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99Hunters ajusta modelo com foco em recorrência e aposta em IA

Startup investida por Bossa Invest e Prana Capital ajuda empresas a alcançar objetivos de contratação mais rapidamente

Headhunt
Headhunt (Foto: Canva)

A 99Hunters, marketplace que conecta empresas em busca de profissionais a uma rede de headhunters experientes, vive um momento chave para acelerar sua expansão e impactar cada vez mais o mercado de recrutamento por meio da tecnologia. A empresa está investindo em um novo modelo de negócio para gerar receita recorrente e aperfeiçoando sua plataforma com ferramentas que tornem os processos de recrutamento e seleção mais eficientes.

“Até agora, a gente vivia muito da vaga existir ou não”, afirma Felipe Mollica, CEO e cofundador da 99Hunters, em conversa com o Startups. “Boa parte da receita vinha de contratos spot [imediatos], que não são tão lineares. Estamos fazendo uma grande mudança de modelo de negócio para trazer receita recorrente,  por meio de assinatura e upselling, e acho que isso vai mudar o jogo”, diz o executivo.

Fundada em 2016, a 99Hunters atende desde startups até empresas mais consolidadas, ajudando-as a alcançar seus objetivos de contratação mais rapidamente. Entre os clientes, estão nomes como Sodexo, Vivo, Warner e Pipefy, além de mais de 2 mil recrutadores qualificados em diferentes especialidades para que companhias dos mais variados setores consigam preencher suas vagas com eficiência e precisão.

Atualmente, a startup oferece três planos, que variam com base no tipo de vaga, no salário, nas funcionalidades disponíveis e no tempo de serviço prestado – podendo ser um, três ou cinco meses. A plataforma também conta com opções de créditos e pacotes de vagas com serviços mais baratos do que de uma consultoria tradicional de executive search.

“Com o tempo, fomos melhorando o nosso modelo de negócio. Temos uma pegada de ecossistema e comunidade, com recrutadores que estão conosco desde o início e cresceram muito com o apoio da 99Hunters. Hoje, a gente consegue resolver as principais dores das empresas com qualidade e velocidade, avaliando mais profissionais em um tempo menor. Como resultado, conseguimos oferecer um preço mais acessível, com um quarto do que é cobrado pelas consultorias tradicionais”, explica Felipe.

Felipe Mollica, CEO e cofundador da 99Hunters
Felipe Mollica, CEO e cofundador da 99Hunters (Foto: Divulgação)

Virada de chave

A busca da 99Hunters por recorrência foi impulsionada por alguns fatores, entre eles, um próprio movimento do mercado. “A receita recorrente é muito valiosa. O venture capital já era muito favorável a este modelo, por contribuir para um negócio mais estável e com menores riscos. Mas isso se intensificou”, observa Felipe, destacando os impactos da virada do mercado nos últimos dois anos.

“Crescemos muito em 2021, atendendo startups e empresas de alto crescimento que estavam captando, dobrando de tamanho e contratando muitas pessoas. No entanto, depois nos deparamos com o desafio das demissões em massa que vêm impactando o mercado“, conta Felipe. As empresas que antes aumentavam seus times rapidamente, passaram a cortar custos e enxugar times, reduzindo de forma significativa o número de vagas abertas e a busca por recrutadores e novos talentos.

Olhando para o lado positivo, o contexto macroeconômico fez com que a 99Hunters acelerasse sua tomada de decisão para aumentar os investimentos em tecnologia, com o intuito de se tornar uma empresa menos serviço e mais de SaaS. Essa estratégia inclui o recente lançamento da Hunter Hero, ferramenta desenvolvida para transformar o trabalho de recrutamento ativo por meio da inteligência artificial.

“A IA funciona muito bem para uma série de tarefas burocráticas no dia a dia de um recrutador. Criar e preencher uma vaga implica em descrevê-la, informar quais serão as atividades do profissional, desenhar a estratégia de hunting, definir a faixa salarial, abordar a pessoa, analisar currículo, tirar dúvidas, dar feedbacks, entre outros processos – e a IA pode ajudar em todas essas etapas”, pontua Luciano Montezzo, cofundador da 99Hunters e responsável pela área de produto e tecnologia da companhia.

Segundo o executivo, o objetivo da Hunter Hero não é substituir os recrutadores, e sim facilitar seus trabalhos em todo o processo de recrutamento. “Não acreditamos em terceirizar a responsabilidade de recrutamento para a inteligência artificial, pois decisões de carreira envolvem a vida e a trajetória das pessoas. Por isso, acho que não devemos terceirizar a seleção de uma pessoa para um algoritmo, mas podemos usar o algoritmo para auxiliar as os responsáveis pela seleção para que eles tenham mais agilidade, eficiência e avaliem mais perfis em menos tempo”, diz Luciano.

Na prática, o Hunter Hero é uma espécie de ATS (software de gestão de processos de recrutamento e seleção) mas com alguns diferenciais. “Grande parte dos ATSs do mercado foca apenas nas grandes empresas. Nós olhamos também para os recrutadores autônomos e as consultorias, para que os headhunters trabalhem vagas de diferentes clientes com uma série de funcionalidades”, explica. Com a ferramenta, o recrutador pode gerenciar todas as vagas em uma só plataforma, customizar as etapas dos seus processos seletivos para se adequar às suas necessidades, criar e gerenciar uma página profissional para sua consultoria, acompanhar dados em relatórios de todos os processos, entre outras funcionalidades.

Luciano Montezzo, cofundador da 99Hunters
Luciano Montezzo, cofundador da 99Hunters (Foto: Divulgação)

Próximos passos

“A partir do momento que a gente tiver o track record do novo modelo de negócio, com uma base sólida de assinatura e receita recorrente, provavelmente vamos olhar para uma nova rodada de investimento. Mas isso deve ficar para o fim de 2024”, revela Felipe. A 99Hunters anunciou a sua primeira captação em 2022 – um aporte de R$ 2,1 milhões em rodada pré-seed liderada pela Prana Capital com o coinvestimento da Bossanova (hoje Bossa Invest) e investidores-anjo, além do fundo europeu COREangels Atlantic.

“Comprovamos a nossa primeira tese: o marketplace de headhunters funciona e cresce. Depois, resistimos a um momento bastante delicado do mercado e conseguimos nos reinventar. Agora, precisamos provar a nova tese com crescimento e recorrência”, destaca o CEO da 99Hunters. Ele acrescenta que a startup já alcançou o break even e é lucrativa.

O intuito, segundo ele, é ser a solução mais inteligente de recrutamento e seleção – o que inclui usar IA quando ela é bem-vinda e não utilizá-la nos momentos em que o lado humano é necessário. Sem abrir números específicos, Felipe afirma que a projeção da startup é dobrar o faturamento em 2024, somando o marketplace e o modelo de assinaturas, mas sem deixar de lado o crescimento sustentável e a lucratividade do negócio.