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Não faz muito tempo que as startups de proteínas alternativas eram um dos negócios mais hypados do pedaço. Com nomes como Impossible Foods e Beyond Meat puxando a frente, o setor levantou mais de US$ 1,6 bilhão em investimentos de VCs. Até mesmo aqui no Brasil e América Latina, nomes como Fazenda Futuro ganharam sua parcela de notoriedade – e de investimentos. Entretanto, 2024 tem sido um choque de realidade para o setor, com startups reduzindo seus planos de escala ou até mesmo fechando as portas.

Segundo reporta o TechCrunch, o hype em torno das carnes alternativas rendeu cerca de 200 startups em todo o mundo, apostando na proposta de transformar o consumo de proteínas. Entretanto, o impacto ainda é irrisório perto do mercado tradicional de carne. Cerca de 15 mil toneladas de carnes plant-based são produzidas anualmente globalmente, ante 500 mil toneladas de carne de origem animal.

Em entrevista ao portal norte-americano, o CEO da Better Meat, Paul Shapiro, afirmou que esses dados são um choque de realidade para as startups, e será um longo caminho até elas começarem a realmente ocuparem um espaço de destaque no cenário geral.

“Qualquer meta que coloque carne cultivada (em laboratório) em grandes supermercados ou em cardápios de fast food na década de 2020 é irrealista”, disse o executivo.

Esse choque de realidade, em paralelo ao “inverno dos VCs” impactou o apetite dos investidores, e o sangue já está na água. Startups como New Age Eats fecharam no início de 2023, com o fundador Brian Spears postando no LinkedIn que a empresa não conseguiu garantir fundos para concluir sua instalação piloto.

A Upside Foods demitiu funcionários e engavetou planos para uma nova fábrica. A Aleph Farms, de Israel, demitiu 30% de sua equipe em junho, também citando dificuldades para levantar capital.

“É um momento realmente difícil agora, não apenas para carne cultivada, mas para qualquer campo relacionado à biotecnologia”, disse o professor de engenharia biomédica da Tufts University, David Kaplan, ao TC. “A economia está na sarjeta, os fundos de investimento não estão aparecendo e as pessoas estão sendo muito, muito cautelosas ultimamente”, disparou.

Segundo dados do CrunchBase, a queda nos investimentos neste segmento é alarmante. Em 2021 e 2022, as empresas de proteínas alternativas levantaram mais de US$ 1,6 bilhão em rodadas. Este ano, as rodadas neste setor não passaram de US$ 20 milhões até junho. É um tremendo de um baque, ainda mais levando em consideração que os custos de pesquisa e produção destes alimentos ainda é alto.

“Mudar o mundo e reinventar o sistema alimentar é difícil, o que é provavelmente a conclusão menos chocante a que se pode chegar”, disse Amy Chen, diretora de operações da Upside Foods, ao TechCrunch.

E no Brasil?

Os impactos dessa retração também são visíveis no Brasil. No ano passado, a BRF descontinuou a sua produção de alimentos à base de plantas. Para compensar, a empresa anunciou uma parceria para distribuir produtos da PlantPlus, joint venture formada entre Marfrig, sua controladora, e a americana ADM.

Em 2022, a JBS anunciou sua saída do segmento, encerrando as atividades da Planterra nos Estados Unidos, apenas dois anos depois de ter adquirido a companhia.

Para conquistar uma maior parcela do público e enfrentar os desafios de crescimento para o setor, empresas brasileiras como a Fazenda Futuro adaptaram a sua estratégia. No começo do ano, a startup resolveu ir além das carnes e entrar em outros segmentos do mercado plant-based.

Depois de lançar em 2023 seu leite à base de aveia, que simula o de vaca, a empresa quer agora desenvolver produtos como queijo, mel, pão e até bacon. Segundo a diretora de marketing da empresa, o plano é apelar a um perfil de consumidor que ainda consome proteína de origem animal, porém, tem introduzido os produtos à base de planta na dieta – os chamados “flexitarianos”.

Segundo dados divulgados pela Fazenda Futuro no começo do ano, 60% das vendas ocorrem no mercado interno e 40% das exportações, mas o breakeven ainda é um sonho distante. A empresa não atualizou o seu valuation, mas em 2021 ela estava avaliada em R$ 2 bilhões.

Ao expandir o portfólio, a Fazenda Futuro entrou na seara de outra startup famosa por aqui, a NotCo, que também resolveu ir além do consumidor final para crescer. No fim de 2022, a empresa ampliou em US$ 70 milhões para estender a sua série D para US$ 305 milhões, em um “flat round” que não valorizou a empresa.

No caso, a extensão foi usada para impulsionar a atuação da companhia junto a outras empresas, licenciando sua tecnologia para que outros fabricantes de alimentos possam ter produtos plant based em seu cardápio.

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