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Quando se fala de grandes marcas e startups de tecnologia, a região Nordeste não costuma figurar no topo da lista. Entretanto, a gente sabe que muita coisa bacana rola por lá. É o caso da Trakto, plataforma de design sediada em Maceió, que tem muito orgulho de ser de lá.

“Não tinha ideia que seria tão difícil ser uma startup no Nordeste, por questões de visibilidade, dificuldades no acesso a rodadas de investimento, entre outros fatores. Mesmo assim, conseguimos avançar em uma jornada, lançando tecnologias a nível global”, pontua Paulo Tenório, fundador e CEO da Trakto, em conversa exclusiva com o Startups.

Por falar em tecnologia de nível global, a Trakto tem como produto principal uma aplicação com rivais de peso. Uma plataforma desenvolvida para facilitar o design de peças visuais, o Trakto tem como concorrentes marcas estabelecidas como a Adobe, e unicórnios como a australiana Canva e a norte-americana Figma.

Trakto e Canva começaram no mesmo ano. Eu comecei com R$ 300 mil da minha poupança, enquanto a Canva começou com US$ 15 milhões do governo australiano”, brinca Paulo, profissional que antes de empreender fez seu nome como designer visual em Los Angeles, trabalhando na criação de filmes publicitários e sequências de créditos para séries da Fox, entre outras empresas.

A Trakto teve seus primeiros passos em 2013, quando Paulo retornou ao Brasil por questões familiares. Pouco tempo depois, ele levou seu projeto para o Vale do Silício, quando recebeu a primeira rodada e pivotou para a plataforma que é a base do Trakto atual, com ferramentas facilitadas para pequenos empreendedores que cuidam do design das peças de seu negócio. Em 2015, a Trakto retornou a Maceió, onde está até hoje.

Atualmente, a companhia tem um faturamento anual na casa dos R$ 25 milhões, número que cresceu cerca de oito vezes nos últimos anos com a criação de versões da plataforma para B2B e educação. “Vamos chegar aos R$ 50 milhões até o fim do ano, estamos com um cashflow positivo e um captable sólido, pois só levantamos seed (R$ 7 milhões) até agora. A dificuldade em levantar aportes, no fim das contas nos obrigou a ser eficientes com o capital”, completa o CEO.

Sem medo de ser pioneiro

Na conversa com o CEO da Trakto, um dos pontos que mais chamou a atenção foi o foco da companhia em desenvolver features diferenciadas para sua plataforma, o que inclusive rendeu “cópias” de seus rivais mais conhecidos. De acordo com o fundador, a Trakto saiu na frente com um dos recursos mais famosos do Canva, o removedor de fundo de imagem.

“Lançamos essa feature em 2019 no SXSW, nos Estados Unidos, e tivemos executivos da Adobe registrando nossa apresentação, e investidores do Canva viram a novidade”, revela Paulo, dizendo que poucos meses depois, o Canva lançou a sua versão para este recurso.

“No ano passado lançamos a Bella, nossa assistente virtual baseada em inteligência artificial e modelos de linguagem conversacional para a criação de peças, algo que hoje todos os outros estão desenvolvendo”, completa o executivo.

Para o CEO da Trakto, estar longe dos holofotes dos grandes centros é um empecilho nessas horas, mas ainda assim a companhia criou um público fiel, inclusive com um grande número de usuários fora do Brasil. “79% dos nossos clientes estão fora do país”, pontua Paulo.

Paulo Tenório, fundador e CEO da Trakto
Paulo Tenório, fundador e CEO da Trakto (Crédito: Divulgação)

Aliás, foi lá fora que a empresa recebeu importantes reconhecimentos. John Collison, o bilionário investidor e cofundador da Stripe, destacou a companhia de Paulo Tenório em um keynote promovido pelo The Next Web, renomado portal norte-americano.

Para aumentar a fatia do bolo dentro do Brasil, a estratégia da Trakto foi guiada para o B2B e setor público. Em 2020, a empresa lançou a Trakto Edu, versão voltada a professores e instituições para o design de materiais didáticos, que hoje é utilizada por prefeituras alagoanas como as de Maceió e Penedo, assim como a Santillana Educação, grupo escolar com mais de 27 milhões de alunos no país.

No ano passado, foi a vez da companhia lançar oficialmente o Trakto Empresas, capitalizando em cima de parcerias com plataformas como iFood e o software de automação de marketing MLabs.

Nordestina and proud of it

Perguntado se, para tornar a Trakto mais conhecida e atraente aos investidores, não seria melhor levar sua companhia para mercados mais visíveis como São Paulo, o fundador da Trakto admite que pensou na possibilidade, mas preferiu inverter a pergunta. “Em vez de ‘por que não se mudar para São Paulo?’, penso ‘por que não ficar em Maceió?'”, dispara.

A missão de colocar a Trakto e Maceió no mapa das grandes empresas de tecnologia do país fez Paulo dar um passo adiante. Em 2017, a companhia iniciou uma tradição na capital alagoana, criando o Trakto Show, evento de empreendedorismo e marketing ancorado pela sua companhia. Aliás, a edição 2023 do evento está marcada para dezembro, com expectativa de receber mais de 15 mil pessoas de todo o país.

“Viramos o maior evento de transformação digital do Nordeste, mostrando que é possível criar uma grande empresas de tecnologia sediada em Maceió”, afirma Paulo, com um sorriso no rosto.

Voltando ao assunto de ser (por que não?) um unicórnio nordestino, a Trakto não descarta a possibilidade de buscar novos investimentos no futuro, apesar de sua localização menos favorável na hora de ficar no radar dos VCs. “Já sentamos à mesa para possíveis aquisições, mas eram termos muito leoninos, então decidi por um caminho de escalar receita antes de volta a ter estas conversas. O plano é em 2024 conversar com fundos ou empresas interessadas, mas pensando em uma rodada de US$ 10 milhões para cima”, finaliza o CEO.

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