Depois de dois anos de operação, a Apprenty encerrou suas atividades. Fundada em 2022 por Marcela Teixeira, Mariane Tonello e Guilherme Antunes, a startup surgiu como uma plataforma de ensino técnico online voltada para a preparação de jovens para o mercado de trabalho. Em 2024, a empresa se reposicionou, passando a oferecer soluções para a gestão de colaboradores. No entanto, os planos não avançaram conforme esperado.
“Depois de dois anos e meio, altos e baixos, erros e aprendizados, decidimos encerrar a Apprenty”, escreveu a cofundadora Marcela Teixeira no LinkedIn. “Na Apprenty, vivemos momentos incríveis e também enfrentamos muitas dificuldades que nos ensinaram muito”, acrescentou.
Com cerca de um ano de operação, a Apprenty levantou R$ 8 milhões em uma rodada pré-seed liderada pela Canary, com participação de Latitud Ventures, Positive Ventures, Potência Ventures e investidores-anjo de startups como Loft, iFood e Gympass.
Após a pivotagem, a nova estratégia da Apprenty passou a integrar inteligência artificial e gamificação para melhorar a produtividade, o engajamento e a retenção de colaboradores operacionais, como vendedores de loja, atendentes de fast-food, trabalhadores em fábricas e operadores logísticos. No entanto, a mudança de foco trouxe novos desafios.
O que aconteceu
Na última terça-feira (14), Marcela Teixeira compartilhou no LinkedIn os principais erros e aprendizados da jornada, com o intuito de ajudar outros empreendedores.
“Em 2022, nos unimos com o objetivo de resolver um problema que acreditávamos estar sendo ignorado: a formação técnica e a inclusão de jovens no mercado de trabalho. Realizamos um processo longo de discovery e desenvolvemos uma POC gratuita, que interpretamos como validação suficiente para seguir em frente. Cheios de entusiasmo pelo futuro, cometemos nosso primeiro erro: confiar em uma validação superficial e investir todas as fichas antes de ter uma compreensão clara da dor e do mercado”, explicou Marcela.
Com o capital da rodada pré-seed em mãos, os sócios acreditavam estar prontos para impulsionar o crescimento da Apprenty. Porém, ao longo de 2024, enfrentaram uma série de desafios, incluindo obstáculos regulatórios, falhas na estratégia de go-to-market, dificuldades no desenvolvimento do produto, baixa demanda pelo que era oferecido e desalinhamentos internos.
“Iniciamos 2024 repletos de incertezas. Sabíamos que era necessário pivotar, e um dos cofundadores decidiu deixar a empresa. Após um novo período de discovery, e sempre com a preocupação sobre o impacto da nossa solução, optamos por desenvolver um produto focado no engajamento de colaboradores operacionais, utilizando gamificação e inteligência artificial”, disse.
Buscando corrigir o erro inicial, a startup validou a ideia vendendo o produto antes mesmo de desenvolvê-lo. “Ainda que essas vendas iniciais tenham acontecido rapidamente, o que nos deu muita confiança sobre o produto que estávamos oferecendo, enfrentamos novamente dificuldades significativas, como desafios no go-to-market, obstáculos na construção do produto e uma velocidade de crescimento abaixo do esperado”, explicou Marcela.
No quarto trimestre de 2024, foi preciso encarar a realidade: não havia sinais concretos de PMF e tração para o produto. “Apesar de acreditarmos que as vendas B2B poderiam se tornar mais fáceis com os cases de sucesso que estávamos construindo, era improvável que atingíssemos o ritmo de crescimento necessário para justificar novas rodadas de investimento no curto prazo. E o caminho até o breakeven e um eventual exit parecia muito longo e incerto”, reconheceu.
Maiores aprendizados
Como lições, Marcela destacou a importância de ir além do discovery, priorizando validações baseadas em vendas reais e evitando provas de conceito (POCs) gratuitas. Outro aprendizado foi evitar a criação de uma infraestrutura cara e complexa antes do momento adequado, optando por processos mais simples, ágeis e econômicos até que houvesse demanda suficiente para justificar investimentos maiores.
“Quem tenta vender para todos, acaba não vendendo bem para ninguém. Inicialmente, acreditávamos que escolher um setor ou nicho para focar o produto limitava o número de clientes potenciais, mas, na prática, foi justamente o contrário. Não conseguimos identificar nosso ICP e por isso não nos aprofundamos no entendimento da dor e necessidades, além disso não sabíamos quais canais de aquisição eram bons para nós, tornando o processo de venda bem difícil”, disse Marcela.
Ela também atenta para startups que captam mais recursos do que realmente precisam. “Captamos uma quantia significativa de investimento antes de validar adequadamente a dor e o mercado, o que na minha visão, acabou nos atrapalhando mais do que ajudando. Contratamos pessoas, construímos estruturas de produto e acabamos gastando tempo com coisas que não eram as mais importantes naquele momento. Antes da hora certa, pode acabar desviando a atenção de objetivos mais imediatos e fundamentais”, avaliou.
A cofundadora Mariane Tonello também compartilhou aprendizados valiosos adquiridos ao longo da jornada empreendedora. Em um post no LinkedIn, ela reforçou os pontos levantados por Marcela e destacou a relevância da distribuição para o sucesso do negócio. “Nossa solução tinha um impacto claro nos clientes e isso nos animava. Por outro lado, a gente sempre sofreu com a distribuição. Entendemos que apesar de ter um produto que, sim, era útil, talvez a distribuição seria um fator limitante para construir algo do tamanho que a gente queria”, pontuou.