futuro, já que o cenário está mudando com decisões da CVM”, complementa. Um exemplo citado foi crescente abertura de produtos, tais como o FDIC, para pessoas físicas.
Atualmente o Brasil tem cerca de 2 mil FIDCs ativos, e 600 deles estão na carteira da Singulare, o que mostra o tamanho da presença da companhia. Em termos de valores, a companhia administra cerca de R$ 14 bilhões em direitos creditórios todos os meses. Para o caso da QI Tech, que começou sua operação de DTVM “ontem”, é um salto e tanto.
“A Singulare é uma empresa que gera lucro, um relógio de resultado, então é uma compra de um negócio sólido”, afirma Pedro, que também deixou claro que a chegada dos mais de 300 funcionários da Singulare tem um quê de acquihire.
Entretanto, a empresa não deu mais detalhes de como as sinergias serão trabalhadas. A princípio, segundo os CEOs de ambas as empresas, pouco deve mudar quanto às marcas, já que o escrutínio dos órgãos reguladores ainda deve durar uns meses até o negócio ser liberado por completo.
Aportes e crescimento
Esta é a terceira aquisição feita pela QI Tech: a Builders Bank, uma startup de desenvolvimento de aplicativos bancários, foi incorporada no começo de 2023; e a Zaig, de prevenção de fraudes onboarding e esteira cadastral, foi comprada pouco depois da captação da série A de R$ 270 milhões (US$ 50 milhões) em 2021. De acordo com Pedro, em 2 anos, a Zaig multiplicou sua receita por 7.
Em entrevista ao Startups na época do anúncio do aporte bilionário, o fundador deixou claro que pretende acelerar seus planos de expansão por meio de aquisições e atingir um porte que lhe permita fazer um IPO em um prazo de 3 anos.
Dentre as áreas de oportunidade de crescimento, ele citou cobrança e investimentos. “A área de cobrança ainda tem muito espaço no Brasil. Ninguém está olhando o uso de inteligência artificial para cobrar. Um clique dentro do WhatsApp. O investimento como serviço também. Os agentes autônomos vão poder consumir os serviços White label para construir seus portfólios”, avalia.
Apesar do negócio com a Singulare estar ainda quente, a QI Tech já está de olho em possíveis novas compras. “Continuamos olhando o mercado, e acredito que nos próximos 12 meses deverá sair algum novo negócio. Na parte de crédito estamos bastante avançados, mas tem muita coisa que podemos desenvolver no BaaS, assim como na parte do know your client, antifraude, open banking”, diz Pedro, sugerindo algumas direções para onde o olhar da QI está voltado.