Em 2016, Ricardo Wendel embarcou na missão de levar uma antiga empresa de desenvolvimento de aplicativo para os Estados Unidos. Foi sem grana de reserva e precisou adaptar-se ao lugar e às pessoas. “Foi um dos grandes desafios da minha trajetória, mas também o que mais rendeu, pois tive a oportunidade de entrar no olho do furacão do Vale do Silício”, conta.
No meio do caminho, decidiu empreender novamente e fundou a DIVI-hub, plataforma de crowdfunding de investimento com foco em economia criativa. A startup nasceu no Vale do Silício e veio para o Brasil em 2020 com a proposta de passion investment, modalidade que permite às pessoas se tornarem sócias do que gostam e consomem, como projetos de entretenimento e ligados a criadores de conteúdo. A partir de R$10, é possível adquirir cotas de negócios, tendo direito a participação na receita ou nos lucros.
Homologada sob a instrução 88 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa atingiu no ano passado um marco inédito entre as plataformas de crowdinvesting no Brasil. Ela captou R$ 1 milhão em apenas 42 minutos para o projeto de inauguração da Love Cabaret liderado pelo empresário Facundo Guerra, casa noturna localizada no antigo imóvel da icônica boate Love Story.
Desde então, Ricardo continuou aventurando-se no mercado de investimentos. Hoje, além de CEO da DIVI-hub ele também é sócio da Raketo, venture market criada por Fred Santoro, ex-head de startups da AWS, para ajudar as startups a fazerem captações de recursos e os investidores a encontrar boas oportunidades de negócio.
Em um papo de peito aberto com o Startups, Ricardo falou sobre suas motivações pessoais e profissionais, hobbies e planos com a DIVI-hub. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa.
Qual foi a sua motivação para criar a DIVI-hub?
Eu estava nos Estados Unidos com o meu atual sócio, David Farron, e conversávamos sobre possibilidades de negócio. Pode parecer brincadeira, mas vimos a capa do jogo Monopoly for Millennials, em que estava escrito “Forget real estate. You can’t afford it anyway” (“Esqueça bens imobiliários, você não pode pagar por eles mesmo”). Era uma outra versão do jogo em que ao invés de comprar propriedade o jogador toma um café no Starbucks e coisas do tipo. O jogo estava tirando sarro da geração, mas, de certa forma, era pesado porque as pessoas realmente saem das faculdades norte-americanas com muitas dívidas e não têm como comprar imóveis.
Começamos a estudar como fazer algo que devolvesse o senso de propriedade para as pessoas. Uma das coisas que sempre conversamos é que a fragmentação de ativos dá a chance das pessoas terem propriedade novamente e sentirem pertencimento por terem o pedaço de algo. Vimos que o equity crowdfunding seria para esse propósito. Lançamos o DIVI-hub quebrando a barreira do acesso aquisitivo, já que o usuário pode investir a partir de R$ 10.
Ao invés de investir só por ganância de ganhar dinheiro, dá para fazer por paixão. A proposta é olhar para Economia Criativa, games, YouTube, música, entretenimento, e empresas de impacto positivo para transformar o mundo. A intenção é que todas as pessoas consigam ter um pedacinho de algo, contanto que gostem daquilo. Assim, elas acabam ajudando a fazer o negócio dar certo.
Como tem sido empreender, justamente com uma plataforma de investimentos, no cenário atual do mercado em que o acesso ao capital está mais restrito?
Estamos no contra-fluxo, porque a proposta é que as pessoas invistam nas suas paixões e por R$ 10. É claro que todo o cenário afeta. Temos investidores qualificados, mas o sonho é que nosso investidor seja um não-investidor. Alguém que não está acostumado com isso. Em pouco tempo conseguimos muitos usuários na plataforma. Quem nunca pensou em investir o faz porque gosta da proposta do negócio.
Acho que não seguimos muito o fluxo do mercado, só se for no lado dos investidores qualificados. Esses sim têm mais perguntas e uma maior aversão ao risco. Qualquer plataforma de crowdfunding tem risco, porque envolve negócios iniciantes que podem dar certo ou errado. Mas nenhuma mitiga os riscos como nós. Além da possibilidade de retorno financeiro, oferecemos alguns benefícios como entrada gratuita para shows, experiências exclusivas, entre outros.
Em 2023 começamos a englobar a DIVI-hub em um sistema não só de investimento, mas também de bancos e benefícios. Olhando para o mercado de forma geral, espero que o juros baixem, entrem mais investimento no Brasil e que outras empresas se consolidem.
Quais são os seus hobbies? O que você gosta de fazer quando não está trabalhando?
Coisas de nerd. Gosto de jogar RPG. Comecei a jogar RPG com 6 anos, junto com meu irmão. Hoje tenho 42, então já faz um tempo. Todo fim de semana a gente se junta para jogar, é um dos hobbies que mais gosto. Também gosto de ler; o que mais me prende é fantasia e ficção científica. Mas também leio suspense, romance histórico e biografias.
CEO da DIVI-hub, sócio da Raketo, pai. Com tantas tantas responsabilidades, como você faz para dar conta de tudo?
De fato, há poucas horas no dia. Nem sempre é possível fazer tudo. Mas faço questão de voltar para casa, dar banho no meu filho e ficar com ele. Dá tempo de fazer se as coisas são feitas com vontade. É claro que dá trabalho, mas o que eu faço – Raketo, DIVI-hub e família – não chega nem aos pés de uma mulher que sai de casa às 3h da manhã para pegar ônibus, tem dois empregos e quando volta tem que cuidar de toda a família. É ridículo eu falar que sou um coitado. Se organize que dá para fazer, inclusive o RPG no domingo.
Para mim, sucesso é estar feliz. Só. Tem muito trabalho que talvez seja insucesso, você pode estar tão ruim de saúde ou tão preocupado que não aproveita o que está em volta. Sucesso é 100% felicidade, sua e de quem está com você. Um sucesso mais exacerbado é ter a certeza de que algo que você fez está fazendo bem para as outras pessoas, que algo serve ao propósito e fez diferença na vida de alguém.
Como você enxerga seu futuro profissional? Pensa em empreender novamente?
Estou focado na DIVI-hub, mas ela proporciona outros negócios paralelos. Vamos lançar alguns projetos originais da DIVI-hub ao longo do ano. Em termos de ambição de carreira, esse é um negócio muito interessante e consigo deixar um legado de criar a mecânica das pessoas participarem do que elas quiserem. Não vou ficar bilionário e nem quero, não é essa a intenção. Quero fazer um negócio bacana, talvez mudar para um lugar mais tranquilo com meus 12 cachorros. Não sei para onde vou, quem sabe um lugar na Europa. Mas também gosto muito do Brasil, não teria problema de ficar, meu filho é brasileiro. A ideia é seguir com muito empenho.
Raio X – Ricardo Wendel:
Um fim de semana ideal tem… Família, churrasco e RPG
Um livro: “A Narrativa de Arthur Gordon Pym”, de Edgar Allan Poe
Um prato preferido: Lasanha
Uma mania: Roer as unhas
Como gosto de relaxar: No sofá, vendo série com a minha mulher e uma taça de vinho
Sua melhor qualidade: Tranquilidade