Natural de Belo Horizonte, Alessandro Garcia enxergou nas pequenas e médias empresas a oportunidade de construir um dos maiores cases do país em gestão de pessoas. Ao lado da sócia e esposa, Mônica Hauck, ele fundou a Sólides, empresa de tecnologia que oferece soluções voltadas à atração, ao desenvolvimento e à retenção de talentos.
Desde 2010, a startup vem ampliando seu portfólio e construindo um ecossistema completo que combina tecnologia de ponta com um olhar humano. Um marco importante nessa trajetória veio em 2022, quando a Sólides recebeu o maior aporte já realizado em uma HRTech na América Latina: R$ 530 milhões, em uma rodada liderada pela gestora de private equity Warburg Pincus.
No mesmo ano, a companhia iniciou sua estratégia de aquisições, começando pela compra da Tangerino. Dois anos depois, voltou ao mercado com a aquisição da Folha de Pagamento Digital, reforçando seu posicionamento como one-stop shop para PMEs. Em setembro, anunciou ainda a compra do RHGestor, com foco em fortalecer sua atuação junto às médias empresas.
Hoje, a plataforma abrange todas as frentes do RH, do recrutamento e seleção ao Departamento Pessoal, passando por desenvolvimento e performance, engajamento, gestão comportamental e benefícios corporativos. Com mais de 35 mil clientes e mais de 8 milhões de vidas impactadas, a Sólides segue em ritmo acelerado e, segundo o cofundador, está longe de parar.
Em entrevista ao Startups, Ale falou sobre os próximos passos da companhia e a ambição de ir ainda mais longe, tornando-se referência em tecnologia na América Latina e alcançando o patamar de capital aberto. Ele também falou sobre o “ponto de virada” que levou a empresa de uma quase falência para os holofotes, e refletiu sobre os desafios e as oportunidades da tecnologia no setor.
Veja, a seguir, os melhores momentos dessa conversa:
Qual foi o “pulo do gato” que tirou a Sólides da crise em 2015 e impulsionou o crescimento que, uma década depois, fez da empresa uma das principais HRTechs do Brasil?
O “pulo do gato” foi ouvir a Mônica – ou melhor, foi perceber, por meio de outras pessoas, que ela estava certa. Na época, a empresa crescia em média 48% ao ano. Eu projetava crescer de forma linear, seguindo essa tendência. Mas a Mônica insistia que precisávamos pensar diferente. Ela dizia: “A meta hoje é 100, ano que vem é 800”. Eu achava aquilo uma loucura. Isso foi em 2014.
No ano seguinte, fizemos um curso em Stanford com outros empreendedores brasileiros e lá fomos confrontados com o modelo SaaS de crescimento exponencial. Vi os gráficos e percebi que tudo o que ela dizia fazia sentido. Já tinha escutado aquilo antes, mas ali tive a validação.
Decidimos adotar esse novo modelo de crescimento. Validamos os conceitos, entendemos o tipo de tração que precisávamos gerar e, com apoio da Endeavor e da rede de empreendedores de Belo Horizonte, fomos moldando a nova estratégia. Acho que essas três frentes – ampliação de visão, validação de conceitos e compartilhamento de conhecimento – provocaram uma ruptura. Em 2015, a gente derrubou tudo, recomeçou do zero e passou a contar clientes a partir do número 1. Ali foi, de fato, o ponto de virada.
Quais foram seus maiores aprendizados ao liderar uma HRTech que já impactou mais de 8 milhões de vidas?
É difícil destacar um único aprendizado. Frequentemente, somos colocados no limite da nossa competência. Como a empresa cresce rapidamente, as habilidades que tenho hoje podem não ser suficientes para lidar com a complexidade da gestão daqui a alguns meses. Por isso, é preciso aprender constantemente.
O maior desafio é justamente conseguir se desenvolver rapidamente. Esse é, para mim, o principal aprendizado: aprender a aprender. E isso não vale só para mim, acredito que faça sentido para muita gente. Em um mundo em que as mudanças acontecem cada vez mais rápido, conseguir reaprender e se reinventar é fundamental.
Após crescer, adquirir empresas e se consolidar no setor, qual é o próximo grande salto da Sólides? O que ainda falta conquistar, na visão de vocês?
Não sei se dá para chamar de “próximo grande salto”, mas ainda temos muitos saltos pela frente. Vemos um potencial enorme de nos tornarmos uma das maiores empresas de tecnologia da América Latina – não apenas em RH, mas em tecnologia de forma geral. Existe espaço de mercado para isso. Acredito que temos capacidade de alcançar posições relevantes, como a Totvs fez em seu segmento, tornando-se uma referência. Também vejo a possibilidade de levar a Sólides a um patamar de capital aberto, com alto faturamento e milhares de acionistas. Claro que ainda há um longo caminho pela frente. Estamos só começando.
A proposta do produto – um software de RH All-in-One voltado para pequenas e médias empresas – é algo bastante singular. Nos posicionamos para resolver um problema que outras empresas não conseguiam solucionar. A forma como entregamos esse serviço, com foco real em gerar valor para o cliente, é um grande diferencial. Isso fortalece nossa marca e contribui para uma aceitação muito positiva no mercado.
Atualmente, estamos muito focados nas integrações dos produtos das empresas que adquirimos, além da própria gestão da companhia como um todo. Temos evoluído bastante nas estratégias e na organização interna, e esse continuará sendo o foco no segundo semestre. Vamos movimentar bastante os ponteiros, tanto pensando nos resultados deste ano quanto já projetando 2025.
Com o avanço da inteligência artificial, há risco de o RH perder sua essência humana? Como manter a humanização em um ambiente cada vez mais automatizado e dominado pela IA?
Vejo a inteligência artificial como uma oportunidade para potencializar a humanização no RH. Nos produtos que desenvolvemos, a IA apoia os gestores a liderar melhor seus times, ajudando a entender como desenvolver cada colaborador, o que o motiva e como impulsionar seu crescimento profissional, o que, por sua vez, contribui para o crescimento da empresa.
Todas as ferramentas que estamos implementando têm o objetivo de potencializar as pessoas, o que, na prática, acaba tornando o RH mais humanizado. Por exemplo, a IA pode ajudar um gestor a lembrar e lidar com as questões do dia a dia de cada colaborador, trazendo informações que seria difícil memorizar constantemente. Ela pode ainda orientar os próximos passos para impulsionar o desempenho individual e aumentar a performance.
Assim, a interação se torna muito mais customizada, aumentando não só a eficiência, mas também a qualidade do relacionamento com as pessoas. Claro que existem desafios, mas vejo a IA como uma grande oportunidade para otimizar e maximizar a capacidade de interação social no RH.
O que você faz para desligar a mente depois do trabalho?
Durmo. Só consigo realmente desligar a cabeça quando estou dormindo, porque durante o resto do tempo é muito difícil parar os pensamentos. Essa é uma dificuldade que tenho. Deveria praticar mindfulness, mas é complicado encontrar esse momento de pausa. Acho que seria algo que me faria muito bem. Ainda não faço, mas vejo que poderia ser uma prática interessante. Uma coisa que gosto e que funciona bem para mim é tocar bateria. É um momento em que consigo concentrar meu foco em algo fora do trabalho. Talvez essa seja a minha saída para relaxar.
Raio X – Alessandro Garcia, Sólides
Um fim de semana ideal tem… bateria e um tempo para ficar em frente ao mato
Um livro: “Os Magnatas”, de Charles R. Morris
Uma música: “Going to California”, do Led Zeppelin
Uma mania: Trabalhar
Melhor qualidade: Sintetizar e decodificar informações, e agrupá-las a partir disso