Em janeiro de 2022, a Gupy fez história ao receber o maior investimento que uma HRTech já captou na América Latina. O cheque de R$ 500 milhões, liderado por Softbank e Riverwood, foi logo aproveitado no M&A da Kenoby, sua principal concorrente na área de recrutamento e seleção. Agora, um ano depois, a companhia está de volta às compras com a aquisição da Pulses, plataforma catarinense de gestão de pessoas.
O namoro entre as empresas começou há cerca de 3 anos. A Gupy já utilizava os serviços da Pulses como estratégia interna para melhorar o engajamento do time e aumentar a retenção de talentos. “Somos usuários da Pulses dentro de casa. Usamos e amamos o produto pelo valor gerado”, diz Mariana Dias, cofundadora e CEO da Gupy, em entrevista ao Startups.
A Gupy, que nasceu com uma atuação voltada a recrutamento e seleção, e depois avançou para admissão e educação corporativa, decidiu entrar também no segmento de gestão de pessoas, que engloba clima e engajamento. Como já conhecia a Pulses na prática, aproveitou para reforçar os laços entre as empresas por meio da aquisição.
“Estou sempre antenada a oportunidades de como podemos trazer mais inovação para os nossos clientes. Conhecendo muito bem os fundadores da Pulses, a startup e entendendo que esse é um momento em que as empresas precisam demais dessa solução, decidimos estreitar os laços para fazer a aquisição acontecer”, pontua Mariana.
Fundada em 2016, a Pulses usa people analytics para ajudar gestores e profissionais de RH a mensurar e criar estratégias para clima e cultura organizacional, além do engajamento dos colaboradores e employee experience. O intuito é ajudar empresas a reduzir o turnover e alavancar os resultados do time, apoiando a criação de planos de ação assertivos com base em dados e insights automatizados.
Em setembro de 2021, a startup recebeu um aporte da Invisto, gestora de venture capital da região Sul, em parceria com a Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE). No mesmo ano, ultrapassou os R$ 10 milhões em receita, atendendo mais de 550 mil colaboradores e cerca de 600 clientes. Hoje, são mais de mil clientes no país, incluindo médias e grandes empresas como Stone, Loft e Petz. De acordo com a Invisto, após o aporte – o 1º de seu fundo I -, a startup apresentou um crescimento de 158% no seu valor de mercado.
Para Cesar Nanci, CEO da Pulses, a união das empresas vai gerar mais escala e eficiência para os clientes. “Uma empresa que investe em engajamento reduz em média 24% a taxa de turnover, o que impacta diretamente na redução de custos, com um aumento médio de produtividade de 17% e um aumento médio de receita em 20%. O potencial de soluções e integrações que temos agora com a Gupy é enorme, vem muita inovação por ai”, afirma, em nota.
Mais M&A?
Esse é o 3º M&A da Gupy em menos de 2 anos. Além da Pulses e da Kenoby, ela também incorporou a Niduu, startup de educação corporativa que oferece treinamentos online para colaboradores de todos os níveis, utilizando princípios de microlearning, mobile learning e gamificação. As aquisições fazem parte da estratégia de crescimento da Gupy para ampliar seu ecossistema de soluções e alcançar outras áreas do RH.
“Temos 2 estratégias para levar inovação ao RH. Desenvolver internamente, como fizemos com as verticais de Admissão Digital e CRM, ou comprar empresas que têm uma cultura parecida com a nossa, um time de fundadores especializados e um produto muito bom”, afirma Mariana. No caso da Pulses, fez o que chamou a atenção foi a expertise da equipe e qualidade da solução.
“O mundo de gestão de talentos está se reinventando muito, e é preciso ter muita ciência e metodologia. Até conseguiríamos desenvolver uma solução dentro de casa, mas demoraria muito tempo, pois não somos grandes especialistas nessa frente. Enquanto isso, a Pulses tem uma das metodologias mais ágeis e modernas que conheço, além da frente de people analytics oferecendo diversos dados em relação ao time e o mercado”, ressalta Mariana.
Com a Pulses, o quadro de funcionários da Gupy vai crescer 20%, chegando a cerca de 750 pessoas. A startup passa a tender uma carteira aproximada de 4 mil clientes e mais de 36 milhões de usuários, entre candidatos e colaboradores. Os fundadores da Pulses seguirão na operação, e as companhias ainda analisam se a marca seguirá existindo ou será totalmente incorporada.
A hora é boa
Segundo Mariana, a Gupy sempre foi uma empresa sustentável, que queima pouco caixa e tem uma máquina intensa de crescimento. Só no ano passado, a plataforma movimentou mais de 32 milhões de usuários com seus produtos, e comemorou 1 milhão de pessoas empregadas graças à plataforma.
“Esperamos que 2023, por mais desafiador que seja, a Gupy continue se diferenciando, entregando um bom crescimento, com sustentabilidade e indicadores econômicos muitos saudáveis que nos permitam fazer movimentos de M&A mesmo nos momentos mais difíceis com o esse”, afirma a empreendedora.
Com o mercado mais restrito para captações, a tendência é que as empresas que não conseguirem levantar investimento sejam vendidas, e quem tiver caixa sobrando aproveite para adquirir concorrentes e potenciais parceiros. Só nos últimos meses, a healthtech Pipo Saúde comprou a corretora da HRTech Convenia e a Betterfly, unicórnio chileno do segmento de recursos humanos e benefícios corporativos, comprou a brasileira SeuVale para complementar o portfólio de serviços oferecidos aos RHs das empresas.
A Gupy seguirá investindo nas estratégias orgânica e inorgânica nos próximos anos, embora Mariana não dê detalhes sobre as próximas aquisições. Questionada sobre a próxima captação de investimentos, Mariana afirma que está sempre conversando muito com o mercado, mas que a empresa está bem capitalizada. “Olhamos para oportunidades de crescimento, mas sempre no momento certo. Estamos longe de precisar de uma rodada agora”, conclui.