Um grupo de empreendedores brasileiros decidiu unir forças para criar um ambiente mais próspero para o desenvolvimento e o sucesso das chamadas musictechs, startups que desenvolvem soluções tecnológicas aplicadas ao universo musical. O Movimento MusicTech Brasil tem o objetivo de fortalecer o setor ao conectar players com oportunidades comerciais, parcerias e investimentos no mercado musical no Brasil e fora.
“O mercado de musictechs é técnico, específico e, muitas vezes, difícil de entender. Por isso, investidores-anjo e fundos de venture capital não costumam investir no setor”, afirma Lucas Winter, CEO da Klave e um dos fundadores do movimento. “A iniciativa nasce para chamar atenção e mostrar que as musictechs têm relevância, tanto para os investidores quanto para o mercado tradicional da música”, explica o executivo.
Para isso, os associados (que podem se juntar gratuitamente aplicando no formulário do site) têm direito a uma série de atividades e benefícios. Entre eles, descontos em eventos do mercado musical, acesso a workshops, pitch day e demo day para clientes e investidores, conexão com players internacionais, discussões sobre o futuro do ecossistema musical, co-criação de relatórios sobre o mercado musical brasileiro, entre outros.
Lançado há três meses, o grupo já conta com 18 startups mapeadas, incluindo a Klave, Murb, Moises, Conectahit e a Strm, que em julho captou R$ 35 milhões com a norte-americana Tompkins Ventures e a dupla Henrique & Juliano. “Embora as captações sejam menores, as musictechs costumam ter um exit muito mais rápido”, destaca Lucas. “Gravadoras ou grupos como Sony, Universal e Warner acabam se interessando e fazendo a compra. Talvez as musictechs não sejam uma tese para um fundo tão grande, mas pode ser uma ótima opção para o investidor que quer rentabilizar rapidamente”, observa.
Segundo o CEO da Klave, o setor das musictechs ainda é incipiente a nível global. No entanto, enfrenta alguns desafios adicionais no Brasil. “Lá fora já existe uma cultura maior de investimento. A a16z, por exemplo, já está habituada a investir em empresas do ramo. No Brasil é mais difícil. A gente chega para o investidor e ele quer resultados impossíveis de serem alcançados em um curto espaço de tempo”, conta.
No caso da Klave, plataforma que opera como um “CRM da música” para facilitar a gestão de fãs com ferramentas que automatizam a comunicação e o engajamento, a estratégia tem sido operar no bootstrapping desde a sua fundação, em 2022. A startup se prepara para fazer a primeira captação neste semestre, em busca de investidores referência na indústria musical para agregar valor e expertise ao negócio.
Ganhando força
Além das musictechs, o movimento mapeia um ecossistema amplo de empresas que atuam no ramo musical, mas que não têm a tecnologia no centro do negócio – como gravadoras, agências, selos, distribuidoras e associações – para que as musictechs consigam criar oportunidades de negócio com mais facilidade. “O objetivo é ajudar as musictechs a se conectarem com outros players. Juntos, fica muito mais fácil abrir portas e se aproximar do restante do mercado”, pontua Lucas. Ele acrescenta que as próprias startups podem colaborar entre si, oferecendo descontos, parcerias e vendas em conjunto uma vez que compartilham clientes semelhantes.
Muito mais do que crescer em número de associados, o objetivo do grupo é apoiar as startups da rede gerando valor e oportunidades de negócio. “Queremos fortalecer quem está dentro, e não necessariamente trazer muitas empresas o tempo todo”, explica Lucas. A expectativa é expandir a base de 18 para cerca de 30 empresas no curto prazo. “Existem mais empresas mapeadas do que isso, mas muitas ainda são incipientes demais. Acho que por enquanto o número não será tão grande, mas espero que o setor cresça”, conclui.
O mercado de música no Brasil cresceu pelo sétimo ano consecutivo em 2023. O setor atingiu valor de R$ 2,8 bilhões no ano passado, um avanço de 13,4% em relação a 2022, de acordo com dados da entidade Pro-Música Brasil (PMB). O mercado de música brasileiro ocupa a 9ª posição no ranking global da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI).