Nascido em Porto Alegre (RS), Anderson Diehl aprendeu desde cedo o valor do trabalho e da independência financeira. Sem mesada na infância, ganhava dinheiro lavando carros, engraxando sapatos e cortando grama.
Aos 17 anos, seu pai lhe deu uma empresa de materiais de construção, onde vendia pregos, areia, tijolos, cimento, tinta, telhas, portas e outros produtos. No entanto, as grandes decisões ainda eram tomadas pelo pai. Anderson queria expandir, exportar e inovar, mas não tinha autonomia para isso. Aos 23 anos, percebeu que continuar no negócio não fazia sentido. Devolveu a empresa e decidiu ingressar no mercado formal com carteira assinada.
Sua experiência como funcionário durou apenas um ano, atuando com vendas em feiras e eventos. Em 1996, foi quando começou a empreender de verdade: vendeu seu carro, investiu o valor na compra de 60 mil camisetas e deu início a uma distribuidora. Durante as eleições daquele ano, conseguiu vender 45 mil camisetas em apenas 35 dias.
Desde então, muita coisa mudou. Após atuar na Anjos do Brasil, Anderson entrou no universo dos investimentos em startups e já acumula nove exits – com mais um a caminho. Em 2021, com o desejo de fortalecer o ecossistema, Anderson criou o Angel Investor Club, um hub de networking e negócios para conectar diferentes atores do ecossistema de inovação. Hoje, a comunidade reúne mais de 360 membros, espalhados por 26 estados e 16 países.
Dois anos depois, cofundou o Founders Club, um hub voltado ao crescimento de startups. Com cerca de 1.600 empreendedores, sendo 570 deles membros pagantes, a comunidade oferece trilhas de conteúdo, conexões com grandes empresas e investidores, além de benefícios exclusivos para impulsionar negócios.
O próximo passo? A criação do fundo de investimentos Outlier Ventures. Em conversa de peito aberto com o Startups, Anderson compartilhou detalhes sobre o lançamento do fundo e revelou os tipos de startups que mais lhe interessam como investidor. Além disso, ele falou sobre o momento atual das comunidades de founders e investidores, e as perspectivas para 2025.
Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa:
Você começou a empreender bem jovem. Como foi essa experiência e de que forma ela te levou à criação do Angel Investor Club?
Formei-me em 1998 e segui para o mestrado. Em 1999, assisti a uma palestra sobre o presente e o futuro da internet. Fiquei fascinado. Pouco depois, vi um folder sobre a Praia do Rosa com o endereço praiadorosa.com.br. Tive um insight e decidi criar o praiadaferrugem.com.br, apostando que as pousadas da região pagariam para divulgar seus serviços. Registrei o domínio no dia 31 de dezembro de 1999 e coloquei o site no ar no início de janeiro. Em poucos dias, visitei 20 pousadas, e 12 delas pagaram R$ 500 cada para aparecer no site. Faturei R$ 6 mil em dois dias – algo inédito para mim. Mudei para Santa Catarina e passei a criar diversos sites para divulgar pousadas em diferentes praias. Em novembro de 2001, já tinha cerca de 15 sites no ar.
Fui para Gramado e mudei a abordagem: passei a divulgar os hotéis gratuitamente, cobrando apenas uma comissão pelas reservas. Funcionou. Em 2003, já faturava R$ 300 mil por ano com as comissões e recebia 2,6 milhões de visitas mensais nos 23 sites que administrava. Na mesma época, entrei no programa de afiliados da Gol, que pagava 4% de comissão sobre as vendas. Em 2004, vendi R$ 1,2 milhão. No ano seguinte, R$ 5 milhões. Em 2006, R$ 7 milhões – tudo isso sem funcionários.
No entanto, em 2008, percebi que a Booking.com ameaçava o modelo de reservas de hotéis e busquei alternativas. Tornei-me afiliado do Submarino Viagens e do ViajaNet. Mas, em 2012, decidi que não queria mais ser CEO de nada. De 2012 a 2015, foquei em diversificar investimentos e, em 2016, fui convidado a integrar a Anjos do Brasil.
Minha atuação no ecossistema de startups deu muito certo. Fiz exits de empresas como Agidesk e Mais Retorno, tive um vesting na Warren Brasil – que tinha potencial para se tornar unicórnio – e saí no momento certo. Em 2021, fiz o exit da Suiteshare, adquirida pela VTEX pouco antes do IPO, tornando-me acionista da empresa. Foi então que decidi criar um movimento de giveback para o ecossistema. Assim nasceu o Angel Investor Club.
Como você define o momento atual do Angel Investor Club?
