A tecnologia é essencial para a gestão e mitigação de riscos no agronegócio. E isso se aplica não só aos desafios atuais enfrentados pelo setor, mas também para um melhor preparo do mercado e da sociedade para os impactos que estão por vir nos próximos anos.
“O Brasil provavelmente não vai liderar o mundo com suas fintechs. Mas pode sair na frente com o agro”, disse Roberto Rodrigues, professor emérito da Fundação Getúlio Vargas e ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, durante painel no Agro ao Cubo, evento realizado na terça-feira (13) pelo Cubo Itaú para promover aprendizagem e conexão para startups, produtores, investidores, líderes de inovação e entusiastas do setor agropecuário.
Na ocasião, o especialista apresentou o que chama dos “quatro cavaleiros do apocalipse”, ou seja, grandes fenômenos globais que afetam qualquer cidadão em qualquer lugar do mundo. São eles a segurança alimentar, a segurança energética (e a transição para a descarbonização), o meio ambiente e a desigualdade social. “Estou convencido de que o agro é a solução para estes quatro problemas”, afirmou. Ele destaca o agronegócio do chamado cinturão tropical, que abrange a América Central, América Latina, África subsaariana e parte da Ásia.
“Para que não haja fome no mundo, precisamos aumentar a produção global de alimento em 20% nos próximos 10 anos. Para isso, o Brasil tem que crescer 40%. Então, há uma demanda de fora para dentro para que a gente aumente a nossa produção, o que exige tecnologia, pessoas, mercado e políticas públicas”, explica Roberto.
Apesar do país ser uma potência global de agronegócio, o especialista reconhece que há desafios. Entre eles, o desmatamento ilegal, incêndios criminosos, invasão e grilagem de terras, garimpo ilegal, questões fundiárias, entre outros. “O Brasil precisa de uma estratégia integral para permitir o crescimento do agronegócio”, afirmou Roberto, citando elementos como políticas de renda, infraestrutura e logística, apoio ao comércio internacional e, claro, tecnologia – incluindo a digitalização, conectividade e produção de fertilizantes, insumos e bioinsumos, além do maior cumprimento de leis.
“Isso não envolve apenas o governo; é uma responsabilidade pública e privada”, pontua. Ele acrescenta que, no mundo conectado, o consumidor estará no centro das decisões. Além disso, haverá novos sistemas integrados de produção e comercialização, uma maior integração da área rural com a urbana e novas oportunidades de emprego.
Gestão de riscos
Durante o evento, Maria Carolina Zonete, executive management in forestry research na Suzano, falou sobre a grande dependência do Brasil de alguns insumos externos, principalmente relacionados aos fertilizantes. “Somos altamente dependentes de algumas fontes e, por isso, gente sente qualquer trepidação que aconteça na cadeia. O risco que temos hoje de dependência de insumos externos é muito latente”, disse.
Nesse contexto, a tecnologia deve ser utilizada como forte aliada para mitigar e administrar os riscos. “Temos que estar atentos ao monitoramento da produção e, para isso, o uso de tecnologias é fundamental para acompanhar o desenvolvimento da floresta, o surgimento de novas pragas e se há um desequilíbrio no ecossistema”, afirmou.
A executiva explicou que, embora essencial, o monitoramento por si só não é suficiente. “É preciso rapidez para identificar os riscos e ter protocolos de ação para saber o que fazer nessas situações – e a tecnologia nos ajuda a estar na frente deste processo”, explicou.
Maria Carolina atenta que as incertezas climáticas e os desastres ambientais são riscos cada vez mais frequentes. “Já são uma realidade enfrentada todos os dias, e para combatê-los precisamos fazer mais do que a previsão; exige preparação, resiliência e inovação contínua”, pontuou. Durante o painel, mediado por Mariana Bonara, cofundadora da Sette, o professor titular na ESALQ/USP e diretor do CCARBON/USP, Carlos Eduardo Cerri, ressaltou que, como consequência destas questões climáticas, o mundo já enfrenta impactos na temperatura e precipitação.
“Há um enorme potencial de sequestro de carbono em sistemas agrícolas, e podemos adotar práticas que ajudem a melhorar os sistemas produtivos para que a gente sofra menos. Vai ter um impacto, mas ele pode ser menor”, analisou. Neste contexto, as inovações tecnológicas podem ser aplicadas em uma série de práticas e ações de impacto positivo, como a recuperação das pastagens degradadas e sistemas de monitoramento e controle de pragas.
Em um terceiro painel, com a participação de Matheus Borella (Itaú BBA), Daniela Queiroz (Cargill) e Guilherme Bellotti (Itaú BBA), Alexandre Negrini, gerente de governança de riscos e conformidade da São Martinho, falou sobre o valor do uso de dados para otimizar a gestão de riscos e apoiar a tomada de decisões assertivas. “Não há dúvidas de que a tecnologia pode contribuir para a gestão de riscos, trazendo insights e informações relevantes, e nos ajudar a entender padrões e fazer predições”, destacou.
No entanto, a estratégia deve ser feita com atenção e objetivos bem definidos. “Se não estiver claro o que você procura, pode acabar se afogando nos dados. Além disso, tem que tomar cuidado com os modelos utilizados. Se for algo simples ou complexo demais, ou construído com premissas erradas, o sistema não será útil.