Ressonância magnética não é mais coisa só de ser humano, nem uma ferramenta usada apenas para a medicina. Com mais de 10 anos de experiência no mercado brasileiro, a Fine Instrument Technology (FIT) desenvolve aplicações para o agronegócio, com equipamentos de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) que permitem analisar diversos produtos da agroindústria, além de fazer a verificação de sementes e identificação de fraudes.
O negócio foi fundado em 2006, mas reformulado nos primeiros anos até chegar ao modelo atual. Com a mudança, a companhia deixou de comercializar aparelhos chineses e passou a desenvolver equipamentos nacionais e vendê-los no mercado. Os principais clientes são indústrias que processam as matérias-primas geradas pelo agro, seja soja, algodão, palma de óleo, entre outros.
“O mercado está mudando, assim como ocorreu com o setor da cana. Antigamente, ela era vendida com base no peso, em toneladas. Dependendo da maturidade do canavial, ele tinha uma produtividade menor, e os processadores perceberam que havia uma variação muito grande. Então, ao invés de pagar pelo peso, passaram a pagar pela quantidade de açúcar”, explica Silvia Azevedo, CEO da FIT.
Segundo a especialista, essa transformação revolucionou a indústria fazendo com que os agricultores adotassem um manejo mais sustentável, com mais cuidado para gerar maiores teores de açúcar e a maior produtividade possível na área.
“Isso está começando a acontecer no mercado das oleaginosas. Em 2022, a China protocolou um documento com a intenção de que a soja seja comprada pelo teor de óleo e proteína. A tendência é que haja uma exigência do mercado pelas concentrações de óleo e proteína, e o agricultor precisará estar atento a essa produtividade”, acrescenta Silvia.
Nesse cenário, a FIT criou um equipamento de baixo custo capaz de analisar, em cerca de 30 segundos, o percentual de óleo, proteína, gordura, umidade e acidez dos produtos agrícolas e diversos alimentos. “O aparelho funciona da mesma forma que o utilizado na medicina. Assim como a ressonância tradicional analisa várias partes e problemas do corpo, com a da FIT podemos avaliar o solo, semente e também o produto final. É uma aplicação bastante ampla no mercado agro-alimentar e vamos cada vez mais aumentar o leque de aplicações”, pontua a executiva.
Estratégias de crescimento
Quando Silvia e seu marido decidiram investir na FIT, eles não estavam muito familiarizados com a tecnologia e o funcionamento da ressonância magnética. Então, decidiram se aliar a especialistas do mercado e aproximar-se de centros de pesquisa experientes no tema. Foi quando chegaram à Embrapa Instrumentação, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária. O centro está localizado em São Carlos, no interior do estado de São Paulo, com o objetivo de viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da agricultura.
A aproximação levou a um acordo entre a FIT e a Embrapa Instrumentação, no qual todo o desenvolvimento dos equipamentos é feito em parceria com a organização. Assim, a startup consegue ampliar a aplicação da sua tecnologia e, em troca, a Embrapa Instrumentação recebe royalties das vendas do equipamento.
De 2010 a 2015, a deeptech operou com recursos próprios. Mas, desde então, participou de algumas iniciativas para acelerar os negócios. Entre elas, um investimento inicial como parte de projetos de pesquisa da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), agência pública de fomento à ciência, tecnologia e inovação em instituições públicas ou privadas; e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Em 2018, a startup recebeu um investimento-anjo de valor não divulgado e, no ano seguinte, um aporte da empresa NTAgro.
Para 2023
A solução para o mercado de exploração de óleo de palma atende clientes na Colômbia, Guatemala, Peru, Equador, Costa Rica e México. No Brasil, a startup afirma já ter atendido praticamente todas as empresas deste setor, e pretende diversificar os clientes e segmentos, com foco nos setores de algodão, soja, milho, amendoim, entre outros. A startup também está investindo no setor de carnes e produtos lácteos.
A companhia também pretende diversificar os mercados atendidos, aumentando a visibilidade internacional da FIT para ampliar as exportações. Segundo Silvia, isso está sendo feito por meio de parcerias com distribuidores internacionais em mercados como Estados Unidos, Europa e Ásia. Para acelerar os planos, a FIT está se preparando para iniciar uma nova rodada de investimentos, a ser concluída no início do próximo ano.
“Criar uma deeptech no Brasil é muito difícil. Apesar do crescimento do ecossistema de startups, com fundos e associações de anjos mais bem estruturados, a política do investimento vislumbra resultados mais rápidos, de olho em negócios que vão gerar um resultado em 4 anos e permitirão que o investidor triplique o seu investimento. Mas essa lógica não funciona para as deeptechs”, analisa Silvia.
Ela explica que startups de base científica e tecnologias profundas têm um processo lento de ganho de mercado e credibilidade. “Principalmente no modelo inicial da FIT, que era apenas venda de equipamentos. Esse é o pavor dos investidores, porque quando há uma crise, a primeira coisa que as empresas cortam é o investimento em materiais e equipamentos”, explica a CEO, acrescentando que a empresa sempre teve uma rejeição relativamente grande na busca por investimento.
Como estratégia, a FIT quer aumentar a possibilidade de gerar receitas recorrentes, um modelo mais atrativo para os investidores. Este ano, a startup vai lançar um software por assinatura, com o qual os clientes poderão analisar o equipamento e monitorar à distância a produção, o rendimento, as perdas e a manutenção.