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5 Minutos com: Thiago Bonini, CEO, Vidia

Thiago Bonini fala sobre motivações para empreender, perspectivas de mercado e a importância do equilíbrio profissional

Thiago Bonini, CEO da Vidia
Foto: Divulgação/Arte por Startups

Thiago Bonini passou boa parte de sua trajetória atuando em fundos de investimentos. Formado em advocacia, ele trabalhou na área de M&A no escritório Pinheiro Neto Advogados, foi membro do conselho da Movile, executivo na Naspers e sócio-fundador da Yellow Ventures. Mas ainda não se sentia realizado profissionalmente.

A mudança de carreira veio depois de passar pela angústia de ter um filho recém-nascido internado após uma cirurgia. A experiência levou à criação da Vidia, plataforma digital que oferece pacotes cirúrgicos em hospitais particulares para pessoas que não possuem plano de saúde, com diversas opções de pagamento.

Lançada oficialmente em 2021, a healthtech foi acelerada pela Eretz.Bio, hub de inovação do Hospital Albert Einstein, e selecionada como ScaleUP Endeavor. Desde sua fundação, deu acesso à saúde para mais de 500 famílias em São Paulo e Rio de Janeiro. Em setembro, levantou um aporte seed de R$ 9 milhões em rodada liderada pela Caravela Capital.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Thiago falou sobre as motivações para empreender, perspectivas de mercado e a importância de achar um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa.

Você é um advogado de formação. O que te motivou a fazer carreira na área de investimentos?

Tive uma carreira breve como advogado, em lugares super legais como o escritório Pinheiro Neto Advogados. Não tinha nada de errado especificamente, mas eu não muito estava satisfeito e não sentia que estava usando minhas habilidades mais naturais. Acabei indo trabalhar em uma empresa de investimentos em startup, fui pelas pessoas que estavam envolvidas no projeto porque queria trabalhar com quem eu admirava. Mirei nas pessoas e encontrei outra coisa muito legal: o ambiente de inovação. O mercado ainda era bem incipiente no Brasil, estamos falando de 2010. Mas já via que isso tinha potencial de mudar a vida das pessoas.

Qual foi a sua motivação pessoal para focar no segmento de saúde e fundar a Vidia?

Uma das coisas que me ajudou na jornada empreendedora foi estudar sobre estoicismo, resiliência e outros conceitos. Aretê é um conceito de excelência que basicamente significa fazer algo que você gosta de maneira costumeira, mas no nível mais alto que poderia fazer. Eu tinha a insatisfação de nunca ter tido o Aretê na minha vida profissional, e o empreendedorismo alinhou isso.

Eu queria empreender e comecei a pesquisar setores com potencial de ter bastante impacto, como saúde e educação. Mas o que me motivou a fundar a Vidia foram algumas experiências pessoais. A maior delas é que quando o meu filho mais velho nasceu, o Felipe, ele fez uma cirurgia e ficou 40 dias no hospital. Hoje ele está bem, mas aquele foi um momento super apreensivo para a nossa família. 

Ficou muito claro os incentivos errados na saúde. Era para ele ficar no hospital por apenas 10 dias e acabou ficando 4 vezes mais. O hospital segurou ele um pouco e no fim do processo quase tivemos que brigar para que meu filho fosse liberado. Notei que talvez houvesse alguma coisa errada no segmento, e comecei a pesquisar a respeito. O desafio foi tomar a decisão de empreender com quase 40 anos, tendo um filho de 2 anos e outro a caminho. Ainda não tinha cofundador, isso foi algo que formei no processo, e não sabia o que queria fazer na área da saúde. Eram muitas incertezas ao mesmo tempo. 

Peguei assuntos que adorava estudar e estou empregando na prática. Me dá uma satisfação muito grande ver que estou vivendo de acordo com o Aretê, que leva à felicidade e permite fazer algo que contribui de alguma forma para o universo. É como se a sua peça nessa gigante engrenagem estivesse rodando como deveria.

Como tem sido empreender em meio a tanta instabilidade no mercado?

Tem um lado obviamente difícil, porque tudo fica mais escasso, seja investimento ou pessoas. Quando o mercado estava na moda tinham mais pessoas boas querendo trabalhar em startups. Por outro lado, temos uma super oportunidade: empresas em que as circunstâncias de mercado impõem mais responsabilidade e disciplina têm muito mais chances de dar certo.

