A empresa alemã de pagamentos Wirecard – que em 2016 comprou a brasileira Moip por R$ 165 milhões para entrar no país – entrou hoje com um pedido de insolvência. A companhia alega não ter recursos para honrar US$ 1,5 bilhão em empréstimos com vencimento previsto para o fim do mês.
A medida, tomada depois de a companhia admitir que US$ 2,1 bilhões apresentados como recursos de seu caixa simplesmente não existiam, representa um revés para uma companhia que já foi considerada uma das mais promissoras do continente europeu.
Depois da notícia as ações da Wirecard fecharam o pregão cotadas as 3,53 euros, um recuo de 71,28% em relação a ontem. Na quarta-feira da semana passada elas valiam 104 euros.
Ainda não está claro como a empresa teria inflado seu balanço, ou por que razão (ganância? falta de caráter?). Mas o certo é que esse foi mais um dos episódios em que olhar para o outro lado e ignorar sinais de problemas na expectativa de que o crescimento futuro resolverá práticas ruins do passado não é o melhor caminho. Isso quase nunca acontece.
A companhia nascida nasceu em 1999, pouco antes do estouro da bolha das empresas pontocom. Em 2011, deu início a um plano de expansão internacional por meio de aquisições. Pouco depois. Em 2015, os questionamentos sobre suas práticas contábeis começaram a aparecer. Na época, o jornal Financial Times falava em 250 milhões de euros que pareciam não ter do caixa da companhia. A companhia negou a informação (chegando a processar a publicação por suas reportagens) e deu sequência a seu plano de expansão – que envolveu algumas aquisições controversas na Ásia e a compra da Moip no Brasil.
Em 2018 a companhia atingiu seu maior valor de mercado, avaliada em 24 bilhões de euros e passou a ser considerada a maior fintech europeia. No ano seguinte, novamente com suas práticas contábeis sob suspeita por denúncias reveladas pelo Financial Times, a companhia recebeu um aporte de US$ 900 milhões da Softbank em forma de uma dívida conversível.
Na semana passada a companhia anunciou que não divulgaria seu balanço de 2019 porque a auditoria EY se recusava a assinar os documentos por ter detectado US$ 2 bilhões faltando nas contas. Isso foi o estopim da crise que chegou ao auge no fim da semana passada quando Markus Braun, executivo que esteve à frente dos negócios por quase 20 anos pediu demissão.
Três dias depois, na segunda-feira, ele foi preso acusado de fraude contábil e por manipulação do mercado. Na terça ele foi liberado depois de pagar 5 milhões euros de fiança.
Nos próximos capítulos, a companhia deve ser comprada por algum concorrente na bacia das almas e Braun condenado por fraude.