Com cerca de quatro anos no mercado, a Allu chamou a atenção dos consumidores ao ser uma alternativa para quem deseja ter um iPhone, oferecendo planos de assinatura. Entretanto, de olho em um novo ciclo de crescimento, a startup agora quer ir além dos smartphones, oferecendo até cafeteiras e outros eletrodomésticos.
A diversificação no portfólio começou no ano passado, com a oferta de itens como Playstation 5, notebooks e, agora, chega a um novo estágio com uma parceria com a Nestlé. Ao se aliar com a multinacional do ramo alimentício, a startup mineira passou a oferecer planos de aluguel para máquinas Nescafé Dolce Gusto.
A novidade com a Nestlé começou a ser oferecida no fim de janeiro, e segundo o CEO Cadu Guerra, já teve uma boa aceitação até o momento. Apesar de não divulgar números, ele afirma que a experiência da Allu com o iPhone tem ajudado clientes a entender melhor os benefícios do aluguel de equipamentos.
“Os novos produtos têm repercutido super bem. A parte de novos produtos é recente, está gerando resultado desde cedo. A gente achou que começaria investindo para crescer, mas em pouco tempo já estamos crescendo para investir”, revela o CEO, em entrevista ao startups.
Segundo revela o próprio executivo, atualmente a base da Allu tem aproximadamente 22 mil assinaturas ativas – a maioria alugando iPhone – mas a expectativa é de que, com o impulso dos novos produtos, esse número chegue aos 50 mil até o fim do ano.
“Queremos, é claro, seguir crescendo, mas primeiro focamos em eficiência. Crescer a qualquer custo pode atraplhar essa sofisticação do serviço. A gente prefere chegar em 50 mil de forma bem eficiente, ver que tudo internamente está redondinho, com mecanismos de funding que fazem sentido e a rentabilidade melhorando”, explica.
Eficiência interna
Por falar em rentabilidade, Cadu explica que em 2023 a companhia fez ajustes dentro de casa para tornar sua modelo mais rentável, mesmo em um negócio de risco como o de aluguel de equipamentos. Vale explicar que, no modelo da Allu, o usuário paga pelo aluguel, e a startup se responsabiliza pelo seguro e pela manutenção do aparelho.
Por exemplo, a mensalidade por um ano de iPhone 13 pela Allu sai por cerca de R$ 170 reais – R$ 2 mil no total. Para comprar o mesmo aparelho, o consumidor teria que pagar entre R$ 3,5 mil e R$ 4 mil. Segundo Cadu, em um ano de aluguel cada aparelho já é “breakivado”, e no lado do consumidor ele pode comprar ou trocar de aparelho ao fim do contrato. “É bem mais prático do que o que muita gente faz quando quer trocar, precisando vender para um amigo, ou às vezes nem vende e fica com o aparelho parado”, avalia.
Falando em grana perdida, para se tornar mais eficiente, a empresa criou desde o seu início uma máquina interna para receber e reparar os aparelhos – ou no caso de trocas, recondicionar iPhones para novos clientes. Além disso, para bancar a compra de inventário, a companhia tem um veículo próprio, a Allu Invest, que emite títulos e os distribui dentro da própria base para comprar novos equipamentos.
Aliás, segundo Cadu, foi essa “máquina” que fez a Allu sobreviver em um mercado arriscado como o de aluguel de equipamentos. “O principal ponto que nos diferencia é que a gente construiu cada uma das habilidades que são necessárias pra fazer funcionar, enquanto outras focaram apenas em uma das partes e precisavam buscar apoio fora, o que impacta no custo”, pontua.
Essa busca por eficiência também se refletiu em contratações. No ano passado, a companhia foi ao mercado para trazer um novo CFO – o ex-Bradesco e Itaú Sergio Klaiman – assim como contratou profissionais para áreas como marketing e produto, além de reformular o conselho e reorganizar a estrutura internamente para ganhar mais agilidade “2023 foi um ano em que a gente olhou muito para simplificação e sofisticação do serviço. Andamos com a agenda de sofisticação de produtos internos – underwriting, manutenção, de gestão de ativos, melhorando os resultados”, explica o CEO.
Nascida em 2016 como Allugator, a Allu só veio a se tornar o que é hoje em 2020, depois de receber um cheque-anjo de Renato Freitas, fundador da 99. Desde então, a companhia tem se mantido no bootstrapping, financiada principalmente pela rede criada na Allu Invest, que já conta com cerca de 4 mil investidores. Segundo Cadu, este é o modelo que a companhia pretende manter no momento, mas agora que o mercado está “esquentando” novamente, as coisas podem mudar.
“Voltamos a observar (o mercado) com mais atenção. Não digo que não vamos fazer uma captação, mas tendo oportunidade com bons investidores, pode acontecer. Se fizermos isso, que seja com investidores de alto padrão, com algo que agregue para o negócio. Dinheiro por dinheiro pode fazer bem no curto prazo, mas pode afetar os planos do negócio”, avalia.
Mais produtos, mais assinaturas
Os iPhones ainda formam a grande maioria das assinaturas da Allu, mas segundo Cadu, a diversificação será um dos principais caminhos para ampliar a receita, principalmente aproveitando aqueles que já foram “convertidos”. “Tem melhorado muito a aceitação do mercado. A diferença que a gente sente em apenas quatro ano foi uma evolução muito rápida. Mais pessoas entendem a assinatura como parte do dia-a-dia”, destaca.
Conforme explica o executivo, o plano da Allu não é apenas trazer mais clientes para o modelo, e sim aproveitar essa base para vender novas assinaturas. Um exemplo citado pelo CEO é o da startup alemã Grover, que se tornou um sucesso em seu país natal com centenas de produtos oferecidos, rendendo 1 milhão de assinaturas em cima de uma base de 500 mil clientes.
“O que a gente tem acompanhado é essa métrica de quantos clientes a gente tem, versus o número de assinaturas ativas. Quero ter mais clientes, mas também estou interessado em que eles assinem mais produtos”, pontua.
Do outro lado, para atingir novos clientes e conscientizá-los, o plano da Allu é reforçar seu ecossistema de parcerias. Além do acordo com a Nestlé para o aluguel de máquinas de café, a startup entrou em marketplaces de meios de pagamento como PicPay e Livelo, de olho em novos canais de aquisição.
“Estamos fazendo movimentos para ficar mais ao alcance do consumidor e fazer o aluguel de equipamentos algo semelhante ao dos serviços digitais. Nossa aposta é menos em provar que essa é uma decisão melhor do que comprar e mostrar como isso pode ser uma nova rotina da vida dos consumidores. A visão é que em 10 anos o consumo por assinatura seja algo amplamente difundido, e nós queremos ser a ferramenta para isso”, finaliza.