Não deu nem 3 meses desde que a fintech Marvin, que atua com recebíveis de cartão de crédito, anunciou sua chegada ao mercado com um investimento da Mauá Capital e a companhia já está no noticiário mais uma vez com outra injeção de recursos. O novo aporte foi feito pela gestora Canary e por Eduardo Gouveia, ex-presidente da Cielo, Alelo, Livelo e Multiplus.
Assim como aconteceu em maio, a Marvin não abriu o valor captado. Dessa vez ela também não revelou o valuation atribuído a ela na negociação. A única informação é que o número é maior que os R$ 65 milhões apresentados 2 meses e meio atrás.
Mas porque fazer uma captação tão perto da outra? Segundo Bernardo Vale, cofundador da companhia, a ideia foi aproveitar o momento positivo para dar uma segurança de caixa para a companhia – você acompanhado o noticiário política e sabe que ano que vem tem eleição, certo? – e dar a ela condições de ser um pouco mais agressivo na estratégia.
Coisa aliás que ela já está sendo. A carteira de clientes já conta com mais de 20 nomes e equipe chegou a 22 pessoas, número que estava previsto para novembro ou dezembro. E ela ainda lançou um produto adicional à sua oferta de uso de recebíveis como meio de pagamento, o marvin.pay. O marvin.now é um marketplace de antecipação de recebíveis, algo que estava nos planos para ser colocado no ar só mais adiante.
“O volume foi muito maior que o planejado e vamos antecipar a meta de R$ 500 milhões transacionados que tínhamos para 2021. Só não estamos fazendo um volume muito maior porque a estrutura do sistema de registro de recebíveis não está funcionando da maneira como se esperava. Mas estão caindo muitas oportunidades boas no colo”, conta Bernardo.
Ele se refere às novas de recebíveis de cartões que entraram em vigor em 7 de junho. O que o Banco Central (BC) propôs foi que os recursos que lojistas têm a receber das operadoras de cartão possam ser repassados para outras empresas, enfraquecendo, assim, um importante componente de seu modelo de negócios.
Acontece que a implantação não aconteceu da forma como se esperava. Por problemas técnicos e práticas não muito espartanas de algumas empresas querendo defender suas posições atuais, a visibilidade dos créditos disponíveis no mercado ficou comprometida, reduzindo o efeito das novas regras.
O BC admitiu as falhas e tem tomado medidas para resolver a situação. A expectativa de Henrique Echenique, também fundador da Marvin, é que a situação se normalize mais para o fim do mês, quando o estoque de recebíveis passado praticamente secar, e o mercado começar a trabalhar só com operações feitas sob as novas regras. Uma operação de antecipação tem um prazo que normalmente varia entre 70 e 80 dias e o mercado é gigante: são R$ 2 trilhões movimentados em compras com cartão no país.
Como aconteceu a nova rodada
O estopim da nova rodada foi o anúncio do lançamento da empresa em maio. “Conversamos com uns 40 fundos que nos procuraram depois do lançamento. Mapeamos muita gente. Mas a maior parte oferecia dinheiro pelo dinheiro, aportar recursos em uma nova rodada”, conta Bernardo. Segundo ele, a abordagem da Canary foi diferente, na linha do “como a gente pode te ajudar”. Já Gouveia, se animou com o projeto ao saber dele por intermédio de alguém da Mauá. “Acho que fechamos com um perfil de investidores bastante multidisciplinar”, avalia Bernardo.
E veja como são as coisas. Olha a ironia. O executivo colocando dinheiro em um negócio que, tempos atrás, ele não iria gostar nada que existisse. “Tem sido uma jornada bem interessante. Olhar o mercado de fora para dentro e ver que tem muita oportunidade de entregar solução customizada e com muito foco na solução de uma dor do cliente: custo elevadíssimo na antecipação de recebíveis e risco de crédito alto para vender. Ampliar a competição traz um benefício enorme para todo ecossistema de pagamentos.”, diz ele. Capiche?
É, parece que esse Marvin aqui não vai deixar de trabalhar como um burro nos campos, como na música dos Titãs. Mas no final, a coisa caminha para dar pé.