Sequoia Capital | Foto: Shutterstock
Sequoia Capital | Foto: Shutterstock

A saída de Roelof Botha da liderança da Sequoia Capital marca o fim de um ciclo e o início de uma nova era para o venture capital. À frente da firma desde 2022, o executivo foi o responsável por conduzir a Sequoia em um dos períodos mais turbulentos da história recente do setor — marcado pela desaceleração dos valuations de tecnologia, pela separação de suas operações na China e Índia, por disputas internas e, principalmente, pela ascensão da inteligência artificial, na qual a gestora não conseguiu se destacar como líder.

Agora, com Alfred Lin e Pat Grady assumindo o comando como co-stewards, a transição simboliza mais do que uma mudança de liderança: representa um ajuste estratégico em um mercado que deixou de premiar apenas reputação e passou a exigir timing, adaptação e visão global. A dupla esteve por trás de algumas das apostas mais lucrativas da Sequoia em IA e outros setores.

Historicamente, a Sequoia sempre ocupou o topo da cadeia de prestígio do venture capital. Ser financiado pela firma era um selo de validação, uma chancela de que o negócio tinha o potencial de se tornar o próximo grande nome da tecnologia. No entanto, a Sequoia, que investiu cedo em empresas como Google, Apple, YouTube e Airbnb, vem perdendo o protagonismo na nova fronteira da IA.

Enquanto firmas como SoftBank Group, Lightspeed Venture Partners e General Atlantic têm participado de rodadas bilionárias de companhias como OpenAI e Anthropic, a Sequoia, fundada em 1972, precisou se contentar com participações mais modestas e apostas em empresas que aplicam IA, em vez de criá-la.

A Sequoia também atravessa um momento de autocrítica após uma sequência de decisões equivocadas que colocaram em xeque sua reputação de infalibilidade. A gestora sofreu com apostas malsucedidas em empresas como FTX, Twitter e ByteDance, além de ver o valor total de seus fundos despencar de US$ 85 bilhões para pouco mais de US$ 53 bilhões, segundo documentos da companhia.

Segundo o Financial Times, o modelo de sucesso autossustentável do VC — onde bons investidores atraem as melhores startups e vice-versa — está sendo testado. Os retornos médios de fundos de venture caíram para cerca de 8% ao ano nas últimas duas décadas, abaixo do desempenho de índices como o Nasdaq. Isso significa que, num contexto em que o capital é mais seletivo e o custo de oportunidade aumenta, estar no “timing certo” passou a ser tão importante quanto escolher a startup certa. A saída de Roelof Botha é, nesse sentido, um reflexo da necessidade de reposicionar a Sequoia diante desse novo ciclo.

Sob o comando de Alfred Lin e Pat Grady, a Sequoia deve adotar uma gestão mais voltada para o setor de inteligência artificial, ao mesmo tempo em que a gestora busca parecer menos politicamente partidária, após preocupações de alguns sócios em relação à liderança de Roelof Botha, segundo a Bloomberg.

A Sequoia enfrentou polêmicas neste ano após o sócio Shaun Maguire fazer comentários ofensivos sobre o então candidato a prefeito de Nova York, Zohran Mamdani, chamando-o de “islamista” e dizendo que ele “vem de uma cultura que mente sobre tudo”. Apesar de o sócio ter recuado parcialmente, as declarações geraram forte reação pública, e a diretora de operações da firma, Sumaiya Balbale, que é muçulmana praticante, pediu demissão em protesto contra a decisão da Sequoia de não puni-lo.

A decisão da troca de comando da Sequoia foi unânime e tomada por sócios, incluindo o próprio Roelof Botha e antigos líderes da firma, de acordo com a Bloomberg.

Alfred Lin, que ingressou na gestora em 2010, é conhecido por sua disciplina operacional e pelo sucesso com investimentos como Airbnb e DoorDash. Já Pat Grady é sócio há quase 19 anos e lidera os investimentos da Sequoia em empresas em estágio growth desde 2015, apoiando companhias como a ServiceNow e a plataforma de inteligência artificial jurídica Harvey.