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99Food: entregadores de Goiânia criticam operação e uso de OLs

Categoria alega atrasos nos pagamentos e retaliações por parte de empresas intermediárias contratadas pela 99Food

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99Food
99Food. Crédito: divulgação

A 99Food retomou sua operação no Brasil depois de dois anos, com um projeto piloto em Goiânia, antes de partir para um lançamento em outras capitais. Entre as estratégias anunciadas pela empresa para competir no disputado mercado de delivery no Brasil, estava um foco especial nos entregadores, com “mais oportunidades reais de ganho e um compromisso com o futuro da categoria”. No entanto, entregadores cadastrados na plataforma alegam que a experiência até o momento não tem sido positiva.

Como diferencial para a categoria, a 99Food, controlada pela chinesa DiDi, havia garantido um valor mínimo de R$ 250 por dia para entregadores que realizassem 20 serviços no mesmo dia (15 com passageiros ou entregas de objetos e 5 entregas de comida). Em postagens nas redes sociais, porém, grupos de entregadores reclamam que os pagamentos têm vindo com descontos não justificados e que há problemas na comunicação com a empresa.

Uma das críticas da categoria, segundo Marcione Araujo (conhecido como Ferrugem), presidente da Associação dos Entregadores e Motoboys de Aplicativo de Goiás (ASSEMAG), é que a 99Food tem atuado em parceria com Operadoras Logísticas (OLs), modelo em que essas empresas atuam como intermediárias entre o aplicativo e os trabalhadores.

O representante dos entregadores explica que, apesar de os motoboys terem a opção de trabalhar por meio dessas OLs ou diretamente com o aplicativo, muitas dessas empresas começaram oferecendo um valor atrativo – R$ 600 de segunda a sexta-feira – para que o entregador pudesse trabalhar em todos os turnos. No final de semana, o valor podia chegar a até R$ 720 por dia.

“Mas aí está o problema: os entregadores não estão recebendo os valores completos que foram propostos pelas OLs e pagos pela 99Food. Em alguns dias, o repasse pago diariamente pela 99Food vem com um desconto médio de R$ 100 a R$ 200, o que se acumula ao longo da semana. Com isso, os entregadores acabam ficando com valores pendentes de pagamento que variam de R$ 200 a R$ 1 mil, sem qualquer explicação clara”, conta Ferrugem, em entrevista ao Startups.

Além dos descontos nos repasses, a categoria alega que alguns entregadores têm sofrido retaliações por parte das OLs, com retirada dos seus nomes da base de profissionais cadastrados nessas empresas ou impedimentos para que eles agendem corridas.

“As intermediárias acabam apenas dificultando a vida dos entregadores. O próprio iFood, principal concorrente da 99Food, já abandonou esse modelo de trabalho em algumas regiões do Brasil justamente porque não funciona”, afirma Ferrugem.

Retaliações

O Startups conversou com uma entregadora de Goiânia, que se cadastrou na 99Food e começou a trabalhar por meio de uma OL. Segundo ela, os pagamentos pelas corridas deveriam acontecer sempre no dia seguinte ao dia trabalhado – ou seja, para corridas realizadas numa quinta-feira, por exemplo, o repasse seria feito na sexta. Porém, após os primeiros 9 dias, a entregadora, que não quis ter seu nome revelado, disse que não havia recebido qualquer pagamento. Os valores devidos somavam mais de R$ 3 mil.

Ela começou a trabalhar no dia 15 de junho e recebeu o primeiro pagamento apenas no dia 24. Antes disso, tentou contato inúmeras vezes tanto com a OL, quanto com a 99Food, mas sem sucesso. Ao buscar informações com a OL, a entregadora era informada de que a empresa não havia tido retorno da 99Food. E, ao buscar os canais da 99Food, ela não encontrava atendentes que soubessem resolver o problema.

“No SAC do aplicativo eu só conseguia falar com um robô e não tinha nenhuma opção parecida com a minha necessidade. Quando finalmente selecionei qualquer opção para poder falar com um atendente, eles não sabiam dar nenhuma instrução”, conta a trabalhadora.

A entregadora insistiu no contato com a OL, pedindo soluções para o problema, e então foi removida do grupo de profissionais da empresa, pouco tempo depois de ter tido seu pagamento depositado.

“Caiu cada corrida absurda para mim, e eu nunca recusei. Fiz todos os plantões, porque estava precisando. Mas senti que foi uma retaliação sobre a exigência que eu fiz de ter um retorno sobre o meu problema”, diz a profissional.

Período de testes

O uso de OLs foi praticamente descontinuado pelo iFood após reivindicações dos entregadores, que reclamavam de problemas de pagamento, jornadas abusivas, casos de assédio, entre outras questões.

Segundo Ferrugem, que representa os entregadores de Goiânia, as reclamações da categoria estão sendo levadas para a 99Food, na esperança de que sejam adotadas medidas para evitar que esses problemas continuem ocorrendo.

“Sabemos que a 99Food está reiniciando sua operação no Brasil com um projeto piloto, começando por Goiânia, e que alguns problemas estão surgindo nesse processo. Com a experiência que temos, estamos apontando esses erros para que a plataforma consiga corrigir e se tornar um aplicativo bom para os entregadores que nela trabalham. Comunicação clara, valorização do profissional e uma remuneração justa são pilares essenciais para que o aplicativo funcione bem para quem está na rua fazendo as entregas. Esperamos que a 99Food esteja sempre aberta ao diálogo, para que possamos, de forma efetiva, ajudar a moldar um aplicativo que proporcione uma boa experiência para os entregadores”, disse.

Em nota, a 99Food ressaltou que segue em diálogo com os entregadores:

“A 99Food informa que detectou e solucionou os casos recebidos pelos motociclistas de Goiânia, durante o período de testes e lançamento na cidade. A empresa trabalha com operadores logísticos, prática comum e estabelecida em operações regionais de entrega, que são responsáveis pela gestão dos entregadores em sua plataforma, assim como o suporte e o descredenciamento. Ainda assim, há a possibilidade dos motociclistas se cadastrarem diretamente como parceiro da 99. A companhia reafirma que segue em diálogo com os entregadores parceiros em busca de soluções para atender melhor todo o ecossistema de entrega de comida”.