Um dia depois de anunciar o seu lançamento no Brasil, a Deloitte Ventures foi uma das convidadas do quarto Pitch Reverso, evento realizado nesta quarta (30) pelo Startups. Na ocasião, a empresa aproveitou para falar mais sobre os seus planos para atuar junto ao ecossistema de startups no país e usar seu cacife no segmento enterprise para gerar negócios inovadores através de veículos como os de Corporate Venture Capital (CVC)
Nas palavras da própria Deloitte, o plano é conectar grandes negócios, de empresas já bem estruturadas e estabelecidas, com as startups do mercado e impulsionar o crescimento dos agentes envolvidos nesses ecossistemas de inovação. A iniciativa já existe na multinacional há oito anos, com braços em sete outros países. Inclusive, no Canadá, a Deloitte Ventures chegou a gerar um fundo proprietário de US$ 150 milhões, com investimentos independentes da empresa-mãe.
No Brasil, o foco da Deloitte Ventures se dará em seis verticais: agro; tecnologia, mídia e telecomunicações (TMT); finanças, saúde, RH e legal. Quanto à tese de atuação junto às grandes empresas que compõem a sua clientela, a Deloitte focará em cinco modelos. Eles vão desde planejar, implementar e gerir as estratégias de inovação das empresas clientes, até criar relações com startups e estrturar veículos de CVC e CVB (Corporate Venture Building) para as corporações atendidas.
Segundo Gláucia Guarcello, líder de Inovação da Deloitte Brasil e responsável pela iniciativa no país, um dos focos da nova oferta é o de auxiliar as empresas em definir suas estratégias para melhor explorar o mercado no que diz respeito à inovação.
“Corporate Venture Capital é quando um negócio já estabelecido se engaja e investe em startups para criar oportunidades conjuntas de crescimento. O CVC possui por trás uma estratégia de negócios da empresa mãe”, explica Gláucia. A Deloitte Ventures chega ao País justamente com o propósito de ajudar as empresas que querem, de fato, encontrar parceiros que respiram inovação”, completa.
Já na interação com as startups, a Deloitte enumerou três modelos. Um deles é busca de oportunidades em parceria com as empresas, resolvendo problemas dos clientes de forma conjunta. Outra forma é o de smart money, com a Deloitte podendo fazer investimentos em participações de 5% a 39%. A companhia não maiores detalhes quanto ao tamanho dos cheques que podem ser assinados.
A última modalidade é a de M&As estratégicos, absorvendo startups para alavancar seu potencial in-house. Segundo Rafael Siciliani Nunes, consultor que apresentou a tese da Deloitte Ventures durante o Pitch Reverso, o M&A é um modelo que já foi feito com startups em outros países onde a Deloitte Ventures atua. “No Brasil ainda não temos um case disso, mas já temos a permissão para isso caso apareça uma oportunidade”, explicou o executivo.
Para ter uma prospecção ativa de novas startups, a Deloitte criou uma plataforma própria, chamada Match and Matters, que funciona como uma rede social gratuita para conexões de negócios. Segundo a consultoria, ela será um dos principais canais para a criação de oportunidades para a Deloitte Ventures.
CVC em alta
A chegada da Deloitte Ventures no Brasil é reflexo do amadurecimento dos CVCs no país. Em 2022, frente a um esfriamento do Venture Capital em geral, grandes empresas começaram a ganhar destaque com suas iniciativas próprias de aproximação e investimento em startups, e diversas gestoras já se movimentaram para aproveitar este momento.
Em termos globais, a modalidade cresceu 142% em 2021, atingindo a marca recorde de US$ 169 bilhões investidos, de acordo com o relatório State of CVC, da plataforma norte-americana de inteligência de mercado CB Insights. No Brasil, o volume de aportes de fundos CVC chegou a US$ 622 milhões de janeiro a julho de 2021, triplicando o valor investido em 2020, segundo dados do Distrito.
Só nos últimos meses, grandes organizações brasileiras como B3, Locaweb, Totvs, Renner e Valid lançaram seus veículos de CVC. Juntos, eles somam quase R$ 1,5 bilhão em aportes minoritários para startups de diferentes portes e setores. Outros grandes nomes, como Vale (R$ 520 milhões), Braskem (R$ 500 milhões) e Telefônica (R$ 320 milhões), também anunciaram seus CVCs este ano.
Por sua vez, players como MSW Capital, Vox Capital, Valetec Capital e Ventiur aumentaram sua presença como gestores dos veículos de grandes empresas interessadas em investir em inovação. Por exemplo, a Valetec atende os CVCs de marcas como Eurofarma (Neuron Ventures), Locaweb (LW Ventures), entre outras.
A MSW Capital também chamou a atenção do mercado este ano ao lançar o BR Startups, primeiro fundo multi CVC do país, reunindo nomes como Microsoft, Algar, BV, Monsanto e BB Seguros. Em junho ela lançou seu segundo fundo do gênero. Batizado de MSW MultiCorp II, o veículo mirou R$ 100 milhões em captação para impulsionar negócios de inovação nos próximos 5 anos e nasceu com 3 empresas investidoras: Moura Baterias, BB Seguros e AgeRio.
Ela também gere fundos particulares para o Banco do Brasil, que já investiu em startups como as fintechs Yours Bank e Bitfy, e para o Bondinho Pão de Açúcar. Chamado 110 Ventures, o fundo com a gestora do famoso destino turístico do Rio tem foco em acelerar startups inovadoras nas áreas de turismo, entretenimento, mídia e sustentabilidade.