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AfroSaúde mira B2B com saúde mental para pessoas negras

A healthtech terá como foco inicial os founders participantes dos fundos Semente Preta, do Nubank, e Black Founders Fund, do Google

AfroSaúde mira B2B com saúde mental para pessoas negras

De olho no avanço das discussões corporativas sobre saúde mental, a healthtech de impacto social AfroSaúde lançou oficialmente sua frente B2B. A nova divisão engloba a oferta de uma solução de terapia e educação sobre temas de saúde mental para empresas, e começa com os empreendedores dos fundos apoiados pelo Nubank e Google.

Fundada em 2020 em Salvador por Arthur Lima e Igor Leo Rocha, a AfroSaúde conecta quase 4 mil pacientes negros a 1,200 profissionais negros da área da saúde oferecendo consultas em diversas especialidades. Mais da metade da base de profissionais é composta por psicólogos.

O movimento de expansão para além da frente B2C surgiu de discussões entre a startup e grandes empresas, que relataram uma adesão baixa a serviços de terapia online por conta de uma falta de representatividade negra na base de psicólogos ofertada por outros serviços.

“Percebemos que muitas empresas estão começando a oferecer benefícios de saúde mental aos seus colaboradores, mas as pessoas não são todas iguais. A pessoa negra, que é nosso público alvo não usa esse benefício por não encontrar profissionais alinhados à expectativa dela e por não querer correr o risco de ficar falando o óbvio na terapia e ainda ser invalidada”, diz Arthur, em entrevista exclusiva ao Startups.

Os fundadores da healthtech notam que questões como o burnout acabam por ser exacerbadas pelo racismo estrutural e pela homofobia em ambientes profissionais. Segundo Igor, este cenário reforça a relevância de um atendimento psicológico e educação sobre questões de saúde mental direcionados a pessoas negras.

“Nossa proposta vai muito além das consultas, envolvendo também uma jornada completa com conteúdo sobre saúde mental e acompanhamento das pessoas através de métricas”, diz o empreendedor, acrescentando que além de reunir profissionais negros em diversas regiões do país, a plataforma também permite filtros por área de especialidade, como psicólogos focados em questões de raça, depressão ou ansiedade.

“[A plataforma B2B] não se trata de um benefício, e sim de uma solução para que colaboradores possam endereçar suas questões a partir desta representatividade que oferecemos, e então produzir mais”, ressalta Igor.

Foco em empreendedores

A AfroSaúde inicia as atividades da sua operação B2B atendendo os empreendedores participantes de dois programas para fundadores negros: o Semente Preta, fundo early-stage gerido pelo Nubank, e o Black Founders Fund, programa de aceleração e investimento do Google. A healthtech faz parte do portfólio de ambas as iniciativas.

“Enquanto se fala tanto de empreender e começar uma startup, temos poucas informações no Brasil sobre como está a saúde mental dos empreendedores. Muitos falam do dinheiro, mas pouco se fala da saúde dessas pessoas”, diz Arthur.

Na solução da AfroSaúde para empreendedores, estão inclusas trilhas de conteúdo e newsletters sobre temas que incluem produtividade e gestão de tempo, como parte do pilar de educação. Além disso, há a frente de psicoterapia individual, com psicólogos que tem vivências em linhas de atuação relacionadas ao trabalho. No terceiro pilar, a startup tem um método proprietário de monitoramento, que visa acompanhar aspectos como a qualidade de vida dos empreendedores.

“Essas pessoas que buscam investimento, tem enormes responsabilidades e cuidam de outros também precisam ser cuidadas. Isso vai refletir não só na saúde destes empreendedores, mas também reverberar na qualidade do trabalho exercido em suas startups, resultando em uma melhor gestão”, diz Igor.

O cofundador e CEO da AfroSaúde, Arthur Lima

Novas áreas de atuação

Para além da atuação junto a empreendedores, a AfroSaúde pretende ofertar seu produto B2B nas corporações através de grupos de diversidade racial, e a ideia é trabalhar com empresas para criar produtos customizáveis de acordo com as especificidades da população que irá usar o serviço.

A plataforma da healthtech não é restrita ao uso dos colaboradores das empresas. Por exemplo, organizações poderão usar a plataforma para apoiar ações de responsabilidade social com públicos específicos, como jovens periféricos.

“A nossa atuação B2B é customizável justamente pelo fato de que não somos todos iguais, então não vamos tratar todos da mesma forma em relação à saúde”, ressalta Igor, acrescentando que o produto inicial com foco em empreendedores ilustra as possibilidades de construção junto a empresas.

Outras formas em que a AfroSaúde tem avançado em B2B incluem uma atuação em projetos de responsabilidade social para empresas. Um dos clientes nesta frente é a Amil, que contratou a startup para atuar em escolas em Paraisópolis, em São Paulo, e no Morro da Providência, no Rio de Janeiro. Aqui, a ideia é levar a pauta de saúde mental para o ambiente escolar em comunidades, usando modelos de psicoterapia em grupo e educação preventiva.

O cofundador e COO da AfroSaúde, Igor Leo Rocha

Segundo Igor, o projeto, que está sendo conduzido com alunos do segundo e terceiro ano do ensino médio e trata de questões como raça e sexualidade para adolescentes, já começa a gerar frutos. “Quando a coordenadora da escola diz que percebe mudanças de comportamento entre os alunos, percebemos o efeito transformador do trabalho na saúde mental em nosso público-alvo e como estamos conseguindo escalar nosso produto de formas diferentes, desde a juventude até o mundo do trabalho”, pontua.

Em meio a um debate global sobre como plataformas de saúde mental estão lidando com dados confidenciais dos pacientes, Arthur ressalta que a AfroSaúde foi desenhada de acordo com as regras da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Segundo o empreendedor, há um cuidado especial com estas informações, sobretudo no que diz respeito a forma em que os dados que partem das diversas rodadas de monitoramento são repassados para as empresas.

“Desde o dia zero, tivemos a preocupação de fazer com que a LGPD fosse obrigatória na implementação da plataforma, já que tratamos com dados tão sensíveis”, diz o empreendedor, frisando que os dados individuais de atendimento permanecem sob sigilo entre o paciente e profissional, enquanto os insights para uso corporativo são agrupados e enviados para empresa de forma não-identificável.

Rodada à vista

Depois de ter sido investida pelo Google Black Founders Fund, o Semente Preta do Nubank e a We Are Family Foundation com capital semente, a AfroSaúde está se preparando para levantar sua Série A no segundo semestre deste ano. O valor ainda deve ser definido, mas os empreendedores já antecipam que não devem diluir muito seu stake na empresa.

A ideia dos founders é buscar uma rodada tradicional de venture capital, e buscar oportunidades tanto no Brasil quanto fora. Para impulsionar os esforços de fundraising em mercados internacionais, os empreendedores contam com o apoio de Luana Ozemela, investidora e CEO da DIMA, empresa que faz a ponte de negócios entre América Latina e o mercado árabe a partir do Qatar.

Segundo Arthur, a intenção é buscar fundos especializados em negócios de impacto social. “Queremos conversar com fundos de impacto, sobretudo aqueles com foco em diversidade. Achamos que isso faz toda a diferença e a conversa vai para outro lugar”, finaliza.