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Ambev quer se firmar como plataforma tecnológica para ampliar ganhos

Alto escalão da gigante de bebidas detalha visão de inovação em evento em São Paulo; empresa aumentou time de TI cinco vezes em quatro anos

Divulgação/Ambev
Divulgação/Ambev

* por Charles Nisz, especial para o Startups

Depois de anos comprando empresas dentro e fora do Brasil, a Ambev mudou sua estratégia de negócios. Essa é a visão de altos executivos da empresa, exposta no Ambev Tech and Cheers, evento realizado para reunir todo o ecossistema de inovação e tecnologia ligado à Ambev – o evento aconteceu nesta quarta (3), em São Paulo.

Jean Jereissati, CEO da Ambev, diz que depois de acumular territórios no tabuleiro de War – a aquisição de empresas mundo afora – chegou a hora de pensar a empresa do campo ao copo. Ou seja, a ideia é interligar toda a cadeia produtiva e de valor da Ambev por meio de plataformas tecnológicas e de gestão.

“Passamos 20 anos focados em aquisições. Em 2017, resolvemos pensar qual seria o modelo para os próximos 20 anos da empresa”, afirmou Jean. A resolução da diretoria da Ambev foi focar na inovação de processos e do modelo de negócios. Para isso, a empresa passou de mil para cinco mil pessoas na área de TI.

A base dessa mudança está em duas plataformas tecnológicas, criadas dentro de casa. A Bees, criada em 2021, está voltada para os fornecedores e clientes; Já o Zé Delivery, criado em 2016, foca na venda direta ao consumidor – o site já responde por 6% das vendas da empresa. Somente no segundo trimestre deste ano, a Ambev vendeu 22 milhões de hectolitros de cerveja no Brasil.

Atualmente, 121 mil clientes da Ambev usam o Bees Bank. Cerca de 58% deles usam o site para estender o prazo de pagamento e 38% pagam diretamente no caminhão de entrega, seja pelo app do Bees ou por Pix. “Plataforma fechada é somente digitalização, nossos sistemas são abertos aos clientes”, disse Jean, em uma frase de efeito.

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Dentro do Bees, há um marketplace usado por parceiros para vender seus produtos. BR Foods, Pão de Açúcar e outras 18 empresas atualmente mantém cerca de dois mil produtos nessa vitrine virtual. A mais recente aquisição dessa carteira foi uma parceria com a PepsiCo para vendas no Brasil e nos EUA.

Jean Jereissati, CEO da Ambev | Foto: Ambev/Divulgação

O intuito da Ambev vai além do gerenciamento das vendas. “Muitos clientes têm dificuldade em gerenciar estoques, e nossa plataforma auxilia nisso”, disse o CEO. De acordo com a empresa, pelo Bees, o cliente pode ver quais produtos são mais vendidos na região e otimizar seus pedidos.

Um dos pontos-chave é a otimização das entregas. “Há produtos entregues uma vez por semana, outros precisam ser entregues todo dia por serem perecíveis. Com uma rota feita 100% por computador, um bar pode ter entregas diárias”, diz Eduardo Horai, CTO da empresa. Como resultado, cada caminhão consegue fazer 12% a mais de entregas.

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Os um milhão de pontos de venda atendidos pela Ambev demandam muita energia elétrica. A gigante do setor de bebidas tem realizado várias ações de forma a produzir cerveja com utilização de energia limpa. Agora, o foco é melhorar a sustentabilidade dos fornecedores e clientes da cadeia produtiva.

Para isso, a Ambev conta com a expertise da Lemon Energia, uma startup cujo intuito é ser um marketplace de energia limpa baseada em geração local, fundada por Rafael Vignoli e Luciano Pereira, CEO e CTO da empresa, respectivamente. A plataforma conecta usinas de energia limpa de um lado e pequenos e médios negócios de outro, explica Rafael.

Cerveja do futuro

Segundo Eduardo, a receita da cerveja do futuro é feita de “água, malte, lúpulo e tecnologia”. Ele fala com entusiasmo do Zé Delivery: “São mais de R$ 300 milhões em pedidos na plataforma, capaz de atender as cidades brasileiras com mais de 100 habitantes”, ressalta.

O pico de pedidos durante o clássico Corinthians x Flamengo pela Libertadores nesta terça-feira (2) faz a empresa esperar ansiosamente pelos 64 jogos da Copa do Mundo do Catar, nos meses de novembro e dezembro deste ano.

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Fernanda Faria, CPO do Zé Delivery, contou como a empresa desenvolveu o modelo de produto por trás da plataforma: “Nossa maior dificuldade foi fazer o usuário perceber que nosso preço era tão competitivo quanto o dos supermercados. As pessoas tinham a intuição que o delivery é sempre mais caro”.

“Realizamos inúmeros testes de usabilidade para ajudar o usuário a perceber as vantagens de comprar no Zé Delivery”, diz Otávio Sueitt, chefe da equipe de design da plataforma. “Não sabemos como e onde cada usuário compra no Zé Delivery”, diz o executivo, em referência à vasta gama de padrões de compra e perfis de consumidor. Ele acrescenta que a empresa testou “dezenas de tipos de promoções, banners e formatos de exibição de preço no checkout.”

O uso da tecnologia também impacta o core business da empresa – fermentação e transporte de cerveja. Rafael Pacini, diretor de produto da Ambev, diz que a tecnologia deve estar a serviço da cerveja e não o oposto. O executivo citou um estudo da Harvard Business School, que sugere que 70% dos US$1,5 trilhões gastos em tecnologia todo ano são desperdiçados.

“Como melhorar a experiência do cliente com a cadeia produtiva? Como coletar e analisar dados? O foco deve sempre estar no problema”, questionou Rafael. Ele usou a pandemia para exemplificar essa versatilidade: “Passamos a produzir álcool-gel e respiradores com rapidez no auge da pandemia”.

Para pensar a cerveja do futuro, a Ambev tem um centro de inovação em Guarulhos (SP). “Nessa planta, a ideia é testar e errar”, disse Danielle Ferreira, engenheira e mestre cervejeira: “Temos fábricas de diferentes tecnologias de produção de cerveja e precisamos interligar essa produção”. Segundo Danielle, mulheres já representam metade dos mestres cervejeiros da empresa.