Recentemente li um post mortem da Neta, startup mexicana que rodou durante 15 meses, captou mais de US$ 10 milhões e já fechou a operação. Esse, assim como outros casos, é um reflexo de um mercado de muita bonanças que fez histórias de alto crescimento e também de queda muito rápida. Como a Vidia atua no mercado de saúde com uma tese que, embora relevante não seja hypada, sempre fomos diligentes, com a cabeça de formar uma empresa que de fato parasse em pé no longo prazo.

Seguimos com essa visão, mesmo capitalizados como estamos hoje. A mensagem interna é sempre: vamos seguir o nosso caminho e achar o product market fit. Nada muda diante do cenário atual, e felizmente estamos com caixa, o que facilita.

Ao longo da sua carreira você mudou de lado na mesa de negociação, passando do lado do investidor para o empreendedor. De que forma suas experiências no passado te ajudam a tocar a Vidia atualmente?

É bem mais difícil no lado do empreendedor. Tem gente que me acha louco por ter mudado de posição na mesa. Infelizmente o mercado de startups e venture capital ainda tem muita assimetria de informação. Tem vários empreendedores excelentes que acabam sofrendo, não conseguindo nem acessar os fundos. 

Acho que minha experiência anterior ajudou muito. Às vezes, consigo acessar pessoas com quem já tive contato profissional e sei mais ou menos o que se espera do outro lado. Mas a gente só aprende algo novo fazendo, então também me sinto aprendendo bastante nessa jornada empreendedora, vivendo o outro lado da história.

Como você faz para conciliar a vida profissional com pessoal?

Me sinto menos impulsivo que a média dos empreendedores. Comecei a me dedicar 100% à Vidia um pouco antes da pandemia. Passava o tempo todo pesquisando e estudando sobre o setor de saúde. Em 2020, perdi peso e estava com 10 kg a menos do que tenho hoje. Chegou um momento em que percebi que não estava saudável; não fazia esporte e me alimentava mal.

A grande reflexão que carrego daquele momento é que isso é uma maratona e não adianta correr como se fosse uma corrida de 100 metros. Então hoje cuido para não trabalhar até tarde, e fazer pausas para ficar com a família, sou casado e tenho dois filhos. Incorporei outras atividades na rotina – como osteopatia, yoga, exercícios físicos e futebol – e as trato como algo inegociável tanto quando uma reunião marcada na agenda.

Sou um nerd improvável: embora não fosse um ótimo aluno na escola, descobri temas que gosto e estudo com frequência. Tudo que diz respeito a startups, produtos, growth, cultura e desenvolvimento pessoal. Esse é um super hobby. Meu final de semana é dedicado para os filhos, a atividade que mais faço com o mais velho é jogar Uno. E com o mais novo, de quase 3 anos, é brincar de pega-pega e esconde-esconde.

Como você vê o seu futuro profissional? Pensa em fazer uma saída e empreender novamente?

Sou meio ambicioso. Vejo a Vidia como uma empresa que deveria criar uma terceira via de saúde. De um lado existem os planos de saúde e do outro, o Sistema Único de Saúde (SUS), um sistema muito bem desenhado mas que é sobrecarregado. Quando penso na Vidia como 3ª via, é uma forma das pessoas consumirem saúde privada fora dos planos de saúde, e ainda tem muita lenha para queimar nesse sentido.

A ideia é continuar aqui e fazer o melhor que puder para a Vidia. Se em algum momento fizer sentido ter outras pessoas na minha posição e agir de outra forma que esteja mais alinhada à geração de valor, vou fazer. O que queremos é o longo prazo.

Raio x – Thiago Bonini

Um fim de semana ideal tem… Brincadeiras com os meus filhos. Também gosto de cozinhar e cuidar do meu minhocário e do meu pomar. São coisas que me desestressam e estão totalmente fora do que faço no dia a dia.

Um livro: “A Coragem de Não Agradar”, de Fumitake Koga e Ichiro Kishimi. É um bate-papo entre um professor e uma pessoa menos experiente. Uma conversa de forma muito leve que passa o quanto temos que nos desvincular da opinião dos outros e viver o que somos da maneira mais verdadeira.

Algo com que não vivo sem: Previsão do tempo. Sou viciado em aplicativos que informam o tempo, fico checando como vai estar em 10 dias, hora a hora, se vai começar a chover. Estou sempre ligado nisso. Vou trabalhar de bicicleta, então preciso saber como estará o tempo.

Uma música favorita: “Todos Estão Surdos”, de Roberto Carlos.

Um prato preferido: Recentemente minha mãe fez um arroz de camarão que estava delicioso.

Sua melhor qualidade: Estar aberto a aprender. Prefiro passar a vergonha de fazer a pergunta e receber um feedback duro, sempre pensando em como isso me ajudará no futuro.