Atualmente, o hub conta com mais de 360 pessoas, abrangendo 26 estados e 16 países. Os investidores do grupo realizam aportes que variam de R$ 20 mil a US$ 20 milhões. Entre os membros, há representantes de grandes fundos, como a SoftBank, além de lideranças de inovação aberta de grandes empresas, que geram oportunidades ao conectar corporações a startups.
Acredito que nenhuma startup precisa, de fato, de investimento. O que ela realmente precisa é vender e ter um bom produto. Talvez seja por isso que minhas investidas tiveram tanto sucesso. Sou investidor-anjo, mas, acima de tudo, um bom vendedor. Ajudo as startups a venderem, estruturando uma estratégia de growth que envolve parcerias, afiliados, SEO, tráfego pago e muito mais.
Com o tempo, começamos a receber muitos cadastros de founders querendo ser membros do Angel Investor Club. Foi assim que nasceu o Founders Club, uma comunidade que hoje reúne mais de 5 mil pessoas, sendo 1.600 empreendedores — dos quais 570 são membros pagantes. No Founders Club, oferecemos uma série de benefícios, como créditos na AWS, descontos em eventos e suporte na captação de investimentos.
Qual o seu próximo passo profissional?
Estou analisando o melhor momento para lançar o Outlier Ventures, um fundo de investimentos. O site já está no ar e as pessoas podem se cadastrar para receber novidades. Confesso que ainda não sei se estou pronto para assumir tanto trabalho, mas estou bastante inclinado a seguir em frente.
De certa forma, já construí todo o ecossistema necessário, reunindo empreendedores no Founders Club e investidores no Angel Investor Club. No Founders Club, estamos muito perto de ter nosso primeiro unicórnio. Cerca de 95% das startups em que investi estão performando bem e 85% receberam novos aportes. A ideia é pegar membros do Angel Investor Club para investir no Outlier Ventures. Temos uma comunidade forte, que facilita tanto o acesso ao capital quanto a startups promissoras e grandes empresas interessadas em gerar negócios.
Minhas prioridades para 2025 são ampliar a base do Founders Club, de 570 para mais de mil membros, e estruturar o Outlier Ventures. Além disso, dedico parte do meu tempo ao trabalho voluntário como mentor no InovAtiva Brasil, Abstartups, Founder Institute, Plug & Play Brasil, Junior Achievement, entre outras instituições. Essa jornada tem sido uma grande fonte de aprendizado e conexão com o ecossistema.
Que tipo de startup te faz brilhar os olhos?
O slogan do Angel Investor Club é “Investimos em pessoas, transformamos vidas, realizamos sonhos”. No fim das contas, nada acontece sem pessoas. É isso que mais me motiva. O que realmente me chama atenção em uma startup são os fundadores. Gosto de times multidisciplinares e acredito que a combinação ideal envolve três perfis: um founder técnico, um de vendas e um de execução.
Além disso, valorizo empreendedores coachables — aqueles que estão abertos a conversas, conselhos e críticas construtivas sem gerar resistência. Pessoas que absorvem conhecimento e estão dispostas a crescer com o que posso oferecer em termos de expertise e experiência.
Do ponto de vista do negócio, prefiro startups que atuam em grandes mercados, que movimentam bilhões de reais por ano. Se uma empresa consegue capturar apenas 1% desse mercado, já tem um enorme potencial. Nenhuma startup tem obrigação de virar unicórnio. Uma boa empresa é aquela que roda, traciona, vai crescer e gerar emprego e retorno.
Como você faz para administrar todas as demandas pessoais e profissionais?
Quando você não é CEO, é fácil focar apenas no seu trabalho. O verdadeiro desafio é estar à frente da empresa como CEO, lidando com folha de pagamento, a gestão da equipe e a performance do time. Claro que me preocupo quando uma startup na qual investi não vai bem e tento ajudá-la, mas, como pouquíssimas dão errado, meu nível de estresse é baixo.
Para mim, a questão não é apenas o dinheiro, e sim o impacto real que podemos gerar. Quero ajudar a fazer mil exits, ou seja, apoiar mil empreendedores a venderem seus negócios e transformarem suas vidas.
Raio X – Anderson Diehl
Um fim de semana ideal tem… uma praia com ondas e com a minha esposa, surfando com as minhas filhas
Um livro: “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, de Dale Carnegie
Uma música: “Deixa a Vida Me Levar”, de Zeca Pagodinho
Uma mania: Não durmo sem responder todas as mensagens do WhatsApp. Não gosto de deixar as pessoas esperando
Sua melhor qualidade: Sou extremamente humano e altruísta. Gosto de ver as pessoas bem e se possível ajudá-las a ficar melhor