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"Competição aos grandes bancos é bem-vinda", diz presidente do BC

Instituições tradicionais têm investido em inovação para se manterem relevantes em um cenário cada vez mais dinâmico e digital

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Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central do Brasil
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central do Brasil (Foto: Divulgação/Febraban Tech 2025)

As iniciativas de inovação promovidas pelo Banco Central do Brasil nos últimos anos, como o lançamento do Pix, a implementação do Open Finance e a modernização do arcabouço regulatório, vêm transformando de forma significativa o ecossistema financeiro nacional. As medidas abriram espaço para uma nova geração de players, como fintechs e bancos digitais, que, com uma cultura ágil e base tecnológica, conquistaram mercado, aumentaram a competitividade e passaram a desafiar o status quo das instituições tradicionais.

Apesar do aumento da concorrência, o movimento não tem sido encarado com resistência pelos grandes bancos. Pelo contrário: muitas instituições tradicionais têm acompanhado de perto as transformações e investido em inovação para se manterem relevantes em um cenário cada vez mais dinâmico e digital. Pelo menos, é o que observa Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central (BC).

Em sua fala na abertura do Febraban Tech 2025, o executivo destacou que os próprios incumbentes valorizam o novo contexto e estão em busca de adaptação. “Sempre escuto dos presidentes dos grandes bancos que a competição é bem-vinda”, afirmou Galípolo.

Ele explicou que as instituições financeiras já consolidadas no país veem esse movimento como um estímulo para inovar e se manter competitivas. “Novos players surgiram no setor de tecnologia, relacionados ao setor financeiro, e, com isso, introduziram maior competitividade. Sou testemunha do quanto os próprios incumbentes souberam trabalhar com esse ecossistema e se atualizar”, acrescentou.

O presidente do Banco Central considera o ambiente de competição e colaboração fundamental para o sucesso da agenda de inovação no país. Segundo ele, a modernização impulsionada pelos novos players, aliada à disposição das instituições financeiras tradicionais em inovar e dialogar com esses atores, tem sido determinante para a transformação do sistema financeiro brasileiro nos últimos anos.

“O BC promoveu uma verdadeira revolução no sistema financeiro brasileiro, com inclusão financeira, novos produtos e inovações, a partir de uma infraestrutura que permitiu o desenvolvimento de novos serviços para a população pelos entes privados, além de mudanças legais que abriram espaço para mais inovação no sistema”.

Com a palavra, os bancos

“Os grandes bancos abraçaram a concorrência e a competitividade há muito tempo”, afirmou Mario Leão, CEO do Santander Brasil. “A agenda de inovação, transformação e concorrência fomentada pelo Banco Central e, principalmente, pelos clientes, fez muito bem para a indústria – inclusive para os bancos tradicionais e incumbentes. Todo mundo acelerou suas transformações e está, de forma muito mais competitiva, atuando em prol da principalidade e de uma relação mais presente no dia a dia dos clientes”, destacou.

A visão do executivo é usar a tecnologia para oferecer uma customização dos serviços, como se houvesse um banco para cada cliente. “Em breve, lançaremos o superapp do Santander. A ideia é que cada cliente se sinta dono do aplicativo”, afirmou. O foco está na hiperpersonalização, com a capacidade de entender e diferenciar cada usuário, seus hábitos, padrões de consumo, momentos e contextos. “A Gen AI e toda a transformação de dados estão sendo usadas para entregar ao cliente uma experiência contínua, absolutamente precisa e personalizada.”

Para Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual, a digitalização foi fundamental para a construção de um novo negócio. “Aceleramos essa jornada a partir de 2016 e tivemos que evoluir a plataforma. Hoje, temos ganhos de produtividade de 75% em atendimento e 30% em programação, números esclarecedores. Se seguirmos evoluindo, teremos resultados”, afirmou.

O executivo destacou ainda que o cenário será cada vez mais desafiador. “Temos uma certeza: a competição vai aumentar cada vez mais. Se não acompanharmos essa evolução tecnológica, com a personalização e a utilização de dados para se diferenciar, não vamos conseguir seguir crescendo. Felizmente, temos conseguido”, completou.

O painel “O futuro dos bancos: Crescimento, competitividade e novos modelos de negócio” contou ainda com a presença de Carlos Vieira (Caixa), Marcelo Noronha (Bradesco), Milton Maluhy Filho (Itaú Unibanco), Taciana Medeiros (Banco do Brasil) e João Borges (Febraban). A visão entre os presidentes é unânime: não há sobrevivência sem tecnologia.

“Não há como ter um banco sustentável para o futuro sem investimento em tecnologia. No entanto, é importante tratá-la de forma estratégica”, ressaltou Taciana Medeiros, presidente do Banco do Brasil. Segundo ela, no caso do BB, esse movimento está ancorado em alguns pilares. “A gente não investe em tecnologia pela tecnologia. O investimento na escalabilidade do conhecimento em IA e no desenvolvimento de novos modelos vem acompanhado de um apelo por transformação cultural na base de funcionários do banco”, explicou.

Ela revelou que o Banco do Brasil capacitou mais de 65 mil funcionários ao longo de 2024. “O foco está no desenvolvimento tecnológico, no investimento em inovação, na aceleração da transformação digital e na inserção cada vez maior do banco em inteligência artificial generativa. Mas tudo isso com foco nas pessoas, sempre com o objetivo de entregar um banco para cada cliente”, destacou.

Milton Maluhy Filho (Itaú Unibanco), Roberto Sallouti (BTG Pactual), Mario Leão (Santander Brasil), Tarciana Medeiros (Banco do Brasil),  Isaac Sidney (Febraban), Carlos Vieira (Caixa), Marcelo Noronha (Bradesco) e João Borges (Febraban)
Milton Maluhy Filho (Itaú Unibanco), Roberto Sallouti (BTG Pactual), Mario Leão (Santander Brasil), Tarciana Medeiros (Banco do Brasil), Isaac Sidney (Febraban), Carlos Vieira (Caixa), Marcelo Noronha (Bradesco) e João Borges (Febraban) durante o Febraban Tech 2025 (Foto: Divulgação/Febraban Tech 2025)